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'Mank', de David Fincher, aposta no passado para trilhar caminho ao Oscar

Filme mostra os bastidores de 'Cidadão Kane' e tem Gary Oldman e Lily Collins no elenco

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São Paulo

“Não ultrapasse”, diz uma placa presa a uma grande cerca. A câmera sobe devagar e revela o que ela guarda —um palacete imponente, cercado por jaulas de zoológico, gôndolas venezianas e outras excentricidades que dão o tom de mistério e grandiosidade de “Cidadão Kane”.

Para o público, o lar do magnata da mídia que serve de protagonista do filme, Charles Foster Kane, parece altamente improvável e fantasioso, desconectado da vida real. Mas não é bem assim. Aquele cenário de luxo decadente tem raízes verídicas, e é justamente nessa fronteira onde realidade e ficção se misturam que “Mank” opera.

Com estreia agora na Netflix, depois de uma rápida passagem por alguns cinemas, o novo longa de David Fincher —de “A Rede Social” e “Garota Exemplar”— acompanha o processo de escrita de “Cidadão Kane”, muito antes de o filme ser alçado ao status de obra-prima do cinema americano.

O público trafega pela Hollywood dos anos dourados junto ao roteirista Herman Mankiewicz, vivido por Gary Oldman. O filme revela a tensão dos bastidores —em especial no relacionamento de seu protagonista com o cineasta Orson Welles— e serve de janela para a vida de William Randolph Hearst, empresário que inspirou a trama. Sim, ele também tinha animais selvagens rodeando sua mansão.

Filmado em preto e branco e com som mono —captado e reproduzido por um único canal, à moda antiga—, “Mank” vem sendo aclamado pela crítica. O consenso é que a Netflix tem nas mãos um forte candidato às principais categorias do Oscar. Ao lado do elogiado Oldman, surgem os rostos de Charles Dance, Amanda Seyfried e Lily Collins.

“Você não vai para a temporada de premiações com expectativas”, brinca esta última atriz ao falar dos termômetros para o próximo Oscar. “É definitivamente uma honra fazer parte de algo como esse filme, ao qual tanta gente está reagindo de forma positiva, seja público ou crítica. Mas quando você termina o seu trabalho como ator, você deixa as coisas fluírem.”

Collins interpreta, em “Mank”, Rita Alexander, datilógrafa que digita “Cidadão Kane” enquanto Mankiewicz, acamado por causa de um acidente, o dita. Jovem, britânica e astuta, ela passa boa parte do longa dando sermão e ajudando o roteirista.

“Eu acredito que se a Rita não estivesse lá para ajudar e encorajar o Mankiewicz, ele talvez não tivesse terminado o roteiro. Eu não sei se ela inspirou algo da história de ‘Cidadão Kane’, mas acho que se ela não tivesse o motivado criativamente e o responsabilizado, ele não teria enfrentado seus demônios internos”, diz.

Isso porque enquanto escreve sua obra-prima, Mankiewicz luta contra o ócio, o alcoolismo e uma profunda fadiga em relação à superficialidade e aos excessos dos grandes estúdios. É ao olhar para sua experiência nesse meio —graças a vários flashbacks— que ele vai dando forma ao roteiro de “Cidadão Kane”.

Collins conta que, para promover uma verdadeira imersão na narrativa, o diretor David Fincher recorreu a diversas técnicas do passado, que fazem de “Mank” um filme anacrônico. Além do preto e branco e do som mono, o elenco foi orientado a atuar da maneira como se fazia nos anos 1930 e 1940 —com expressões e falas exageradas, sem a sutileza de hoje.

“Os filmes naquela época eram muito diferentes. Os atores e as atrizes atuavam de uma outra maneira e o David queria que ‘Mank’ parecesse genuinamente daquele período. Existia um desejo de aperfeiçoar o que estaria nas telas naquela época, mas também uma necessidade de não alienar o público, de o convidar a experimentar o filme de uma nova forma”, afirma a atriz.

As caras e bocas de Collins em “Mank” são quase tão intensas quanto as que ela faz na série “Emily em Paris” —que, mesmo se passando no mundo contemporâneo, tem como protagonista uma jovem bem extrovertida e exagerada, o oposto da datilógrafa Rita Alexander.

A série também está na Netflix e se tornou um fenômeno mundial, com uma segunda temporada já confirmada. Foi difícil para Collins conseguir fazer parte de dois projetos tão grandes, com estreias tão próximas. Ela conta que, por algum tempo, precisou pegar voos todo fim de semana, para estar em Los Angeles para os ensaios de “Mank” e, na segunda-feira, de volta à capital francesa para gravar “Emily em Paris”.

“Foi ótimo poder trabalhar com David Fincher e com Darren Star, dois gênios em criar mundos de escapismo de maneiras bem diferentes, a partir de personagens tão interessantes e expressivos”, diz a atriz sobre o diretor de “Mank” e o criador de “Emily em Paris”.

“Tanto a Rita quanto a Emily são mulheres que não têm medo de serem vulneráveis, ao mesmo tempo em que são uma bússola moral de suas histórias e que aproximam o público delas. A Emily se muda dos Estados Unidos para a França e leva o espectador com ela. A Rita permite que o público dê um chacoalhão em Mank. Sem elas, os personagens ao redor provavelmente continuariam vivendo em sua bolha, sem ter alguém para motivar uma mudança."

Mank

Avaliação:
  • Quando: Estreia nesta sexta (4), na Netflix
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Gary Oldman, Lily Collins, Amanda Seyfried e Charles Dance
  • Produção: EUA, 2020
  • Direção: David Fincher

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