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Livro 'A Estrangeira' se beneficia da dúvida entre a ficção e a autobiografia

Romance de Claudia Durastanti surpreende pela maturidade e rende comparações com Natalia Ginzburg e Joan Didion

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Fabiane Secches

Psicanalista, crítica literária e pesquisadora de literatura na USP

A Estrangeira

Avaliação: Ótimo
  • Preço: R$ 64,90 (256 págs.); R$ 39 (ebook)
  • Autoria: Claudia Durastanti
  • Editora: Todavia
  • Tradução: Francesca Cricelli

Uma das tendências do romance contemporâneo é o flerte com a autobiografia, a dobra que se faz entre os limites dos campos da ficção e da não ficção.

Na era das fake news e da tal pós-verdade, esses conceitos de fato nunca estiveram tão confusos. Mas se há um espaço que pode se beneficiar dessa mistura é a arte. Em “A Estrangeira”, romance de Claudia Durastanti, tudo se apresenta como enigma, a começar pela dúvida sobre esse livro ser mesmo um romance.

A ficha catalográfica diz que sim. Mas sabemos que classificações são sempre insuficientes. Os capítulos desse romance também poderiam ser lidos como ensaios ou contos, e o conjunto da obra, como uma autobiografia romanceada.

Faça sua escolha, se precisar. Ou sustentemos a dúvida —a boa dúvida— que a literatura de Durastanti tem a oferecer.

A escritora Claudia Durastanti, autora de 'A Estrangeira' - Divulgação

“Minha mãe e meu pai se conheceram no dia em que ele tentou se jogar da ponte Sisto, em Trastevere.” Assim, a autora inicia a narrativa. O capítulo nomeado “Mitologia” busca uma espécie de origem anterior à sua própria existência e escolhe como ponto de partida esse episódio digno dos mitos clássicos.

Descobrimos ainda que o cruzamento dos caminhos fez não apenas com que a mãe salvasse a vida do pai, como também promoveu o encontro de duas pessoas surdas. Pense na probabilidade de isso acontecer numa cidade do tamanho de Roma.

Desde as primeiras linhas, ela nos conduz com sua escrita segura, que soa precisa e honesta, mas também sempre bem cuidada, autoconsciente da forma, e vai nos enovelando na história.

O estilo de Durastanti tem sido comparado ao da italiana Natalia Ginzburg misturado ao da americana Joan Didion, e podemos pensar em ambas como suas conterrâneas. Pois, assim como é difícil definir a que gênero esse livro pertence, também é um pouco complicado falar da nacionalidade da autora.

Nascida em Nova York, em 1984, ela é filha de pais italianos e se mudou para a Itália ainda na infância. Atualmente, a autora vive em Londres.

A editora Todavia convidou a poeta e tradutora Francesca Cricelli para a versão. Ela, que nasceu no Brasil, se mudou para a Itália aos nove anos, mais ou menos a mesma idade com que Durastanti foi para lá. Viveu ainda na Malásia, na Espanha e na Índia. Agora, perto dos 40, mora na Islândia.

Mais do que pelo conhecimento dos idiomas envolvidos, Cricelli parece ter sido o par perfeito da autora, talvez porque compartilhem uma intimidade profunda —a condição de estrangeira.

Um pouco como Durastanti escreveu sobre seus pais —“Apesar do fim do casamento, ela nunca se arrependeu de tê-lo afastado daquela ponte: ele era surdo, ela também, a relação deles tinha algo mais profundo e íntimo do que o amor”—, essa relação entre autora e tradutora resultou em belíssimo trabalho.

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