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Livros América Latina

Sara Gallardo, incrível autora argentina, é alvo de resgate e sai no Brasil

'Eisejuaz', a história de um índio confuso com a própria espiritualidade, chega ao país 50 anos depois de lançado

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Eisejuaz

Avaliação:
  • Preço: R$ 55,90 (230 págs.)
  • Autoria: Sara Gallardo
  • Editora: Relicário
  • Tradução: Mariana Sanchez

Sara Gallardo é uma das incríveis escritoras argentinas dos anos 1950 cuja obra vem sendo resgatada em seu país –e, em alguns casos, descoberta pela primeira vez no exterior.

Dessa luminosa geração, faziam parte Silvina Bullrich, Marta Lynch e Beatriz Guido, que eram mais conhecidas, e Silvina Ocampo e Gallardo, cuja trajetória foi mais discreta em seu tempo, mas que agora vêm sendo lidas por uma nova geração e tendo seus livros reeditados.

Tanto que "Eisejuaz", de 1971, havia sido relançado recentemente, em 2017, pelo selo local El Cuenco del Plata, conhecido por resgatar pérolas da literatura argentina. Agora, é publicada no Brasil com uma introdução do escritor Martín Kohan.

A escritora argentina Sara Gallardo em foto sem data - Divulgação

Curto e ousado, o romance traz a voz lacônica e muito particular de um indígena mataco, do norte do país, que fala em frases curtas, às vezes bruscamente interrompidas. Crê que está dialogando com Deus, busca sua santidade, mas ao mesmo tempo questiona o Deus dos colonizadores. Um personagem que parece a princípio um tanto amalucado, mas que é o recurso encontrado por Gallardo para trabalhar artesanalmente uma linguagem literária local e inédita.

Por causa do experimentalismo com a linguagem oral que encontrou na província de Salta, e especialmente encantada com seus silêncios e as pausas da mesma, Gallardo os transpôs para a obra e com isso foi comparada ao mexicano Juan Rulfo.

Há, também, uma influência do "criollismo" do rio da Prata, um estilo consolidado no começo do século 20, que busca um resgate do mundo rural ancestral, assim como a sua cosmogonia.

Eisejuaz ouve a Deus enquanto trabalha, lavando copos num hotel, ou caminhando até sua casa, onde está um homem moribundo, que ele salva e despreza ao mesmo tempo. Eisejuaz crê que está "na segunda parte de sua vida", e a caminho de algo importante.

Talvez o fato de Gallardo ter ficado um pouco esquecida tenha a ver com a impossibilidade de estampar nela um rótulo. Todos os seus livros são diferentes. Seu romance de estreia, "Enero", de 1958, trata do tema do aborto. E "Los Galgos, Los Galgos", de 1968, se passa também no campo, porém perto de Buenos Aires, e confronta personagens distintos que habitam a área rural e a cidade.

Gallardo gostava de explorar lugares e costumes linguísticos novos em seu próprio país e de viajar, o que dá a sua literatura um olhar de estrangeira, de observadora privilegiada. Seu circuito de interesses na Argentina não passa por Buenos Aires. Gosta do campo, vive um tempo em Córdoba, passa temporadas em Salta. Também viajou muito à Europa —Espanha, Suíça e Itália.

Da mesma forma como se entusiasmou por projetos literários diferentes, como os romances, os contos e a literatura infantil, também atuou como jornalista por muitos anos. Justamente num tempo em que o jornalismo argentino estava numa espécie de época de ouro, antes das últimas duas ditaduras militares do século 20, que acabaram expulsando do país tantos talentos.

Sua principal atuação foi na revista Confirmado, editada por Jacobo Timerman, importante editor de distintos meios na Argentina, perseguido pelos militares. Depois, também trabalhou na revista Atlántida e no jornal La Nación, mas foram as colunas de Confirmado em que afinou um olhar irônico para o mundo que a rodeava e para a sociedade portenha.

Vinda de uma família importante de Buenos Aires, talvez por isso mesmo jogasse uma mirada satírica a suas raízes, e mostrava a erudição que recebeu em casa. Era filha do historiador Guillermo Gallardo, neta do cientista Ángel Gallardo, bisneta do advogado e escritor Miguél Cané e tataraneta de Bartolomeu Mitre, um dos próceres da Argentina independente e fundador do jornal La Nación.

Morreu jovem, de asma, aos 57 anos. "Eisejuaz" é uma boa porta de entrada para sua obra.

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