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Descrição de chapéu The New York Times instagram

Por que artistas estão quase desistindo do Instagram após mudanças recentes

Algoritmo do aplicativo vem privilegiando vídeos contra imagens paradas, o que prejudica ilustradores e fotógrafos

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Kalley Huang
San Francisco | The New York Times

Alguns dos quadrinhos que Lee, 26 anos, postou no Instagram ilustraram histórias sobre mundos fantásticos; outros eram reflexões sobre sua experiência de vida como pessoa americana de origem coreana. Sem o aplicativo, Lee, que usa os pronomes elu/delu, diz que não estaria ilustrando graphic novels ou publicando livros ilustrados.

Mas hoje —sete anos, centenas de posts e dezenas de milhares de seguidores mais tarde—, sua relação com o Instagram esfriou. Não porque não precise mais da mídia social para divulgar sua arte, mas porque o aplicativo mudou tanto que parece ter deixado de acolher artistas visuais.

Para Lee, as mudanças no Instagram "têm sido prejudiciais aos artistas, especialmente os que produzem imagens paradas" em oposição a vídeos.

Emmen Ahmed, que tinha 18 mil seguidores no Instagram, com uma de suas pinturas em setembro - Mark Eric Trent/The New York Times

O Instagram foi fundado em 2010 como um site para compartilhar fotos, onde as pessoas podiam postar, aprimorar e exibir instantâneos de sua vida. O site virou destino de uma variedade infinita de imagens belas, bizarras, extravagantes e vibrantes —de comida, parques e tudo que se pode imaginar— que o converteram num dos principais repositórios visuais da internet.

Mas nos últimos anos o Instagram, que pertence à Meta, vem priorizando cada vez mais os vídeos. Introduziu os Reels, cenas curtas que têm a intenção de competir com o TikTok, e lançou recursos para incentivar pessoas a fazerem vídeos colaborativos.

Seus algoritmos parecem favorecer os vídeos em detrimento das fotos. No ano passado o diretor do Instagram, Adam Mosseri, disse que o site "não é mais um aplicativo de partilha de fotos".

Isso causa angústia em muitos usuários que usavam o aplicativo para compartilhar ilustrações, quadrinhos e outras imagens paradas com seus amigos e seguidores.

Em julho, depois de o Instagram introduzir atualizações para imitar os recursos de vídeo do TikTok, celebridades como Kylie Jenner e outros se rebelaram, declarando a intenção de "fazer o Instagram voltar a ser o Instagram". As reações negativas foram tão intensas que as mudanças foram revertidas temporariamente.

Para artistas que ganham a vida com a ajuda do Instagram, o movimento da plataforma em direção ao vídeo é mais uma ameaça existencial. Muitos deles são fotógrafos, ilustradores ou autores de graphic novels, e seu trabalho não se traduz facilmente para o formato de vídeo. Cada vez mais, estão descobrindo que a público no Instagram não está vendo seus posts, que seu crescimento na plataforma está estagnado e que seu raio de influência está encolhendo.

Alguns artistas jovens que poderiam ter se lançado no Instagram agora estão se aventurando em aplicativos limitados a usuários cadastrados, como VSCO e Glass. Outros estão explorando plataformas de orientação profissional, como Behance e LinkedIn, ou outros aplicativos de mídia social como Twitter e TikTok.

"Hoje o Twitter tem muito mais importância que o Instagram", diz Lee, que hoje investe a maior parte de sua energia na outra rede, onde é mais fácil discernir a repercussão boa ou não de um post.

Em comunicado, a Meta diz que se preocupa "profundamente com todos os criadores, incluindo artistas". A empresa do Vale do Silício, que está tentando atrair criadores de conteúdo dos rivais YouTube e TikTok, convidou alguns artistas a entrar para seus programas que pagam influenciadores para que utilizem seus produtos.

Mas Lee, convidado recentemente pelo Instagram para receber um bônus por postar Reels, diz que os incentivos "são ainda menos confiáveis que a ilustração como freelancer". Mesmo que seus Reels fossem visualizados 11 milhões de vezes em um mês, afirma, a Meta só lhe pagaria US$ 1.200, cerca de R$ 6.100.

Quando concluiu a universidade, em 2019, Maddy Mueller, de 25 anos, que ilustra infográficos e pinta panos de fundo para animações, sabia que teria que fazer sua própria divulgação nas redes sociais. Ela entrou para o Instagram para postar seu trabalho.

Mas tentar atrair atenção para sua arte no aplicativo em pouco tempo converteu-se numa batalha árdua contra o algoritmo. Mueller diz que frequentemente lhe parecia que o número de hashtags num post, ou o horário em que tinha sido postado, faziam mais diferença que o conteúdo real.

Para ganhar exposição para seu trabalho no Instagram, ela começou a animar suas pinturas, idealizadas para serem imagens paradas. A ideia era fazer com que seus posts fossem tratados como vídeos. A obrigação de promover sua arte lhe dava menos tempo para criar, ela contou.

No ano passado, começou a concentrar sua atenção no Twitter, onde descobriu uma comunidade crescente de artistas. Foi convidada a ilustrar zines, entrou para grupos reservados no Discord que compartilhavam oportunidades profissionais e aumentou seu número de seguidores através de eventos com hashtags, em que artistas tuitavam e compartilhavam conteúdos como #PortfolioDay e #VisibleWomen.

Mueller agora tem quase 5.000 seguidores no Twitter, contra cerca de mil no Instagram. Ela conta que depois de ter a experiência da comunidade e do crescimento do Twitter, quase desistiu do Instagram.

Para Chad Beckerman, diretor de arte e agente da CAT Agency, que representa ilustradores de livros infantis, os novos recursos do Instagram tornaram a plataforma um lugar mais difícil para encontrar ilustradores dispostos a prestar serviços.

Antigamente era fácil buscar artistas no app e ver seu trabalho, ele conta, mas hoje a plataforma está congestionada com posts irrelevantes, Reels e Stories, recurso que as pessoas usam para postar fotos e vídeos que desaparecem em 24 horas.

O algoritmo "não busca a qualidade", diz Beckerman. "Acho que o algoritmo não dá a mínima para como é o trabalho da pessoa."

Tradução Clara Allain

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