Seis razões pelas quais a Meta enfrenta dificuldades

Mudanças de privacidade na Apple, ascensão do Tiktok e regulação nos EUA trazem resultados frustantes à empresa

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Mike Isaac
San Francisco | The New York Times

A Meta, antes conhecida como Facebook, sofreu sua maior lavada em um dia na quinta-feira (3), quando suas ações despencaram 26%, fazendo a empresa perder mais de US$ 250 bilhões (R$ 1,3 trilhão) em valor de mercado.

A queda ocorreu após um relatório de lucros sombrio na quarta (2), quando seu fundador, Mark Zuckerberg, explicou que a empresa está navegando numa transição complicada das redes sociais para o mundo virtual do chamado "metaverso". Na quinta, um porta-voz da companhia reiterou as declarações de seu anúncio de ganhos e não quis comentar mais.

Aqui estão seis razões pelas quais a Meta está numa situação difícil.

Logos em 3D do Facebook e da Meta em cima de teclado de notebook - Dado Ruvic - 2.nov.2021/Reuters

O crescimento de usuários atingiu um teto

Os dias de enorme aumento de usuários do Facebook acabaram.

Embora a empresa tenha registrado na quarta-feira ganhos modestos em novos usuários em sua "família" de aplicativos —que inclui Instagram, Messenger e WhatsApp—, seu principal app de rede social, o Facebook, perdeu cerca de 500 mil usuários no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior.

É o primeiro declínio desse tipo para a companhia em seus 18 anos de história, período em que ela praticamente foi definida por sua capacidade de atrair novos usuários.

Os investidores provavelmente vão examinar agora se os outros aplicativos da Meta, como o Instagram, estarão chegando ao pico do crescimento de usuários.

Mudanças na Apple estão limitando a Meta

Na primavera passada, a Apple introduziu em seu sistema operacional para celular a atualização "Transparência no rastreamento de aplicativos", essencialmente dando aos proprietários de iPhones a opção de permitir ou não que aplicativos como o Facebook monitorem suas atividades online. Essas medidas de privacidade prejudicaram os negócios da Meta e provavelmente continuarão prejudicando.

Agora que o Facebook e outros aplicativos devem pedir explicitamente às pessoas permissão para rastrear seu comportamento, muitos usuários optaram por não aceitar. Isso significa menos dados de usuários para o Facebook, o que dificulta a segmentação de publicidade —uma das principais formas de faturamento da empresa.

Duplamente problemático é que os usuários do iPhone são um mercado muito mais lucrativo para os anunciantes do Facebook do que, por exemplo, os de aplicativos Android. As pessoas que usam iPhones para acessar a internet normalmente gastam mais em produtos e aplicativos que lhes são oferecidos a partir de anúncios para celular.

A Meta disse na quarta-feira que as mudanças da Apple custariam US$ 10 bilhões (R$ 53,3 bilhões) em receitas no próximo ano.

A empresa criticou as mudanças da Apple e disse que elas são ruins para pequenas firmas que dependem de publicidade na rede social para alcançar os clientes. Mas é improvável que a Apple reverta suas mudanças de privacidade, e os acionistas da Meta sabem disso.

O Google está roubando participação na publicidade online

Os problemas da Meta têm sido a boa sorte de suas concorrentes.

Na quarta-feira, David Wehner, diretor-financeiro da Meta, observou que, como as mudanças na Apple deram aos anunciantes menos visibilidade do comportamento dos usuários, muitos começaram a migrar seus orçamentos de publicidade para outras plataformas. Ou seja, Google.

Na teleconferência de resultados do Google nesta semana, a empresa registrou vendas recordes, principalmente em anúncios de comércio eletrônico nas buscas do site. Essa foi a mesma categoria que falhou na Meta nos últimos três meses de 2021.

Ao contrário da Meta, o Google não depende muito da Apple para dados do usuário. Wehner disse que é provável que o Google tenha "muito mais dados de terceiros para fins de medição e otimização" do que a plataforma de anúncios da Meta.

Wehner também mencionou o acordo do Google para ser o mecanismo de busca padrão do navegador Safari da Apple. Isso significa que os anúncios de buscas no Google tendem a aparecer em mais lugares, recebendo mais dados que podem ser úteis para os anunciantes. Esse é um grande problema para a Meta em longo prazo, especialmente se mais anunciantes mudarem para anúncios em buscas no Google.

TikTok e Reels representam um enigma

Há mais de um ano, Zuckerberg vem indicando que inimigo formidável é o TikTok. O aplicativo apoiado pela China cresceu para mais de 1 bilhão de usuários com suas postagens de vídeos curtos altamente compartilháveis e estranhamente viciantes. E está competindo ferozmente por atenção com o Instagram, da Meta.

A Meta clonou o TikTok com uma função de vídeo chamada Reels, no Instagram. Zuckerberg disse na quarta-feira que os Reels, que são colocados em destaque nas páginas do Instagram das pessoas, é atualmente o maior promotor de engajamento no aplicativo.

O problema é que, embora os Reels possam atrair usuários, eles não ganham dinheiro tão efetivamente quanto os outros recursos do Instagram, como stories e o feed principal. É mais demorado ganhar dinheiro com anúncios em vídeo, porque as pessoas tendem a ignorá-los. Isso significa que quanto mais o Instagram empurrar as pessoas para usar Reels, menos dinheiro ele poderá ganhar com esses usuários.

Gastar no metaverso é maluquice

Zuckerberg acredita tanto que a próxima geração da internet é o metaverso —conceito ainda nebuloso e teórico, que envolve pessoas se movendo em diferentes mundos de realidade virtual e aumentada— que ele está disposto a gastar muito com isso.

Tanto que os gastos somaram mais de US$ 10 bilhões no ano passado. Zuckerberg espera gastar ainda mais no futuro.

No entanto, não há evidências de que a aposta será recompensada.

O espectro do antitruste se aproxima

A ameaça de reguladores em Washington virem atrás da empresa de Zuckerberg é uma dor de cabeça que simplesmente não passa.

A Meta enfrenta várias investigações, inclusive de uma Comissão Federal de Comércio hoje mais agressiva e de vários procuradores estaduais, sobre se atuou de forma anticompetitiva. Os legisladores também se uniram em torno dos esforços do Congresso para aprovar leis antitruste.

Zuckerberg argumentou que a Meta não é um monopólio de rede social. Ele apontou furiosamente para o que chama de "níveis de competição sem precedentes", incluindo TikTok, Apple, Google e futuros oponentes.

Mas a ameaça de ação antitruste tornou mais difícil para a Meta comprar seu caminho para novas tendências de redes sociais.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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