Siga a folha

Descrição de chapéu
Livros

Erotismo de Marosa di Giorgio delira em desejo e horror pelo estranho

Literatura da uruguaia chega ao Brasil tarde com 'Rosa Mística', parte de um universo que vê a vida sexual além da copulação

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Priscilla Campos

Editora e pesquisadora, faz doutorado na Universidade de São Paulo

Para estabelecer contato com a obra da escritora uruguaia Marosa di Giorgio é necessário que o leitor esteja disposto à visão de um álbum de família delirante, formado por imagens que oscilam entre mariposas, jardins, animais diversos, monstros, diabos, mulheres que põem ovos e crianças que voam.

A escritora uruguaia Marosa di Giorgio, que lança 'Rosa Mística' - Arquivo pessoal/Divulgação

Nascida em 1932 na cidade de Salto, a cerca de 500 quilômetros da capital Montevidéu, Marosa foi escritora, performer, atriz e funcionária da prefeitura local. Depois de décadas, sua obra chega enfim ao Brasil, com a publicação de "Rosa Mística - Contos Eróticos" pela Carambaia, com tradução de Josely Vianna Baptista.

Seu primeiro livro, "Poemas", foi publicado em 1953 em uma edição de autor, sem índice nem capa. Dali em diante, a autora publicou mais de 15 livros, até 2003, um ano antes de sua morte, quando foi lançado este "Rosa Mística".

De família de imigrantes italianos, a autora se tornou uma das figuras literárias mais importantes do país, criando um universo onírico, misterioso e surrealista, que atravessa não só a sua obra como também os registros de sua vida pública.

Quando pesquisamos o seu nome no YouTube, por exemplo, um dos primeiros vídeos é o da leitura que aconteceu no 7º Festival Internacional de Poesia de Medellín, na Colômbia, em 1997, quando Marosa se apresentou acompanhada da imagem de uma espécie de lagarto em movimento.

A escritora foi muito chamada de esquisita por insistir em uma estética que nada mais era do que a extensão de sua obra. Nesse sentido, é importante ressaltar que o crítico uruguaio Ángel Rama a posicionou junto a outros autores uruguaios tidos como "raros" —o que se traduz como "esquisito" ou "estranho".

Mas hoje essa ideia foi atualizada por pesquisadores como Valentina Livtan e Javier Uriarte, com o intuito de compreender o "raro" como um adjetivo ligado à etimologia greco-latina da palavra: distância. Dessa forma, Marosa é uma autora rara porque se desloca e permanece em espaços instáveis, selvagens, longe da razão.

"Rosa Mística" é composto pela reunião de histórias curtas chamada "Lúminile" e pelo conto do título, textos nos quais o erotismo —presente na obra de Marosa desde o início— é um tipo de explosão que se divide entre a criação poética, a violência e os atravessamentos do corpo.

Mas, afinal, de qual corpo estamos falando? Não se tem certeza da idade da protagonista, mas é uma mulher pronta para a "escalada da violência" em "paralelo à alta voltagem do absurdo", como escreve a professora Eliane Robert Moraes no posfácio que acompanha a edição.

A presença do masculino na narrativa está atrelada não só ao sexo, mas também à ligação divina que costura os relatos: a presença do catolicismo como a conveniência religiosa perfeita para condução do erotismo.

Em um dos trechos, a protagonista afirma: "Mesmo sendo tão pequena, preciso deles (os homens). Do contrário, não consigo viver. Não consigo chegar a Deus". De certa maneira, existe uma consagração que só se faz nas bordas do sagrado e do profano, e é sobre esse espaço que Marosa se detém em seus relatos eróticos.

Mas é importante sublinhar que a copulação e a vida sexual, em "Rosa Mística", não se resumem às tensões entre o feminino e masculino —as ações eróticas acontecem entre humanos e animais, seres híbridos, e está nas figurações das plantas, da paisagem, dos diálogos.

O erotismo se torna a névoa que não cessa e se desenha no texto, deixando um tipo de desnorteamento em leitores que insistem em procurar por imagens eróticas costumeiras em seu repertório.

No gesto de sua escrita, Marosa aplica uma certa desistência do mundo e do que é visível, e fica à distância para poder contar os segredos de um mundo onde cada cena se dilui em horror e desejo numa justaposição alucinante.

Rosa Mística – Contos Eróticos

Avaliação:
  • Preço: R$ 86,90 (265 págs.); R$ 59,90 (ebook)
  • Autoria: Marosa di Giorgio
  • Editora: Carambaia
  • Tradução: Josely Vianna Baptista

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas