Siga a folha

Descrição de chapéu Coronavírus

Bolsa brasileira tem pior semana desde crise econômica de 2008

Ibovespa acumula queda de 15,6% no período; dólar vai a R$ 4,828

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Mesmo com a forte recuperação do Ibovespa nesta sexta-feira (13), a Bolsa brasileira registrou a pior semana desde a crise financeira de 2008.

Desde segunda (9), o índice se desvalorizou 15,63% e terminou cotado a 82.677 pontos, o menor patamar desde as eleições de 2018 que levaram Jair Bolsonaro à Presidência.

Segundo dados da Economatica, a perda de valor de todas as 285 empresas listadas na Bolsa brasileira na semana é recorde. Foram R$ 593 bilhões a menos nesta semana contra R$ 534 bilhões, valor corrigido pela inflação, na semana de 6 a 10 de outubro de 2008, quando o índice acumulou 20% de queda.

Juntas, as empresas valem, agora, R$ 3,4 trilhões. No começo do ano, eram quase R$ 5 trilhões.

A semana, marcada pela aversão a risco frente aos impactos econômicos do coronavírus, também foi uma das mais voláteis da história. Nesta sexta, o Ibovespa chegou a subir 15,4% na abertura e operar perto da estabilidade por volta das 12h30.

O índice, contudo, voltou a ganhar força à tarde e fechou em alta de 13,90%. Na véspera, ele despencou 14,8% depois de dois circuit breakersparalisação das negociações em quedas acentuadas, na pior queda diária desde 1998, ano marcado pela crise russa.

Ibovespa tem pior semana desde a crise financeira de 2008 - Xinhua/Wang Ying

“As pessoas aproveitaram para comprar coisas barata logo cedo, mas muitos embolsaram ganhos. Quem vai querer terminar o pregão posicionado hoje sem saber o que acontece sábado ou domingo? Melhor dormir tranquilo”, afirma Henrique Esteter, analista da Guide. ​

Analistas apontam que a mínima do índice nesta sexta se deve à notícia da Fox News de que Bolsonaro teria testado positivo para o coronavírus. A informação foi negada pelo presidente.

“Estamos enfrentando três fatores: a crise econômica, com dados e economia fracos, uma crise política, com conflitos entre o Congresso e equipe econômica atual e, agora, o coronavírus e a interrupção de atividades. Somamos a isso o clima de aversão global e temos o câmbio estressado”, diz Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.

Na última semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) trocaram provocações acerca da responsabilidade sobre medidas para amenizar os efeitos econômicos do coronavírus. Segundo Guedes, no pior dos cenários, a economia brasileira pode crescer apenas 1% em 2020 devido a doença.

Na quarta, o Congresso impôs derrota ao governo Bolsonaro ao derrubar veto do presidente e ampliar o número de famílias atendidas pelo BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a quem está em situação de extrema pobreza.

A medida aumenta o gasto do governo em R$ 20 bilhões por ano e coloca em xeque a sustentabilidade do teto de gastos, considerado essencial pelo mercado financeiro para deter a trajetória de endividamento do governo.

Nesta sexta, o dólar subiu 1%, a R$ 4,828, novo recorde nominal (sem contar a inflação). Na máxima do dia, a moeda foi a R$ 4,879. O dólar turismo está a R$ 5 na venda. Em casas de câmbio, é vendido acima desse patamar.

Na sessão, o Banco Central (BC) vendeu US$ 2 bilhões em leilão de linha —venda com compromisso de recompra.

Desde segunda, o BC vendeu US$ 7,245 bilhões à vista e injetou US$ 10,5 bilhões via contratos de swap cambial tradicional, que remuneram o investidor pela variação cambial. As medidas ajudam a conter a alta da moeda e injetar liquidez no mercado.

Na semana, em que a cotação do dólar comercial superou os R$ 5 pela primeira vez na história durante o pregão, a moeda americana acumula alta de 4%. Essa é a maior valorização semanal desde novembro de 2019, quando Lula saiu da prisão em Curitiba, e Estados Unidos e China estavam em conflito pela guerra comercial entre os países. ​

Nos últimos dias, o dólar e o Ibovespa também acompanharam movimentos globais. Com uma maior confiança na economia americana, o dólar ganhou força ante a maior parte das divisas globais, como o euro e a libra.

Nesta sexta, o presidente americano Donald Trump declarou estado de emergência nos EUA, o que libera até US$ 50 bilhões em gastos para o governo. Ele também anunciou testes gratuitos para o coronavírus, que vão funcionar como um "drive thru", em que a pessoa não precisa sair do seu carro para que uma amostra seja recolhida.

Mais cedo, a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, disse que a casa iria aprovar medidas contra a crise do coronavírus, independente das negociações com o governo de Trump. Além do teste gratuito, democratas querem licença médica paga e maiores benefícios para os desempregados.

As medidas deixaram investidores mais confiantes. O rendimento do título do Tesouro americano disparou para 0,964% ao ano, maior patamar desde 4 de março. Dow Jones subiu 9,4%, S&P 500, 9,2% e Nasdaq, 9,3%.

Um rendimento maior do Tesouro é sinal de menor aversão a risco do mercado. Enquanto investidores estão mais confiantes e compram ações, muitos resgatam investimentos nesses títulos, que são mais seguros. O movimento faz o rendimento destes títulos subir.

Na Europa, o índice Stoxx 600, que reúne as maiores companhias da região, subiu 1,4%. Londres teve alta de 2,4%, Paris, 1,8% e Frankfurt, 0,7%.

O Petróleo também se recuperou. O barril do tipo Brent subiu 4,43%, a US% 34,69. A matéria-prima foi um catalisador das perdas desta semana depois que a tentativa da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de redução a produção, e aumentar o preço do óleo, foi frustrada pela Rússia.

Em resposta, a Arábia Saudita afirmou que aumentaria a oferta do combustível e reduziria o preço, o que fez a cotação desabar a níveis de 2016.

Com o cenário negativo, a Petrobras perdeu R$ 102,6 bilhões em valor de mercado na semana, a maior desvalorização da Bolsa brasileira, segundo dados da Economatica No ano a queda é de R$ 202,9 bilhões.

A empresa agora está no mesmo patamar de junho de 2018, antes da corrida eleitoral, com valor de R$ 204 bilhões. Nesta sexta, as ações preferenciais (mais negociadas) da companhia tiveram alta de 20%, a R$ 15,12. Na quinta, desabaram 20,5%.

Com a queda a estatal deixou de ser a empresa mais valiosa da América Latina, posto ocupado por Itaú, com R$ 252 bilhões em valor de mercado.

Também na quinta, Estados Unidos e Europa tiveram a maior queda diária desde a Segunda-Feira Negra, em 1987, quando o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, desabou 22,61%. A desvalorização veio depois que Trump proibiu a entrada nos EUA de estrangeiros que tenham passado na Europa nos últimos 14 dias.

A queda, contudo, foi amenizada pela injeção de US$ 1,5 trilhão em liquidez no mercado anunciada pelo Fed, banco central americano.

Com menor aversão a risco nesta sexta, o mercado voltou a precificar corte na Selic na próxima reunião do Copom. Segundo a curva de contratos de juros futuros, a redução deve ser de 0,25 ponto percentual, o que levaria a Selic para 4% ao ano.

O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Defautl Swap) de cinco anos, medida acompanhada pelo mercado financeiro para avaliar a capacidade de um país honrar suas dívidas, caiu 16,5%, a 258 pontos, maior patamar desde outubro de 2018, período marcado pelas eleições presidenciais.

Na véspera, ele saltou 42%, a segunda maior alta diária da história do índice, que surgiu em 2001.

No exterior, o CDS do Chile caiu 6,5% e o da Argentina, 37%, enquanto o da Turquia subiu 8,5%.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas