JBS recorre a blokchain para comprovar origem de gado na Amazônia
Maior frigorífico do planeta enfrenta pressão de investidores para demonstrar que seu gado não provém de terras desflorestadas ilegalmente
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O grupo JBS, o maior frigorífico do planeta, está recorrendo ao blockchain a fim de garantir que as dezenas de milhares de cabeças de gado que a empresa processa a cada dia no Brasil sejam rastreáveis, depois de sofrer intensa pressão de investidores e ativistas por seu histórico ambiental.
A empresa sediada em São Paulo há muito vem enfrentando críticas de organizações não governamentais por não fazer o suficiente para garantir que o gado proveniente de seus fornecedores indiretos –pecuaristas que fornecem animais aos provedores diretos do JBS– não está sendo criado em terras desflorestadas ilegalmente na Amazônia.
Mais recentemente, em meio à pressão internacional renovada sobre o governo brasileiro pela destruição cada vez maior da selva amazônica, a maior companhia do Brasil em termos de faturamento se tornou alvo de investidores, que ameaçaram retirar seu capital a menos que a companhia melhore suas normas de sustentabilidade.
Em julho, a Nordea Asset Management decidiu excluir as ações do JBS de seus fundos devido a preocupações ambientais. Analistas do banco HSBC também alertaram quanto a investir no grupo frigorífico, afirmando que este não tinha “plano de ação, tecnologia ou solução” para monitorar sua cadeia de suprimento de gado.
Na quarta-feira (23), porém, a JBS decidiu agir, com o anúncio de um registro digital que traçaria as origens de todo o seu rebanho. A companhia anunciou que, em prazo de cinco anos, seus fornecedores teriam de monitorar as cadeias de suprimento que os servem e garantir que disponham de documentação sobre as origens do gado.
A companhia acrescentou que o registro seria auditado por terceiros, e incluiria cláusulas de compartilhamento de informações para que os bancos brasileiros pudessem determinar se estão fazendo empréstimos a pecuaristas associados à destruição da selva amazônica.
“A nova plataforma oferecerá uma camada essencial de informações a fim de permitir que o gado seja rastreado durante toda a sua vida, e para garantir que gado de quaisquer produtores envolvidos em desflorestamento ilegal não possa ingressar na cadeia de suprimento da JBS”, a companhia anunciou na quarta-feira.
Os investidores receberam o desdobramento positivamente. "É claro que ainda resta muito a provar quanto ao impacto exato e ao cronograma dessa medida, mas ainda assim [ela] representa um passo à frente significativo”, disse Eric Pedersen, diretor de investimento responsável na Nordea Asset Management, que tem 223 bilhões de euros sob administração.
Jeanett Bergan, diretora de investimento responsável do KLP, o maior fundo de pensões da Noruega, elogiou o uso de “novas tecnologias... para levar adiante a agenda da sustentabilidade”, mas disse que guardaria “provas práticas detalhadas” sobre o sucesso da ideia.
Robert Muggah, cofundador do Instituto Igarapé, uma organização de pesquisa, acrescentou que a iniciativa requereria proficiência tecnológica para funcionar como pretendido.
“Os fornecedores indiretos no meio da Amazônia terão o acesso à internet, o hardware e o conhecimento digital necessários para administrar esse processo?”, ele questionou.
A adoção da tecnologia blockchain pela companhia brasileira se segue a iniciativas semelhantes nos Estados Unidos e Austrália, onde os pecuaristas estão mostrando cada vez mais atenção às preocupações dos consumidores sobre o impacto ambiental da indústria da carne.
“O uso do blockchain é excelente. É uma ótima tecnologia. Mas a questão importante é de onde virão os dados, e qual é a estrutura legal por trás dos dados sobre transações de gado que você estiver utilizando”, disse Petterson Vale, consultor de agricultura na Amazônia.
A despeito da crescente indignação quanto ao impacto das ações empresariais sobre o meio ambiente no Brasil, o grupo JBS teve um segundo trimestre recorde, superando a estatal de petróleo Petrobras para se tornar a maior companhia do Brasil por faturamento, com vendas de R$ 67,6 bilhões no segundo trimestre.
O grupo foi estimulado pela queda da moeda local, combinada à demanda sustentada por produtos durante a crise de Covid-19.
O papel da empresa nas cadeias mundiais de suprimento foi destacado terça-feira (22) nas Nações Unidas pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que disse que o setor de agronegócio de seu país estava “alimentando o mundo”, e que isso havia feito do Brasil um alvo de forças protecionistas no exterior.
Financial Times, tradução de Paulo Migliacci
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