Putin inaugura ponte que sela união da Rússia com a Crimeia
Região foi anexada da Ucrânia durante crise em 2014, e era isolada do território russo
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O presidente Vladimir Putin inaugurou nesta terça (15) uma bilionária ponte de 19 km ligando a península da Crimeia ao território continental russo, selando a união com a região que reabsorveu da Ucrânia em 2014.
"Quero agradecer ao talento de vocês por esse milagre", disse o presidente a trabalhadores após dirigir um caminhão laranja da marca russa Kamaz por toda a extensão da ponte da Crimeia, sobre o estreito de Kerch, segundo o serviço de imprensa do Kremlin.
A estrutura, já apelidada de ponte Putin, vai permitir uma ligação entre a província de Krasnodar, no sul da Rússia, e a isolada península, que só tem fronteira por terra com a Ucrânia —que a reclama como seu território. Ela tem faixas viárias e também para trens, que só serão abertas no fim do ano.
Quando estiver totalmente operacional, em 2019, terá capacidade para o transporte de 14 milhões de pessoas e 13 milhões de toneladas de produtos de lado a lado. Não que tal tráfego seja esperado: moram na Crimeia 2,3 milhões de pessoas, hoje abastecidos por meio de navios que cruzam o mar de Azov e aviões que pousam em Simferopol.
O que importa é o simbolismo. A Crimeia, um território historicamente russo, havia sido cedida à então república soviética da Ucrânia em 1954 pelo governo de Nikita Krushchov, que quis fazer um agrado à sua terra natal.
Após o fim da Guerra Fria, a Rússia viu a Ucrânia aproximar-se do Ocidente e namorar uma adesão à Otan, a aliança militar liderada pelos EUA. Geopoliticamente, isso é impensável em Moscou, dado que o país vizinho é o que separa suas fronteiras das tropas adversárias na Europa.
Em 2014, com apoio ocidental, um golpe derrubou o governo pró-Kremlin em Kiev. Ato contínuo, Moscou infiltrou militares e mercenários na Crimeia. Foi feito um plebiscito e, sem surpresa dada a maioria russa étnica da região, a secessão foi aprovada à revelia de Kiev.
A reabsorção não foi aceita em fóruns internacionais, onde é contestada pela Ucrânia. A ONU fez uma resolução dizendo que o plebiscito foi ilegal. Ao fim, a ação levou a uma série de sanções ocidentais contra o Kremlin. Na prática, como a nova ponte atesta, é um fato consumado.
A obra já havia sido tentada em 1943, quando os nazistas ocupavam a região, mas ficou inacabada com o avanço das tropas soviéticas. A ponte começou a ser construída em sua nova encarnação em 2016 pela construtora de Arkadi Rotenberg, um amigo do círculo íntimo de Putin, por exorbitantes 223 bilhões de rublos (R$ 13 bilhões no câmbio desta terça, 15).
Como esperado, os ucranianos não gostaram. "A construção ilegal da ponte é a mais recente evidência do desprezo do Kremlin pela lei internacional, e é particularmente cínico que a abertura ocorra às vésperas do aniversário da deportação do povo tatar da Crimeia pelo regime de [Josef] Stálin [ditador soviético]", disse o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, segundo o jornal "The Moscow Times".
O país já não aceitava trocar em casas de câmbio as novas notas de 200 rublos (R$ 11,7), que trazem imagens de marcos históricos da Crimeia.
Putin tem uma queda especial por pontes. Em 2012, inaugurou o maior modelo estaiado em Vladivostok (Extremo Oriente). Obra de 81bilhões de rublos (R$ 4,7 bilhões), ela liga o famoso porto à remota ilha Russki, onde foi construída uma universidade para estimular a integração e a inovação na região mais desabitada da Rússia.
Curiosamente, a ponte também adorna uma nova nota russa, a de 2.000 rublos (R$ 117). Só não se sabe se a sua irmã na Crimeia terá o mesmo destino que lhe coube: pouquíssimos automóveis, geralmente de fabricação dos vizinhos Japão e Coreia do Sul, cruzam a obra faraônica todos os dias.
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