Em carta a católicos, papa Francisco condena crimes sexuais na igreja
Pontífice pede ajuda de fiéis para acabar com a 'cultura do abuso'
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
O Vaticano divulgou nesta segunda-feira (20) uma carta do papa Francisco direcionada aos católicos em que o pontífice reconhece que abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica dos EUA foram acobertados.
É a primeira manifestação de Francisco desde a divulgação de relatório sobre abusos cometidos no estado da Pensilvânia, nos EUA, ao longo de décadas. Segundo o relatório ao menos "301 padres predadores" abusaram de mais de mil crianças. Na sexta-feira, o Vaticano soltou uma nota sobre o caso.
"Mostramos não ter nenhum cuidado com os pequeninos; os abandonamos", escreveu o papa.
“É essencial que nós, como igreja, sejamos capazes de reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades perpetradas pelas pessoas consagradas, clérigos e todos aqueles a quem confiamos a missão de zelar e cuidar dos mais vulneráveis", disse.
O papa afirmou que, embora a maioria dos casos nos EUA "pertençam ao passado", a igreja falhou em reconhecer a "magnitude e a gravidade do dano" causado. Afirmou ainda que "nenhum esforço será poupado "para impedir abusos e seu acobertamento".
Francisco pediu ainda que todos os católicos ajudem a igreja a "extirpar" a cultura do abuso "em nossas comunidades".
"Percebemos que essas feridas nunca desaparecem e que nos exigem que condenemos essas atrocidades e juntemos forças para extirpar essa cultura da morte", diz a carta.
"Tendo em conta o passado, o que se pode fazer para pedir perdão e reparar o dano causado nunca será suficiente. Tendo em conta o futuro, não se deve descuidar para promover uma cultura que não apenas assegure que tais situações não se reproduzam, mas que não possam encontrar o terreno propício para se ocultarem e se perpetuarem", afirmou ainda.
Ativistas ligados às vítimas de abuso sexual pela igreja expressaram desapontamento em relação à fala de Francisco.
"Mais ações, menos palavras", disse Anne Barrett-Doyle, co-diretora da BishopAccountability.org, centro americano que registra casos de abusos pela igreja ao redor do mundo.
"Ele precisa de um processo disciplinar eficaz para bispos e superiores religiosos que se sabe que permitiram os abusos", disse.
Mas, ao contrário da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, que se referiu apenas a "pecados e omissões" em resposta ao relatório da Pensilvânia, Francisco chamou os casos de "crimes".
Para o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, isso é significativo, bem como o chamado do pontífice pela responsabilidade, "o que, em muitos casos, significa os bispos".
Neste fim de semana, o papa visita a Irlanda, que também registrou ao longo das décadas casos de abuso por parte de padres e religiosos.
Margaret McGucki, do grupo irlandês Survivors & Victims of Institutional Abuse, disse que a carta "chegou tarde e com pouco, nada irá mudar".
O documento divulgado pela Suprema Corte da Pensilvânia na semana passada detalha 70 anos de conduta indevida de bispos, padres e outros integrantes. Os investigadores afirmam que os religiosos foram protegidos dentro da estrutura da igreja e, em alguns casos, promovidos.
O relatório também aponta que as dioceses seguiam uma espécie de cartilha não oficial para enterrar os casos e abafar escândalos. "O objetivo principal não era ajudar as crianças e sim evitar escândalo", afirmam os investigadores.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters