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Descrição de chapéu Venezuela

Venezuela escolhe ONU como palco de batalha contra 'neocolonialismo'

Para embaixador de Maduro, país luta uma segunda guerra de independência contra os EUA

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Nova York

Para o regime venezuelano, a ONU será o palco de batalha da segunda guerra pela independência da república bolivariana. Em vez de Espanha, o inimigo agora são os Estados Unidos e Juan Guaidó, a “marionete” escolhida pelo governo americano para se apropriar do petróleo venezuelano, afirma Samuel Moncada, embaixador do país nas Nações Unidas.

Mas, mesmo no organismo multilateral, é difícil atestar a quantas anda a popularidade do regime de Nicolás Maduro. A Venezuela exerce a Presidência rotativa do chamado Movimento dos Países Não Alinhados, que reúne 120 países em desenvolvimento —quase dois em três membros da ONU.

O embaixador venezuelano junto à ONU, Samuel Moncada - Divulgação/Ministério das Relações Exteriores da Venezuela

O grupo foi formado em 1961, auge da Guerra Fria, com o objetivo de reunir países que não se posicionavam a favor ou contra nenhuma das principais potências da época –Estados Unidos e União Soviética. 57 anos depois e uma potência a menos, os 120 países buscam outras batalhas para travar.

Nesta quinta (31), o grupo realizou mais uma reunião mensal, sob a presidência de Moncada, que usou o encontro para colocar os membros a par dos últimos acontecimentos envolvendo a situação venezuelana.

E são muitos. Só para citar alguns: há um segundo mandato de Maduro não reconhecido por atores-chave da comunidade internacional, entre eles EUA e Brasil; um presidente da Assembleia Nacional que se declara líder encarregado (Guaidó); sanções americanas contra a petrolífera PDVSA para pressionar o ditador, e a sempre permanente ameaça de intervenção militar combinada entre EUA e Colômbia.

Em entrevista à Folha, Moncada diz que a maior parte dos não alinhados respalda o regime de Maduro. Mas não todos. “Vou ser sincero. O movimento é variado, não são os 120. Há a Colômbia, por exemplo. Mas a grande maioria, sim. O Grupo de Lima não apoia. Mas fora o Grupo de Lima, não há mais ninguém.”

O Grupo de Lima é formado por 14 países que em sua maioria se opõem a Maduro, entre eles Brasil, Peru e Colômbia. O Brasil tem status de observador no movimento de não alinhados.

Maduro com o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, durante exercício militar em Macarao - Presidência da Venezuela/Divulgação/AFP

O embaixador venezuelano afirma que, na ONU, o apoio maior vem de México (também do Grupo de Lima), Nicarágua, Uruguai, Bolívia e dos caribenhos do Caricom. “São países pequenos, mas sua defesa é a lei internacional.”

Ele nega que o país esteja isolado nas Nações Unidas e diz, ao contrário, que se sente acompanhado no órgão. “A comunidade internacional, segundo o The New York Times, Washington Post, são os EUA. Segundo a BBC, é a Inglaterra e os EUA. Segundo o El País, é a Espanha e os EUA. Mentira. O mundo são 193 países”, diz.

“E, aqui, temos África, Ásia, o resto do mundo. E nós não estamos defendendo a Venezuela, e sim a regra para manter a paz no mundo que a ONU representa. Nós sabemos que não estamos sozinhos. Nem no Brasil estamos sozinhos, apesar do senhor Jair Bolsonaro.”

Para Moncada, as Nações Unidas são o palco apropriado para a resposta da Venezuela ao “neocolonialismo” americano. “A ONU tem um papel. O secretário-geral [António Guterres] faz sua mediação. A Assembleia Geral deve rechaçar o plano e a guerra colonial de [Donald] Trump.”

O embaixador afirmou que a Secretaria-Geral das Nações Unidas deve adotar todos os mecanismos para abastecer o país e se opor ao bloqueio que os EUA estão fazendo.

Moncada acusa os EUA de tentarem recolonizar a Venezuela. “Por isso que eu digo que estamos no segundo processo de libertação da Venezuela. Como tivemos uma guerra pela independência, vamos ter uma segunda guerra pela independência. E isso pelo nosso petróleo, pelo nosso povo, pelo território.”

O representante venezuelano critica a decisão de alguns países de reconhecer Guaidó como presidente encarregado do país. “Por exemplo, a Austrália se meteu nisso. A Austrália está do outro lado do planeta, não temos contato com esses senhores. E eles reconhecem uma marionete americana”, ironiza.

Outro exemplo citado é o Haiti, que, segundo Moncada, foi bastante ajudado pelo ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013.

“Tudo o que pediam a gente dava, nunca pedimos nada em troca. O Haiti reconheceu a marionete. Você acha que ele fez isso pela Venezuela ou pela pressão dos EUA? A pressão dos EUA é tão atroz que faz com que a relação histórica entre países amigos, sem problemas, se intoxique, se converta quase em países hostis.”

Ainda que se diga avesso à opção militar, Moncada não descarta a alternativa. Segundo o venezuelano, o país vai se preparar para se defender de uma eventual intervenção conjunta de EUA e Colômbia. “Espero que não cheguemos a isso. Mas, se chegarmos, temos que nos defender. Qual o papel da ONU? Frear o abuso de Trump, porque está violando o direito internacional.”

Ele também não rejeita recorrer à Corte Internacional de Justiça, mas ressalta que é uma via que está sendo analisada. “Há muitos caminhos, e temos que analisar cada uma. Não queremos chegar à agressão militar sofrida pelos EUA, mas eles estão acelerando o passo. Porque sabem que a marionete não será levada a sério em seis meses, e eles precisam que isso se resolva rápido.”

 

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