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Descrição de chapéu The New York Times

Para escapar das sanções ao Irã, navios desaparecem de repente

Embarcações desligam sistemas de rastreamento para manter comércio de petróleo

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Michael Forsythe Ronen Bergman
Nova York e Dalian (China) | The New York Times

Uma semana atrás, um pequeno navio-tanque se aproximava do golfo Pérsico depois de 19 dias de viagem, a partir da China. Conforme exigem as normas internacionais, o capitão relatou a posição do navio, o rumo, a velocidade e outro detalhe importante: estava navegando alto na água, o que significa que provavelmente estava vazio.

Homem observa movimento no porto de Fujairah, na costa dos Emirados Árabes Unidos - Karim Sahib - 2.jun.2019/AFP

Então o navio de propriedade chinesa, o Sino Energy 1, ficou em silêncio e praticamente desapareceu da rede.

Ele fez contato novamente no domingo, perto do local onde havia desaparecido seis dias antes, só que agora estava indo para leste, afastando-se do estreito de Ormuz, perto do Irã.

Se o padrão anterior for mantido, o capitão logo informará que está navegando baixo na água, o que significa que seus tanques provavelmente estão cheios.

Enquanto as sanções do governo Trump sobre produtos petrolíferos e petroquímicos iranianos se reforçaram, algumas frotas marítimas do mundo desafiaram as restrições, "sumindo" quando apanham carga nos portos iranianos, segundo analistas comerciais que rastreiam dados de navegação e informações das autoridades de Israel, país que apoia as medidas de Trump.

"Eles estão escondendo sua atividade", disse Samir Madani, cofundador da TankerTrackers.com, empresa que usa imagens de satélite para identificar petroleiros que ingressam em portos iranianos. "Os navios não querem divulgar o fato de que estiveram no Irã, para evitar sanções. Simples assim."

Um tratado marítimo supervisionado por uma agência da ONU exige que embarcações de 300 toneladas ou mais que percorrem rotas internacionais tenham um sistema de identificação automática. O equipamento ajuda a evitar colisões e nas operações de busca e resgate. Também permite que os países monitorem o tráfego marítimo.

Não é ilegal, segundo a regra internacional, comprar e transportar petróleo iraniano ou produtos relacionados. As sanções do governo Trump, que entraram em vigor em novembro depois que os Estados Unidos abandonaram o acordo nuclear com o Irã, são unilaterais.

Mas as empresas estrangeiras que fazem negócios com empresas ou bancos americanos correm o risco de serem punidas pelos Estados Unidos. Entre as ações estão proibir bancos americanos de trabalhar com elas, congelar bens e impedir que funcionários da empresa viajem para os Estados Unidos, explicou Richard Nephew, pesquisador da Universidade de Columbia que supervisionou a política para o Irã no Conselho de Segurança Nacional durante o governo Obama.

"Nós sancionamos dezenas de empresas estatais chinesas por causa de armas nucleares, mísseis, armas e outras formas de proliferação", disse Nephew. "Mas isso não é adotado levianamente."

Uma porta-voz do Departamento de Estado disse: "Não comentamos questões de inteligência".

Brian Hook, representante especial dos Estados Unidos para o Irã, disse a repórteres em Londres na sexta-feira (28) que os Estados Unidos puniriam qualquer país que importasse petróleo iraniano.

Hook estava respondendo a uma pergunta sobre relatos de que o petróleo iraniano seguia para a Ásia, de acordo com informações da agência de notícias Reuters.

Os esforços do presidente Donald Trump para deter as exportações iranianas de petróleo e petroquímica estão no centro das crescentes tensões entre os dois países.

No mês passado, ele impôs novas sanções aos líderes iranianos depois que o Irã derrubou um drone de vigilância americano e quase precipitou um contra-ataque que foi cancelado no último minuto. O ataque ao drone ocorreu uma semana depois que os Estados Unidos acusaram o Irã de ser responsável por explosões que haviam imobilizado dois petroleiros perto do estreito de Ormuz.

Agências de inteligência dos EUA e de Israel dizem que a Guarda Revolucionária do Irã está profundamente envolvida com sua indústria petroquímica, usando as receitas do petróleo para encher seus cofres. Trump rotulou o grupo militar de organização terrorista.

O Irã tem tentado contornar as sanções dos EUA oferecendo "reduções significativas" no preço de seus produtos petrolíferos e petroquímicos, disse Gary Samore, professor da Universidade de Brandeis que trabalhou em questões de armas no governo Obama.

Quando as companhias de navegação desafiam as sanções, elas enfraquecem sua eficácia, especialmente se as empresas —ou os países onde estão sediadas— não enxergarem consequências, segundo analistas. Algumas companhias de navegação com ligações diretas com o Irã não tentam ocultar seus movimentos, de acordo com dados coletados pelos sites de rastreamento comercial.

O Sino Energy 1 e seus mais de 40 navios irmãos são muito mais difíceis de rastrear quando saem da rede. Eles foram propriedade até abril de uma subsidiária da Sinochem, empresa estatal chinesa que é uma das maiores fabricantes de produtos químicos do mundo.

A Sinochem possui extensos laços comerciais nos Estados Unidos. Tem um escritório em Houston e trabalha com grandes companhias americanas, incluindo a Boeing e a Exxon Mobil. Em março, assinou um acordo com o Citibank para "aprofundar a parceria" entre as duas empresas, disse a Sinochem. Em 2013, uma subsidiária americana da Sinochem comprou uma participação de 40% em um depósito de xisto no Texas, por US$ 1,7 bilhão.

Em abril, ela vendeu uma parte de sua frota de navios para a empresa privada Inner Mongolia Junzheng Energy & Chemical Group Co., cujo maior acionista é o bilionário chinês Du Jiangtao, que fez fortuna com equipamentos médicos, produtos químicos e energia gerada a carvão.

Uma pessoa que atendeu o telefone no escritório de relações com investidores da Junzheng não estava familiarizada com a empresa de navegação recém-adquirida. Por enquanto, a Junzheng possui 40% da antiga frota de navios da Sinochem, sendo o restante propriedade de duas empresas de Pequim.

Frank Ning, presidente da Sinochem, falando em uma breve entrevista em Dalian, na China, disse que a navegação não é uma parte central dos negócios da empresa. Em um comunicado, a empresa declarou que "adotou políticas rigorosas de conformidade e controle sobre exportação e sanções", embora um ex-funcionário que ajudava a administrar o negócio de navegação afirmar sob a condição do anonimato que a empresa transportou produtos petroquímicos do Irã durante anos.

Em algumas partes do mundo, incluindo o mar do Sul da China, não é incomum que as embarcações passem despercebidas, porque o sistema de identificação automática pode estar sobrecarregado pelo volume de navios, disse Court Smith, ex-oficial da Guarda Costeira dos Estados Unidos, hoje analista da VesselsValue.

Às vezes, eles o fazem por razões competitivas, acrescentou.

Mas no golfo Pérsico, onde o tráfego é mais leve, segundo Smith, as embarcações geralmente não desligam o sistema, conhecido na indústria como AIS.

"Se o sinal de AIS for perdido, é quase certo que o transmissor do AIS tenha sido desativado ou desligado por decisão do capitão", disse Smith sobre os navios no golfo Pérsico.

Outro indício possível de que os navios ligados ao Irã estão desativando seus sistemas de localização é que os navios que viajam para países na parte ocidental do golfo não estão saindo da rede.

O SC Mercury, outro navio da Sinochem, desapareceu por cerca de nove dias no final de dezembro e início de janeiro, perto de onde o Sino Energy 1 sumiu na semana passada, segundo os dados de rastreamento.

Mas no início de abril o curso do navio pelo golfo Pérsico não teve interrupções em seu sinal. O destino daquela vez eram os Emirados Árabes Unidos.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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