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Após 19 dias parados no mar, migrantes de navio Open Arms desembarcam na Itália

Promotoria ordenou desembarque de 90 imigrantes na ilha de Lampedusa

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Madri e São Paulo | AFP

Os cerca de 90 migrantes que estavam há 19 dias parados no mar a bordo do navio humanitário Open Arms desembarcaram na ilha italiana de Lampedusa nesta terça-feira (20).

A embarcação só pôde atracar após ordem emitida pela Promotoria italiana, depois de várias idas e vindas nos últimos dias sobre o destino das pessoas a bordo.

Migrante desembarca do Open Arms na ilha de Lampedusa - Guglielmo Mangiapane/Reuters

Os imigrantes foram inicialmente proibidos de chegar ao porto pelo vice-premiê Matteo Salvini, que adota linha-dura em relação à entrada de refugiados no país

A decisão levou seis países da União Europeia (França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal, Romênia e Espanha) a se colocarem à disposição para recebê-los, mas informações de como isto acontecerá não foram divulgadas.

O desembarque foi autorizado nesta terça pelo promotor Luigio Patronaggio, de Agrigento, na Sicília, após inspeção do barco pela polícia judicial e dois médicos. Ao término da visita, Patronaggio falou em uma situação "explosiva e de máxima urgência".

O Open Arms é operado por uma ONG espanhola de mesmo nome e contava inicialmente com mais de cem imigrantes. A organização vinha alertando sobre a situação "fora de controle" a bordo: os migrantes estavam sob estresse constante, dormindo no chão e dividindo apenas dois banheiros. A ONG também avisou que alguns tinham tendências suicidas.

O navio estava parado no Mar Mediterrâneo, a 8 km da ilha de Lampedusa, há quase três semanas, igualando o recorde de tempo das 32 pessoas resgatadas pelo navio Sea-Watch3, desembarcados em Malta em janeiro.

A situação do Open Arms levou com que nove imigrantes se jogassem no mar, nesta terça, para tentar nadar até Lampedusa. 

No sábado (17), 27 crianças e adolescentes desacompanhados foram autorizados a desembarcar. Na segunda (19), outras oito pessoas que estavam doentes foram levadas para a costa.

Salvini —que jogou a política italiana em um cenário de caos no último dia 8 após colocar em cheque a coalizão governista formada pelo partido que lidera, a Liga, com o Movimento 5 Estrelas—, sugeriu que a ONG estava exagerando em relação aos problemas a bordo.

Segundo ele, apenas dois dos oito desembarcados na segunda estavam doentes. 

"A firmeza é a única maneira de impedir que a Itália se torne novamente o campo de refugiados da Europa, como demonstra o barco da ONG espanhola cheia de falsos doentes e falsos menores", martelou Salvini em uma rede social.

O destino dos migrantes do Open Arms acirrou a disputa entre a Espanha e Salvini, acusado de querer tirar proveito político do episódio em plena crise política em Roma. Nesta terça, o primeiro-ministro Giuseppe Conte renunciou, acusando o vice-premiê de afundar a coalizão governista para ganhos pessoais e políticos.

O objetivo de Salvini é se tornar o próximo primeiro-ministro da Itália. No último ano, ele se transformou no político mais popular do país —tem cerca de 36% das intenções de voto. Há a possibilidade de que novas eleições ocorram até novembro. 

Para contornar a situação que se arrastava há dias, no domingo (18) Madri propôs à embarcação navegar até Algeciras, no extremo sul da Espanha, diante da recusa de Roma em deixá-los desembarcar na ilha. A ONG considerou a proposta "absolutamente irrealizável".

 
O governo espanhol propôs, então, o desembarque nas Ilhas Baleares, mais próximas, mas a mil quilômetros de Lampedusa. A ideia foi considerada "incompreensível" pela Open Arms.

A longa jornada colocaria em risco os migrantes, segundo um porta-voz da ONG ao jornal El País. Seriam necessários três dias para chegar ao arquipélago espanhol.

"Não aceitamos a Espanha. Não podemos pôr em perigo a segurança e a integridade física dos imigrantes e da tripulação. Precisamos desembarcar agora", afirmou.

Em uma entrevista publicada nesta terça-feira, também no El Pais, o fundador da Open Arms, Oscar Camps, pediu que os migrantes fossem autorizados a desembarcar em Lampedusa antes de serem transferidos de avião para a Espanha.

O ministro italiano dos Transportes, Danilo Toninelli, havia mostrado disposição para liberar a Guarda Costeira italiana no transporte dos migrantes para o país ibérico.

Segundo a agência de notícias italiana AGI, Toninelli afirmou, enquanto Patronaggio ia ao local para monitorar a embarcação, que "a situação a bordo do Open Arms tornou-se insustentável".

Migrantes nadam após pular do navio de resgate da Open Arms - Guglielmo Mangiapane - 20.ago.2019/Reuters

O governo espanhol chegou a enviar um navio militar a Lampedusa nesta terça para resgatar os migrantes do Open Arms, mas com a decisão da Justiça italiana de autorizar o desembarque, a medida foi cancelada. 

Outro navio está em situação semelhante: o Ocean Viking, operado pela organização SOS Méditerranée e pelo Médicos Sem Fronteiras (MSF), já fez pedidos para autoridades da Itália e de Malta para desembarcar as 356 pessoas a bordo, resgatadas na costa da Líbia.

Malta disse não se responsabilizar, pois os migrantes foram resgatados em águas territoriais fora do país, e a Itália ainda não se pronunciou.

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