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CNN rejeita dois anúncios da campanha de Trump por 'imprecisões'

Comerciais recusados criticavam processo de impeachment e atacavam jornalistas da emissora

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Michael M. Grynbaum Tiffany Hsu
The New York Times

As guerras publicitárias da campanha de 2020 começaram.

A rede de TV CNN rejeitou dois anúncios provocativos da campanha à reeleição do presidente Donald Trump na quinta-feira (3), dizendo que os spots de 30 segundos que ridicularizam o inquérito de impeachment aberto pelos deputados democratas —um deles chamava o esforço de "nada menos que um golpe"— continham imprecisões e atacavam injustamente os jornalistas da rede.

É incomum, mas não sem precedentes, as redes de televisão rejeitarem um anúncio político de um candidato à Presidência.

O presidente americano, Donald Trump, participa de evento na Casa Branca na última sexta (4) - Yuri Gripas - 4.out.19/Reuters

Na véspera das eleições legislativas no ano passado, os principais canais, incluindo a Fox News, removeram um comercial da equipe política de Trump que retratava os imigrantes como uma ameaça violenta.

Mas os anúncios políticos tendem a ser controversos nos últimos estágios de uma campanha —não 13 meses antes do dia da eleição. E a decisão da CNN pode anunciar um conflito mais longo entre os assessores políticos de Trump e os executivos da rede encarregados de revisar a precisão das informações que chegam aos espectadores.

Os anúncios de Trump foram recentemente publicados online como parte do que a campanha dizia ser um pacote de publicidade de milhões de dólares em canais a cabo e plataformas digitais nacionais. Um deles, "Corrupção de Biden", repete alegações infundadas sobre as atividades do ex-vice-presidente Joe Biden na Ucrânia.

"Joe Biden prometeu à Ucrânia US$ 1 bilhão se demitisse o procurador que investigava a empresa de seu filho", diz um narrador sobre imagens granuladas de Biden, um dos principais candidatos presidenciais democratas.

Depois de se referir aos democratas em geral, o narrador acrescenta: "E seus cães de colo da mídia se alinham", enquanto são mostrados clipes dos âncoras da CNN Don Lemon e Chris Cuomo e do principal correspondente da rede na Casa Branca, Jim Acosta. A apresentadora do MSNBC Rachel Maddow também aparece.

Não há provas de que Biden tenha intencionalmente tentado ajudar seu filho Hunter, pressionando pela demissão do procurador-geral ucraniano, Viktor Shokin. Membros do governo Obama, assim como outros líderes internacionais, tentaram a remoção de Shokin em meio a acusações de que ele ignorou denúncias de corrupção. Shokin foi deposto por votação do Parlamento ucraniano em 2016.

A CNN disse em comunicado na quinta-feira que o comercial não preencheu seus critérios de publicidade. "Além de menosprezar a CNN e seus jornalistas, o anúncio faz afirmações que foram comprovadamente declaradas falsas por vários meios de comunicação, incluindo a CNN", disse um porta-voz da rede.

Tim Murtaugh, diretor de comunicações da campanha de Trump, respondeu que o anúncio era "inteiramente preciso e foi revisado por um advogado".

"A CNN passa o dia todo protegendo Joe Biden em sua programação", escreveu Murtaugh em um comunicado. "Portanto, não surpreende que eles também o estejam protegendo de publicidade verdadeira."

Mais tarde, a CNN disse que também rejeitou outro anúncio de Trump, "Golpe", que apresenta a investigação de impeachment como um esforço "para desfazer a eleição, independentemente dos fatos", e acusa os democratas da Câmara de "fabricar evidências".

"O anúncio contém afirmações sobre a denúncia do delator que foram refutadas pelo inspetor-geral de inteligência", disse a CNN. "Além disso, é impreciso usar a palavra 'golpe' para descrever um processo legal prescrito constitucionalmente."

As ações da CNN provavelmente inflamarão tensões duradouras entre o canal de notícias e o presidente, que denunciou a rede em várias aparições públicas nesta semana. Em entrevista coletiva na Casa Branca na quarta-feira (2), Trump chamou os funcionários da CNN de "pessoas corruptas".

A CNN disse que concordou em pôr no ar um terceiro comercial apresentado pela campanha de Trump, que se concentra nas realizações do presidente no cargo.

Trump disse que seu pedido de ajuda para investigar os Biden era legítimo e fez parte de um telefonema "perfeito" com o presidente Volodimir Zelenski, da Ucrânia. Na quinta-feira, Trump pediu publicamente à China que investigue o ex-vice-presidente.

O inquérito de impeachment provocou um aumento nos gastos com campanhas desde que foi anunciado, em 24 de setembro. O grupo Need to Impeach (o impeachment é necessário), fundado e financiado principalmente pelo bilionário e pré-candidato presidencial democrata Tom Steyer, disse nesta semana que pretende gastar US$ 3,1 milhões em anúncios de televisão e digitais pedindo que os senadores republicanos removam Trump.

A campanha do presidente gastou mais de US$ 1,6 milhão em publicidade na página de Trump no Facebook nos últimos sete dias, incluindo até US$ 21 mil no anúncio "Corrupção de Biden", de acordo com a biblioteca de anúncios da plataforma.

O Facebook não checa o discurso dos políticos, geralmente permitindo-o na plataforma "mesmo quando violaria nossas regras normais de conteúdo", disse Nick Clegg, executivo do Facebook e ex-vice-primeiro-ministro britânico, em Washington na semana passada.

Mas Daniel Wessel, porta-voz do Comitê Nacional Democrata, disse na quinta-feira que o Facebook deve monitorar e remover todos os anúncios falsos, incluindo "Corrupção de Biden".

"O Facebook deve isso a seus leitores", disse Wessel. "Todos nós temos um papel a desempenhar no combate a essas mentiras, e isso inclui o Facebook."

A equipe de Biden também entrou no caso. Em uma carta formal na quinta-feira, seu gerente de campanha, Greg Schultz, pediu à Fox News que rejeitasse o anúncio da campanha de Trump, dizendo que continha "teorias de conspiração falsas e definitivamente desmascaradas".

"Estamos avisando sobre a falsidade absoluta das reivindicações do anúncio", escreveu Schultz.

A Fox News respondeu em um comunicado: "Não estamos censurando anúncios de candidatos de ambos os lados do corredor. O vice-presidente Joe Biden tem um convite permanente para aparecer em qualquer uma de nossas plataformas".

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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