'Me vejo atormentada com pensamentos de morte', diz médica indiana
Especialista em doenças infecciosas, Ayesha Sunavala trabalha em Mumbai
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Como especialista em doenças infecciosas, gerencio a enfermaria de Covid-19 no hospital P.D. Hinduja, em Mumbai, juntamente com três pneumologistas. Temos um plantão de 24 horas uma vez a cada três ou quatro dias.
As rondas na enfermaria são especialmente desafiadoras e, como os trabalhadores da linha de frente em todo o mundo, sinto a mesma frustração: óculos embaçados, asfixia, dificuldade em examinar e comunicar-me efetivamente com os pacientes em um traje de proteção.
Um dos primeiros pacientes que foram internados conosco comentou oportunamente que eu parecia um extraterrestre em minhas roupas.
Apesar das longas horas e dos incessantes problemas dos pacientes com Covid-19, me encontro constantemente lutando com várias questões na vida pessoal.
Por temperamento, não sou nem corajosa nem aventureira. Na verdade, estou constantemente preocupada e tenho imensa aversão ao risco. E assim me vejo atormentada com pensamentos de morte, da perda de parentes, perda de colegas, ser separada dos meus filhos e assim por diante.
Além da minha batalha pessoal, eu realmente me solidarizo com os pacientes que estão ansiosos por si mesmos, por suas famílias.
Eles estão separados de seus parentes, cercados por profissionais de saúde em trajes espaciais. Toda a experiência deve ser tão perturbadora e surreal para eles.
Antes de colocar meu equipamento de proteção, geralmente converso com cada paciente individualmente em uma videochamada e não é de surpreender que muitas de suas preocupações sejam mais socioemocionais do que físicas.
Como especialista em doenças infecciosas, tive que lidar com outras condições infecciosas em várias ocasiões. Mumbai é a capital mundial da tuberculose resistente a medicamentos, e vejo uma parcela disso na minha prática diária.
E, assim, me faço a pergunta: o que torna a Covid-19 única nesse aspecto? Eu acho que a incerteza em torno de um novo vírus, a possibilidade de estar nos 20% que desenvolvem uma infecção grave e a probabilidade de infectar membros mais vulneráveis da minha família.
Como a maioria dos indianos, eu moro junto com uma família que inclui pais idosos com doenças cardíacas, sobreviventes de câncer e crianças pequenas.
Meu marido é pediatra e também está envolvido no cuidado de bebês cujo resultado para Covid-19 deu positivo.
Meu pai é intensivista e, embora não esteja pessoalmente envolvido no atendimento a pacientes com Covid-19, devido à idade e às comorbidades cardíacas subjacentes, cuida de outros pacientes.
Isolar-nos uns dos outros em casa é praticamente impossível, assim como é viver separadamente, sobretudo porque esta situação pode levar vários meses para acabar.
Muitas vezes ignoramos o fato de que os profissionais de saúde da linha de frente também têm outras obrigações de rotina, como cozinhar, limpar, educar seus filhos em casa e pagar contas.
Ayesha Sunavala é médica especialista em doenças infecciosas e gerente da enfermaria de pacientes com Covid-19 no hospital privado P.D. Hinduja, em Mumbai, na Índia; depoimento a João Perassolo
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters