Paraguaios que tentam sair do Brasil ficam retidos por dias na Ponte da Amizade
Centenas de pessoas dormem no local enquanto esperam ser avaliadas pelas autoridades paraguaias
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Centenas de paraguaios tentam diariamente cruzar a fronteira para voltar ao seu país.
No entanto, como a fronteira está fechada por causa da pandemia do novo coronavírus, eles têm sido barrados na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu (PR), que liga o Brasil ao país vizinho.
Até que os trâmites burocráticos sejam resolvidos, a espera chega a levar dias.
Entre os “refugiados sanitários” estão homens, mulheres e crianças que, sem abrigo, passam dias e noites aglomerados nos 550 metros de comprimento da passarela que cruza o rio Paraná. A falta de máscaras e de álcool em gel, além das condições higiênicas precárias, colocam em risco a saúde de quem espera.
Com apenas nove mortes e 220 casos confirmados da doença no país, o Paraguai instalou um controle rigoroso nas fronteiras desde 18 de março.
Todo paraguaio que regressa é colocado em quarentena obrigatória por 14 dias em estruturas provisórias, como centros esportivos e albergues. A insuficiência de vagas nesses espaços causa filas na ponte.
Em média, 200 pessoas tentam cruzar a fronteira diariamente, de acordo com o governo paraguaio.
A maioria delas chega de ônibus de São Paulo, onde trabalham como diaristas ou alfaiates. Mas, com as empresas fechadas e a quarentena decretada, milhares ficaram sem empregos. Para muitos, a única alternativa é voltar para suas famílias.
O fluxo de pessoas ficou maior há cerca de duas semanas. Por sorte, os dias têm sido de sol e calor em Foz do Iguaçu, embora à noite o termômetro registre temperaturas mais baixas, em torno de 17°C.
A marquise de metal que, de dia protege do sol, de noite faz a umidade condensar e pingar em gotas sobre quem busca abrigo embaixo dela.
“Havia um rapaz que estava há seis dias na ponte, literalmente na ponte, na passarela. A Polícia Federal do Brasil acaba dando baixa [no passaporte], e eles ficam barrados entre as duas fronteiras”, explica Everton Mateus, vice-presidente da associação Amigos do Johnson Anjos da Madrugada, que toda noite leva ajuda aos refugiados.
Em vídeo gravado por Mateus, o paraguaio Ancelmo Cabral, que morava em Porto Alegre (RS) e perdeu o emprego por conta da pandemia, reclama das condições para atravessar a fronteira.
Ao agradecer a ajuda da associação, diz estar há quatro dias na Ponte da Amizade, aguardando a vez para poder reencontrar amigos e familiares.
“Outros países mandam buscar a sua gente. No Paraguai, mandam buscar paraguaios nos Estados Unidos com aviões. Classificaram sua gente entre primeira e segunda classe: na primeira estão as pessoas que vão buscar em aviões, os ricos; e nós, trabalhadores, consideram como de segunda classe”, desabafa no vídeo.
Pão, café com leite, salada de fruta e água matam a fome e a sede de quem aguarda liberação. A organização fornece também álcool em gel e disponibiliza um trailer com duas duchas, para quem quer tomar um banho quente.
Banheiros químicos foram colocados no local para atender os refugiados. Colchões e cobertores dão um pouco de conforto à noite.
“Há crianças de um ano, dois anos, e a ponte é aberta no meio. Imagina se uma mãe acaba cochilando e uma criança escapa? Vai cair no rio”, alerta Mateus, que durante o dia monitora ao vivo o movimento no local por meio de uma câmera instalada sobre a ponte.
Com base no número de pessoas na fila, a associação prepara as refeições necessárias.
A Polícia Federal brasileira informou em nota que as equipes foram reforçadas no local e que o acompanhamento “se restringe às questões migratórias desses estrangeiros e segurança física das instalações públicas”.
Em nota divulgada na quinta-feira (23), o Ministério das Relações Exteriores do Paraguai afirmou que está fornecendo serviços básicos de higiene e alimentação às pessoas na espera e que todos os cidadãos devem passar por análise dos requisitos para entrar no país.
“As únicas situações que merecem a autorização para a entrada no território nacional são aquelas circunstâncias extraordinárias que apresentam situações humanitárias de saúde, com dificuldade e risco de vida humana, e situações de vulnerabilidade econômica”, explicou em nota o assessor de assuntos internacionais da Presidência do Paraguai, Federico González.
De acordo com o governo paraguaio, “entre as pessoas que se encontram na ponte há cidadãos expulsos pela Justiça brasileira (casos de contrabando) e pelo crime de tráfico de pessoas” e que, por isso, está sendo priorizada a entrada de mulheres e crianças.
A Folha procurou o Conselho de Defesa Nacional do Paraguai e o consulado paraguaio em Foz do Iguaçu, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem.
Do outro lado da ponte, brasileiros que estavam no Paraguai começaram a ser repatriados pelo Itamaraty na semana passada. Até sexta-feira (24), 300 brasileiros desembarcaram em Foz do Iguaçu, segundo a prefeitura da cidade.
Eles cruzaram a fronteira e passaram por avaliações médicas e exames. Os que não apresentam sintomas e tiverem condições de seguir viagem são liberados. Os demais podem aguardar em hotéis que disponibilizaram leitos ao município.
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