Trudeau pausa por 21 segundos antes de conseguir comentar ameaça de Trump a manifestantes
(Falta de) reação do premiê canadense circulou pela internet e virou notícia no país
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Quando questionado o que pensava do chamado de Donald Trump por ação militar contra manifestantes americanos e o uso de gás lacrimogêneo contra ativistas pacíficos para abrir caminho para o presidente posar para fotos, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, parou no pódio por 21 segundos de silêncio desconfortável. Abriu a boca, depois a fechou de novo —duas vezes. Gemeu baixinho.
Finalmente, numa cena na terça-feira (2) que já se disseminou pela internet, Trudeau disse: “Todos assistimos com horror e consternação ao que está acontecendo nos Estados Unidos”.
De sua posição ao norte dos Estados Unidos, os canadenses vêm assistindo em choque ao que está acontecendo no país que há muito tempo veem como seu protetor e aliado mais próximo, mas que agora parece um desconhecido desvairado, instável e perigoso.
Boa parte do sentimento de horror no país se concentra sobre Trump. Mesmo os jornais conservadores canadenses se encheram de colunas, como uma de Gary Mason, declarando: “Não poderia haver uma pessoa mais assustadora habitando a Casa Branca neste momento”.
“O que ele está fazendo é intencional. Ele está propositalmente fomentando a discórdia e a raiva para que possa concorrer à reeleição numa plataforma de lei e ordem”, concordou Janice Stein, diretora fundadora da Escola Munk de Assuntos Globais da Universidade de Toronto. “É chocante.”
A maioria dos canadenses começou a rejeitar Trump dois anos atrás, quando ele impôs tarifas sobre as exportações canadenses de aço e alumínio, ameaçou tirar o Canadá do acordo continental de livre comércio e insultou Trudeau, dizendo que o premiê era “muito desonesto e fraco”, momentos depois de deixar a cúpula do G7 da qual Trudeau fora o anfitrião.
Mas a opinião pública canadense a respeito de Trump caiu ainda mais durante a pandemia.
Enquanto os políticos no Canadá deixaram suas diferenças de lado para cooperar para proteger a população contra o coronavírus, Trump é visto como tendo politizado a pandemia para contribuir com o esforço para sua reeleição.
“Meu sentimento é de tristeza profunda —tristeza ao ver comunidades que respeitamos sendo dilaceradas de tal maneira e tristeza ao constatar a perda de vidas na pandemia”, comentou Frank McKenna, ex-premiê da província de New Brunswick e ex-embaixador canadense nos EUA.
“A polarização nos EUA está tão grande que a simples questão de usar ou não uma máscara é carregada de implicações políticas. É doloroso de se ver.”
Mas Trudeau não ousou criticar Trump abertamente na resposta que deu na terça-feira. Em vez disso, como muitos outros líderes canadenses, ele optou por tecer reflexões sobre o racismo do qual são vítimas canadenses negros e outras minorias no país.
No fim de semana passado houve protestos em todo o país em apoio a George Floyd, homem negro morto por um policial branco em Minneapolis.
Em Toronto, os protestos também disseram respeito à morte de Regis Korchinski-Paqueta, uma mulher negra de 29 anos que caiu do apartamento de sua família em um arranha-céu pouco após a chegada da polícia em resposta a um pedido de socorro. O incidente está sendo investigado.
“É hora de reconhecermos que também nós, canadenses, temos nossos desafios”, disse Trudeau, cujo próprio histórico em relação a racismo foi gravemente maculado quando, durante a campanha para sua reeleição em 2019, vieram à tona fotos antigas em que ele usava blackface e brownface.
“Existe racismo sistêmico no Canadá”, disse Trudeau.
Tradução de Clara Allain
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