Austrália irrita China ao estender vistos e anunciar programa para atrair empresas de Hong Kong
Medidas são reação a lei de segurança nacional aprovada pelo regime comunista para território
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
A Austrália anunciou nesta quinta (9) a suspensão do tratado de extradição com Hong Kong e a ampliação do tempo de vistos em resposta à nova lei de segurança nacional aprovada pela China em junho.
O premiê australiano, Scott Morrisson, afirmou que a nova regra estabelecida para o território semiautônomo foi uma mudança fundamental e que, por isso, o país suspenderia o tratado que prevê o retorno automático de cidadãos processados pela Justiça de Hong Kong.
Estudantes, trabalhadores e pessoas graduadas no território semiautônomo que tiverem vistos temporários na Austrália terão a oportunidade de permanecer e trabalhar no país por outros cinco anos e solicitar residência permanente após o período.
"Haverá cidadãos de Hong Kong que procurarão se mudar para iniciar uma nova vida em outros lugares, para levar suas habilidades, seus negócios", disse o primeiro-ministro.
Em Pequim, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, defendeu que o governo australiano pare de interferir em assuntos chineses, alertando que seu país se reserva o direito de retaliar.
Os chineses são os principais importadores de produtos australianos. Em 2019, o comércio entre as nações movimentou 235 bilhões de dólares australianos (R$ 866 bilhões).
Mais cedo, a embaixada chinesa em Camberra avisou que se a Austrália não parar com a interferência em assuntos chineses estará "levantando uma pedra para atingir o próprio pé".
Em abril, a China já havia feito ameaças veladas à Austrália, depois que o país pediu uma investigação sobre a origem da Covid-19, cujos primeiros casos foram registrados na cidade chinesa de Wuhan.
De acordo com o governo australiano, atualmente 10 mil cidadãos de Hong Kong estão no país com vistos de estudante ou temporários.
"Há grandes negócios em Hong Kong, e nós sabemos que agora muitos indivíduos buscarão outros lugares, porque querem estar em um país mais livre, em um país democrático", disse o ministro da Imigração australiano, Alan Tudge.
Em 1989, a Austrália ofereceu asilo a 42 mil estudantes chineses que já estavam no país após a violenta repressão aos protestos pró-democracia na Praça da Paz Celestial.
A nova lei de segurança nacional chinesa visa coibir atos considerados de secessão, subversão, terrorismo ou conluio com potências estrangeiras contra a ditadura comunista chinesa.
Para os ativistas pró-democracia e para grande parte da comunidade internacional, entretanto, a lei representa um retrocesso para os direitos dos honcongueses e uma ameaça imposta pela China continental à liberdade no território.
O regime liderado por Xi Jinping nega as acusações e diz que a legislação visa "causadores de problemas".
Para autoridades de Pequim e de Hong Kong, a lei de segurança não afetará os direitos e as liberdades que sustentam o papel da ex-colônia britânica como centro financeiro nem alterará o modelo "um país, dois sistemas", no qual há liberdades econômicas e civis inexistentes sob a ditadura comunista.
O primeiro-ministro australiano também se dirigiu a empresas internacionais de consultoria, mídia e financeiras com sedes em Hong Kong, sugerindo que se realocassem na Austrália.
Morrison disse que as medidas iriam ser acomodadas nos atuais limites de vistos de residência permanente do país e que os cidadãos de Hong Kong também poderiam se candidatar para programas de vistos humanitários e de refugiados.
O honconguense Dennis Chan, estudante da universidade New South Wales e porta-voz do grupo comunitário Conexão Austrália-Hong Kong, recebeu com otimismo a notícia do governo australiano, mas disse que alguns compatriotas temiam não estarem cobertos pelo programa, pois muitos deles voltaram para o território e estavam com vistos provisórios, sem poder voltar à Austrália por causa da Covid-19.
"As pessoas que estavam protestando em Hong Kong estão enfrentando dificuldades para deixar o território e vir à Austrália", disse ele à agência de notícias Reuters.
A Austrália mudou a sua recomendação sobre viagens a Hong Kong para a categoria "reconsidere sua necessidade de permanecer em Hong Kong". Atualmente, cerca de 100 mil australianos vivem e trabalham na ex-colônia britânica.
Na última semana, o Canadá também anunciou que suspenderia seu tratado de extradição com Hong Kong após a aprovação da nova lei de segurança nacional chinesa.
Nova Zelândia e Inglaterra informaram que podem rever o tema da extradição. A Nova Zelândia foi além e mencionou os controles de exportações de bens estratégicos e as recomendações de viagens ao território.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters