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Sem conseguir formar governo, premiê do Líbano renuncia menos de um mês após ser nomeado

Apoiado por Macron, Mustapha Adib foi terceiro nome a assumir cargo em menos de um ano

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Beirute | Reuters

Menos de um mês depois de ser nomeado, o primeiro-ministro do Líbano, Mustapha Adib, renunciou neste sábado (26), após fracassar na tentativa de formar um governo.

Antes de ser indicado ao cargo, Adib, 48, era embaixador do Líbano na Alemanha havia sete anos. Ainda que tenha sido conselheiro e chefe de gabinete do ex-premiê Najib Mikati, ele não tinha grande experiência política —é advogado e professor universitário.

A decisão também significa um fracasso para a França de Emmanuel Macron, que trabalhou pela nomeação de Adib apostando que o nome dele poderia reunir lideranças de grupos sectários rivais para promover reformas e combater a pior crise econômica no país desde a guerra civil (1975-1990).

O agora ex-premiê do Líbano Mustapha Adib durante entrevista coletiva no palácio presidencial, em Baabda - Mohamed Azakir/Reuters

No Líbano, cada grupo religioso tem direito a ocupar um dos Poderes. O presidente é sempre um cristão maronita, enquanto o premiê é muçulmano sunita, e o líder do Parlamento, muçulmano xiita. As tensões entre os grupos, contudo, são constantes no país.

O plano da França propunha um avanço no combate à corrupção e a implementação de reformas para atrair bilhões de dólares em ajuda internacional e, assim, tentar melhorar a endividada economia libanesa, em situação ainda mais crítica após a explosão catastrófica no porto da capital, no início de agosto.

Ao anunciar a renúncia, Adib afirmou que o o Líbano não deve abandonar o plano francês e desejou sucesso ao próximo premiê na "difícil tarefa" de formar um governo. "Eu reitero que essa iniciativa precisa continuar", afirmou ele após encontrar o presidente Michel Aoun.

Os esforços de construção de um governo por Adib foram frustrados devido às disputas por cargos, em particular o posto de ministro das Finanças, peça-chave para desenvolver um plano de reformas.

Com receio de serem escanteados na renovação proposta por Adib, os dois maiores grupos xiitas do país, Amal e Hizbullah, queriam nomear uma série de ministros, incluindo o das Finanças. Adib teve diversos encontros com políticos xiitas, mas não conseguiu construir um acordo para definir como o nome seria escolhido.

Segundo o líder do Amal e presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri, seu grupo ainda apoia o plano francês. Suleiman Frangieh, líder de um grupo cristão aliado do Hizbullah, classificou a iniciativa como uma "oportunidade de ouro que o Líbano não pode perder".

O ex-primeiro ministro Saad Hariri, liderança sunita que apoiou Adib, afirmou que todos aqueles que celebram o colapso da iniciativa de Macron "irão morder os dedos de arrependimento".

O Movimento Patriótico Livre, partido do presidente Michel Aoun, também disse que iria seguir os princípios do plano francês e instou Macron a continuar ajudando o Líbano, mas afirmou que o novo gabinete precisa de apoio dos blocos políticos locais

Apesar da indicação de Adib ter recebido a chancela dos principais grupos políticos do país, como o Movimento Futuro, maior legenda sunita do Líbano, o xiita Hizbullah e o cristão Movimento Patriótico Livre, oponentes do agora ex-premiê, acusam-no de não realizar consultas suficientes para formar o governo.

Adib foi o terceiro premiê do Líbano em menos de um ano. Em outubro de 2019, Saad Hariri renunciou à posição dizendo ter chegado a um "beco sem saída" depois de um levante que ficou conhecido como "revolução do WhatsApp". Seu sucessor, Hassan Diab, assumiu o governo em janeiro, mas anunciou sua renúncia seis dias após a explosão na zona portuária de Beirute.

Pelo menos 190 pessoas morreram na tragédia em 4 de agosto, que também deixou mais de 6.000 feridos e 300 mil desabrigados. A causa foi um incêndio em um depósito que armazenava 2.750 toneladas de nitrato de amônio, um composto químico usado para a produção de fertilizantes e de explosivos.

Um conselho judicial que investiga a explosão deteve 25 pessoas, incluindo funcionários do porto, da alfândega e do setor de segurança.

Manifestantes pediram a saída do presidente Aoun após a revelação de que o político fora alertado do risco que a carga de nitrato de amônio representava para Beirute duas semanas antes da tragédia.

Nesses atos, nas ruas e nas redes sociais, a população demonstra não acreditar na classe política do Líbano e chega a pedir interferência externa, como a do presidente francês.

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