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Ex-presidente do Banco Central Europeu assume tarefa de montar novo governo na Itália

Sem experiência política, Mario Draghi tentará conquistar apoio no Parlamento para pôr fim à crise

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Roma e São Paulo | AFP

O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), o economista Mario Draghi, recebeu nesta quarta-feira (3) do presidente Sergio Mattarella a missão de formar um novo governo na Itália e pediu unidade para que o país consiga superar a crise atual.

Assim, Draghi irá conversar com os partidos em busca de apoio. Caso consiga o aval da maioria deles, poderá montar um governo e ser o novo premiê da Itália. De perfil técnico e sem experiência política, porém, não está claro se ele será capaz de formar uma coalizão no Parlamento.

Mario Draghi discursa após se reunir com o presidente italiano, no palácio Quirinale, em Roma - Xinhua

"Este é um momento difícil. O presidente recordou a dramática crise de saúde, com os graves efeitos para a vida das pessoas, a economia e a sociedade", declarou à imprensa, depois de receber oficialmente o pedido para formar o governo.

Nesta terça-feira (2), Mattarella, o único com poderes para designar o primeiro-ministro e dissolver o Parlamento, fez um apelo às forças políticas para que apoiem "um governo de alto perfil e forte", para enfrentar a emergência de saúde e para implementar o enorme plano financiado pela União Europeia para a reconstrução da Itália.

À frente do BCE, Draghi recebeu créditos por ter tirado a zona do euro da beira do colapso em 2012. Ele praticamente desapareceu da cena pública desde que seu mandato terminou, em outubro de 2019, mas seu nome emergiu como um possível premiê nas últimas semanas devido à turbulência política, econômica e de saúde na Itália.

O economista já dirigiu também o Banco Central italiano e trabalhou no Banco Mundial, mas nunca disputou cargos públicos e não é filiado a nenhum partido. A última vez que a Itália teve um premiê com um perfil semelhante foi em 2011, quando o também economista Mario Monti foi indicado ao cargo em meio à crise econômica e fiscal.

A escolha agora por Draghi é uma tentativa de Mattarella para tentar formar um governo minimamente estável, depois de dois anos e meio marcados por instabilidade na gestão de Giuseppe Conte —que segue como primeiro-ministro interino até o economista conseguir apoio suficiente no Parlamento.

Draghi foi convocado pelo presidente uma semana após o pedido de renúncia de Conte, que tentou fazer uma manobra política para seguir no poder, mas falhou.

Conte disse que não teve escolha a não ser deixar o posto depois que o pequeno partido Itália Viva, liderado pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, abandonou o barco governista com duras críticas à gestão.

A saída do partido de Renzi deixou a coalizão que mantinha Conte no poder sem a maioria absoluta do Senado, o que, na prática, comprometeria a governabilidade do país.

Por isso, jogando dentro das regras do parlamentarismo, o premiê optou pela renúncia com o intuito de voltar ao cargo apoiado por uma nova aliança de partidos, como ele próprio fez em 2019.

Mas a repetição do feito desta vez não funcionou. Conte chegou a fazer esforços para atrair senadores independentes e de centro para a coalizão na tentativa de preencher o vácuo deixado por Renzi, mas não teve sucesso.

Há dúvidas, porém, se Draghi conseguirá resolver a crise e formar um bloco majoritário no Legislativo. Entre as principais forças políticas italianas, apenas o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, anunciou apoio a um possível novo governo até o momento.

Para ser efetivado no cargo, porém, Draghi precisa atrair ao menos mais um dos outros três principais partidos italianos: a Liga (de direita radical), o Força Itália (FI, de direita) e o Movimento 5 Estrelas (M5E, sigla populista que se define como antisistema).

Inicialmente, a Liga descartou participar do novo governo e seu líder, Matteo Salvini, pediu a convocação de novas eleições. Ao longo do dia, porém, parte da sigla indicou que aceitaria negociar o tema, desde que o novo premiê se comprometesse com uma agenda de políticas defendidas pelo partido.

O M5E também está dividido, com o comando da sigla descartando o apoio a um governo técnico, mas com parlamentares abrindo diálogo para uma possível negociação. A aliança entre o partido e o PD era exatamente o principal pilar de sustentação do governo Conte e, segundo analistas, a manutenção desse acordo é o caminho mais fácil para efetuar o novo indicado.

O ex-premiê e principal líder do FI, Silvio Berlusconi, já até indicou que poderia apoiar um governo Draghi, mas analistas consideram que é pouco provável uma coalizão entre o partido e o PD, já que os dois são adversários históricos.

Quem também já indicou apoio a Draghi é Renzi. Ele rompeu com Conte por discordar da forma como o premiê gerenciou a resposta à pandemia de coronavírus —que infectou 2,5 milhões de pessoas e causou mais de 87 mil mortes na Itália— e o acusou de centralizar as decisões sobre como gastar os recursos concedidos pela União Europeia no plano de recuperação econômica para o período pós-pandemia.

A atual instabilidade não chega a ser uma novidade na Itália, já que o sistema político do país é conhecido por dificultar a formação de coalizões duradouras —caso Draghi de fato assuma o poder, essa será a décima troca no comando do país desde 2000.

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