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Após fala de Guedes contra China, chanceler age como bombeiro e conversa com embaixador

Ministro da Economia acusou país asiático de ter inventado coronavírus e criticou eficiência de vacinas chinesas

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São Paulo

Um dia depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, acusar a China de ter criado o coronavírus e criticar a eficiência das vacinas desenvolvidas pelo país asiático, o chanceler Carlos França conversou nesta quarta (28) com Yang Wanming, embaixador chinês em Brasília, por telefone.

Yang, que divulgou a conversa com o ministro em uma rede social, disse que, durante a ligação, ambas as autoridades concordaram "em reforçar ainda mais a confiança política mútua num ambiente sadio e amigável, implementar os consensos entre os chanceleres e continuar a nossa parceira de vacinas".

O chanceler brasileiro, Carlos França, e o embaixador chinês, Yang Wanming, em imagem de 2019 - Yang Wanming no Twitter

Nesta quarta, França participa de sessão na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, em audiência pública na qual afirmou que a embaixada brasileira em Pequim "acompanha em tempo real cada processo de autorização de exportação de IFAs", em referência às matérias-primas para produção das vacinas.

A demora do país asiático no envio de imunizantes, assim como no de insumos para a produção dos fármacos, gerou atrasos na campanha de vacinação no Brasil. Assim, em meio à lentidão do processo e a uma rejeição da China entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, Guedes, na terça, atacou Pequim.

"O chinês inventou o vírus, e a vacina dele é menos efetiva que a do americano. O americano tem cem anos de investimento em pesquisa. Então os caras falam: 'Qual é o vírus? É esse? Tá bom'. Decodifica, tá aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras", disse o ministro da Economia em reunião do Conselho de Saúde Suplementar, sem saber que estava sendo gravado.

Os testes clínicos realizados até o momento verificaram uma maior eficácia de imunizantes desenvolvidos por farmacêuticas como Pfizer e Moderna, dos EUA, mas especialistas afirmam que as verificações ocorrem em circunstâncias diferentes e que os dados não podem ser comparados.

À noite, Guedes, em entrevista à imprensa, disse ter usado uma imagem infeliz. Segundo ele, a declaração tinha o objetivo de mostrar “como uma economia de mercado forte”, em referência aos Estados Unidos, “consegue produzir uma resposta a algo que vem de fora”, em alusão à China. O ministro também lembrou que já recebeu as duas doses da Coronavac, produzida pela China. “Não vou falar mal da vacina."

Pouco depois de o caso ser revelado, o embaixador Wanming manifestou-se em uma rede social. "Até o momento, a China é o principal fornecedor das vacinas e dos insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo Brasil. A Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil", escreveu ele.

Nesta quarta, Guedes voltou a falar sobre o assunto. Segundo o ministro, houve uma politização da declaração dele, mas, ao tentar se justificar, acabou repetindo que os Estados Unidos desenvolveram uma vacina que parece ser mais eficiente que a chinesa.

“A politização da crise está distorcendo as coisas e tirando de contexto”, afirmou o ministro. Ele ressaltou que a China teve mais tempo para desenvolver o imunizante e tem mais experiência em relação a essas doenças devido à gripe suína e à gripe aviária.

“Quando esse vírus chegou a uma economia de mercado forte, como é a americana, eles conseguiram, do desconhecido, produzir uma vacina que parece ainda mais eficaz do que a de quem estava sendo atingido pela pandemia num primeiro momento, que é a própria China”, disse.

A acusação de que a China teria inventado o coronavírus é duramente rebatida por Pequim. Afirmação semelhante já havia sido feita pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, e a tese esteve no centro da maior crise diplomática entre a China e o governo Jair Bolsonaro.

No ano passado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou no Twitter que o governo chinês estava propositalmente escondendo a gravidade do vírus. A embaixada chinesa reagiu, e o caso foi determinante para azedar a relação entre a missão diplomática e o Itamaraty então comandada por Ernesto Araújo.

Ao assumir o cargo de chanceler, no começo de abril, França pregou que o Itamaraty se engaje "em intenso esforço de cooperação internacional", "sem exclusões", "sem preferências desta ou daquela natureza", o que chamou de uma abertura para "novos caminhos de atuação diplomática".

O sujeito não nomeado era a China, já que Ernesto adotou, desde o início de sua gestão, uma posição de confrontação com os chineses e praticamente rompeu os canais de comunicação com a missão diplomática chinesa em Brasília.

Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. No ano passado, foi responsável por mais de um terço de todas as exportações brasileiras. Também em 2020, os dois países bateram a marca histórica de comércio, superando os US$100 bilhões.


ATAQUES DO GOVERNO BOLSONARO À CHINA

Comparação com Tchernóbil (18.mar.20)

Eduardo comparou a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas.

"Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste,mas q salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China [pela crise da Covid-19] e liberdade seria a solução", afirmou no Twitter.

Cebolinha (4.abr.20)

O então ministro da Educação, Abraham Weintraub, usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para fazer chacota da China e associar a pandemia de coronavírus a interesses do país asiático.

"Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", publicou.

"Comunavírus" (22.abr.20)

Em seu blog pessoal, o chanceler Ernesto Araújo publicou texto intitulado “Chegou o comunavírus”, em que diz que o medo causado pela nova doença “nos faz despertar novamente para o pesadelo comunista”, projeto que "já vinha se executando no climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo, do antinacionalismo, do cientificismo".

Segundo Araújo, isso fez com que o "comunavírus", que ele chamou de "vírus ideológico", fosse mais perigoso que a Covid-19.

"Não será comprada" (21.out.20)

Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, que havia anunciado acordo com São Paulo para a compra de doses da Coronavac.

"NÃO SERÁ COMPRADA", escreveu Bolsonaro em letras maiúsculas.

"Qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser COMPROVADA CIENTIFICAMENTE PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE e CERTIFICADA PELA ANVISA" e que "o povo brasileiro NÃO SERÁ COBAIA DE NINGUÉM", acrescentou.

Não transmite segurança (22.out.20)

"A [vacina] da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá", afirmou Bolsonaro, em entrevista à rádio Jovem Pan, em referência à Coronavac.

Testes suspensos (10.nov.20)

Em novembro, a Anvisa suspendeu os testes da Coronavac devido à morte de um dos voluntários, que não teve relação com a vacina, Bolsonaro escreveu nas redes: "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la. O presidente [Bolsonaro] disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha".

Espionagem chinesa (23.nov.20)

“O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”, escreveu Eduardo Bolsonaro no Twitter.

"O programa ao qual o Brasil aderiu pretende proteger seus participantes de invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas. Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista Chinês."

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