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Talibã submete dependentes químicos a abstinência forçada no Afeganistão

Para o regime fundamentalista que assumiu poder no país, situação dos usuários de drogas no país é intolerável

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Cabul | AFP

Silhuetas fantasmagóricas ocupam o vão da ponte Pul-e-Sukhta, ponto de descarte do esgoto em Cabul, entre sacos de areia, travesseiros, cobertores e seringas. São usuários de drogas, que se reúnem no local e por vezes morrem ali, longe dos olhos dos demais moradores da capital do Afeganistão.

A situação é intolerável para a polícia do Talibã, grupo fundamentalista islâmico que retomou o poder em meados de agosto. Mas a dependência de drogas é um problema sério no país: são cerca de 4 milhões de usuários, ou cerca de 10% da população, um recorde mundial apontado por relatórios internacionais.

Para lidar com os dependentes químicos, os talibãs multiplicaram recentemente blitze em locais como a ponte Pul-e-Sukhta para encaminhá-los a centros de reabilitação a exemplo do hospital Ibn Sina, situado em uma antiga base militar.

Em uma operação recente, dois combatentes armados com fuzis M16 e AK47 chegaram ao local, dispararam tiros de aviso e usaram violência para colocar os usuários em ambulâncias que então se dirigiram para o centro médico.

“É a política do emirado islâmico, [eles] detêm cada vez mais. Querem limpar a cidade daqueles que a sujam e, quando temos lugar, vão buscá-los” relata o médico Ahmad Zoher Sultani, diretor do hospital. “Atualmente, nossos mil leitos estão quase todos ocupados.”

O local não tem cobrado pelas internações há pelo menos quatro meses. Na manhã da última segunda-feira (18), Emal, 36, chegou arrastando os pés à sala de registro de novos pacientes, onde um voluntário o recebeu —alguns desses são ex-dependentes. Sem trabalho, o pai de três filhos foi admitido pela quarta vez no local.

Na sequência veio Bilal Ahmad, 22. Magro e aparentando estar assustado, ele se disse dependente de metanfetamina e afirmou ter passado pelo programa há um ano e meio. “Estou feliz de estar aqui”, relatou, ainda que seu olhar parecesse indicar o contrário. “Em 45 dias, se Deus quiser, poderemos voltar para casa.”

Na chegada, os dependentes são inspecionados minuciosamente. Em grupos de seis, são levados a um bloco onde ficam os chuveiros. Lá, recebem camisetas e calças, bastante largas para os corpos geralmente esguios, e xampu. Em seguida, barbeiros raspam suas cabeças —mas não a barba, conforme a determinação do Talibã para homens no Afeganistão.

Depois, são conduzidos a outro bloco, onde ficam os dormitórios. Dois enfermeiros medem a pressão arterial, o pulso cardíaco e a temperatura de cada um.

Os dependentes passam por uma reabilitação à força. Para os dependentes de ópio o centro admite a administração de pequenas doses de metadona, um opioide, para evitar crises de abstinência; mas os viciados em metanfetamina não recebem nada nos 45 dias de tratamento.

Durante esse período, os homens acabam passando o dia na cama, em quartos coletivos, ou agachados no pátio, aproveitando o sol —enquanto o outono (no hemisfério Norte) permitir.

No dia da admissão de Ahmad e Emal, um dos dormitórios estava ocupado por cerca de 30 homens, de todas as idades, deitados embaixo de cobertas. Um deles, com jeito infantil, tocava uma flauta de bambu. Outro, levando a mão à boca, dizia ter fome.

O centro tem quase um ano de reservas de alimento e oferece três refeições ao dia, segundo o médico Sultani, que mostra à reportagem da agência de notícias AFP um estoque cheio de sacos de arroz e conservas.

“Estamos em um bairro com má reputação”, diz. “Em 15 de agosto, o dia em que Cabul caiu nas mãos dos talibãs, centenas de pessoas vieram nos saquear. Mas resistimos, com nossos pacientes. Conseguimos tirá-los daqui.”

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