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Descrição de chapéu América Latina

Empresário ligado a Maduro é extraditado aos EUA, e Venezuela suspende negociações com oposição

Alex Saab é acusado de corrupção em Miami; em resposta, Caracas deteve executivos americanos

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Caracas e Miami | Reuters e AFP

Preso desde o ano passado devido a acusações de corrupção, o colombiano Alex Saab, considerado testa de ferro do ditador Nicolás Maduro, foi extraditado de Cabo Verde para os EUA neste sábado (16).

O governo em Caracas reagiu. Em comunicado oficial, denunciou o que chamou de “sequestro do diplomata venezuelano Alex Saab pelo governo dos Estados Unidos em cumplicidade com autoridades cabo-verdianas”. Saab recebeu nacionalidade venezuelana e o título de embaixador já depois de preso.

Pintura em muro de Caracas pede a libertação do empresário Alex Saab - Leonardo Fernandez Viloria - 9.set.21/Reuters

O regime chavista também anunciou que, diante da extradição do empresário, vai interromper o diálogo com a oposição do país, previsto para ser retomado neste domingo (17) na Cidade do México. Saab havia sido nomeado membro da equipe do governo venezuelano nas negociações com a oposição.

No México, o chefe da delegação opositora, Gerardo Blyde, pediu que o regime reconsiderasse a decisão e voltasse para a mesa de diálogo tão logo seja possível.

O empresário e seu sócio Álvaro Pulido, cujo paradeiro é desconhecido, são acusados nos Estados Unidos de dirigir uma rede que explorava um programa de distribuição de comida na Venezuela. Eles são suspeitos de transferir cerca de US$ 350 milhões (R$ 1,9 bilhão) para contas que controlavam no território americano e em outros países e podem ser condenados a até 20 anos de prisão.

Saab virou réu em 2019 por lavagem de dinheiro em Miami e foi preso durante uma escala de avião em Cabo Verde, na África, em junho de 2020. Após a extradição deste sábado, forças de segurança da Venezuela levaram a uma penitenciária seis executivos ligados aos Estados Unidos —cinco cidadãos americanos naturalizados e um com residência permanente— que já estavam em prisão domiciliar.

Presos desde 2017, os empresários do setor petroleiro foram condenados por corrupção no ano passado, em processos que o governo americano afirma serem recheados de irregularidades.

"Meu pai não pode ser usado como moeda de troca", disse Cristina Vadell, filha de Tomeu Vadell, um dos detidos. Ela afirmou estar preocupada com a saúde do pai devido à situação da Covid no país.

O líder da oposição, Juan Guaidó, celebrou a extradição. "Nós, venezuelanos, que temos visto a Justiça sequestrada há anos, respaldamos e celebramos o sistema de Justiça de países democráticos como Cabo Verde", escreveu no Twitter, rede na qual também lamentou a decisão de suspender o diálogo no México.

Além de Guaidó, o presidente colombiano, Iván Duque, também comemorou a extradição. No Twitter, escreveu que a ida de Saab aos EUA "é uma vitória na luta contra o narcotráfico, a lavagem de dinheiro e a corrupção que propiciou a ditadura de Nicolás Maduro". "A Colômbia apoiou e seguirá apoiando os Estados Unidos na investigação contra a rede criminosa transnacional liderada por Saab.”

Cabo Verde concordou no mês passado em extraditar Saab, apesar dos protestos da Venezuela. Os advogados do empresário afirmam que as denúncias americanas têm motivações políticas.

De acordo com analistas, o maior receio do regime chavista é o de que Saab dê informações à Justiça sobre rotas de dinheiro e esquemas de suborno. O governo tentou libertar o empresário uma série de vezes, afirmando que o colombiano sofria maus tratos e tortura na prisão. Uma marcha foi convocada para este domingo em Caracas. "Alex Saab, sequestrado pelo império", diz um cartaz colado na cidade.

"Nunca antes o chavismo fez tanto por alguém", disse à agência de notícias AFP o jornalista Roberto Deniz, que investiga o caso Saab e é procurado na Venezuela por "incitação ao ódio".

Filho de um empresário libanês radicado em Barranquilla, na Colômbia, Saab começou a trabalhar como vendedor de chaveiros promocionais antes de ingressar no setor têxtil, no qual chegou a ter cem armazéns que exportavam para mais de dez países, segundo biografias oficiais.

“Guiado por seu espírito de empresário cosmopolita, busca transferir sua capacidade empreendedora para além da fronteira” e se muda para a Venezuela “interessado no ramo da construção", relata uma série em seu canal no YouTube intitulada “Alex Saab, agente antibloqueio”.

O primeiro contrato que assinou na Venezuela foi em 2011, no palácio presidencial de Miraflores. À época, Maduro era chanceler do presidente Hugo Chávez, e um jovem Saab fechou uma “aliança estratégica” para “a constituição e instalação de kits para a construção de casas pré-fabricadas”. O então presidente colombiano, Juan Manuel Santos, participou do evento.

Foi com a chegada de Maduro à liderança do país que Saab se tornou "quase que imediatamente o empreiteiro consentido e, depois, seu ministro plenipotenciário" nos bastidores, destacou Deniz.

De acordo com o jornalista, o empresário ganhou um contrato para a construção de ginásios no valor de US$ 100 milhões, pagos antecipadamente, e um de petróleo com uma empresa fantasma sem experiência, que acabou caindo após reclamações de outras empresas do setor.

Em 2016, Maduro criou os Comitês Locais de Abastecimento e Produção, um plano de distribuição de alimentos subsidiados, em um momento de desabastecimento de mais de dois terços dos produtos básicos. Saab então se tornou um dos fornecedores, conseguindo importantes acordos comerciais.

Em 2018, de acordo com a versão relatada em sua série no YouTube, ele assumiu "como funcionário público" a missão de adquirir na Rússia e no Irã "alimentos, remédios, peças de reposição para as refinarias e diferentes empresas". Saab se orgulha, por exemplo, da rota de combustível iraniano que criou "por instruções, orientação e visão do presidente Nicolás Maduro."

​A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega classificou Saab como o "principal testa de ferro da autocracia" de Maduro e sua família e afirmou que a extradição dele "é uma conquista para aqueles de nós que buscam justiça contra os responsáveis pela tragédia e o caos que os venezuelanos vivem".

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