Siga a folha

Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Hospital pediátrico mostra o pior da guerra na Ucrânia

Centro de Zaporíjia recebe feridos de Mariupol, cidade ao sul sob cerco russo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Zaporíjia (Ucrânia)

O pior da guerra na Ucrânia pode ser visto nos leitos do hospital pediátrico de Zaporíjia.

Sob o som constante de sirenes que alertam para possíveis ataques aéreos, a cidade às margens do rio Dnipro se tornou o principal refúgio para civis fugindo da costa ucraniana no mar de Azov —principalmente de Mariupol, município portuário de 400 mil habitantes há três semanas sob intenso bombardeio.

Desde o final da semana passada, quando os primeiros civis conseguiram, em corredores humanitários, furar o cerco militar russo, o hospital recebeu ao menos seis crianças em estado grave.

Sala do hospital pediátrico de Zaporíjia - Andre Liohn/Folhapress

Nos quartos escuros, as janelas são tapadas por fita adesiva nos vidros e barricadas com sacos de areia, para impedir que estilhaços sejam lançados contra médicos, enfermeiros e pacientes em caso de explosões.

Ali Diana Feidulina, 13, acordou e lentamente tentava se lembrar do que havia acontecido a ela, à irmã e à sobrinha. A jovem passara horas antes por uma cirurgia para extrair um fragmento de bomba fincado pouco acima de sua testa.

No último dia 12, ela decidiu aproveitar a manhã de calor com a irmã, Natasha, 26, e a sobrinha Dominica, de apenas 4 anos. Aqueles raros momentos de silêncio e calma permitiram que as três respirassem pela primeira vez em dez dias um ar que não fosse o úmido e pesado do porão onde a família buscava proteção contra as bombas que atingiam a região próxima a sua casa, em Mariupol.

Foram cinco minutos sob o sol, que permitiram quase esquecer que a Rússia invadira a Ucrânia, até que uma bomba caísse ao lado das três. Diana teve ferimentos na cabeça, nos braços e na perna direita, com estilhaços de aço incandescente —um pedaço do metal ficou alojado no seu crânio.

Nos segundos seguintes ao som da explosão, só uma confusão, que não permitia que ela se lembrasse de como o ataque terminara.

No dia 17, Vadim Denisenko, conselheiro do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia, disse que quase nenhum prédio de Mariupol foi poupado dos ataques russos.

"Não há eletricidade, água potável, os moradores já não têm mesmo o que comer e nenhum serviço está funcionando —nem mesmo os mortos estão sendo tirados das ruas." De acordo com a pasta, só 10% dos moradores conseguiram fugir por conta própria da cidade.

"Os que estão aqui são os que tiveram sorte. No caminho há centenas de carros destruídos, deixados aos pedaços, com corpos jogados pelas ruas e ao longo da estrada", diz Kathia, recém-chegada de Mariupol. Ela e a família se dirigiram ao estacionamento de um shopping center na periferia de Zaporíjia, onde a administração da cidade montou um centro de acolhimento a pessoas que deixavam áreas de conflito ocupadas pelas tropas russas.

Muitos dos carros chegam com vidros quebrados, a lataria perfurada ou amassada, coberta por uma poeira fina mas persistente de cimento e terra. É comum ouvir de seus ocupantes que Mariupol não existe mais.

Em uma cama do hospital, o pequeno Artem, 2, assiste no celular de uma enfermeira a um vídeo infantil. Com um curativo no lado esquerdo da cabeça e um grande ferimento na barriga, ele se recupera de uma explosão que também feriu gravemente seus pais e avós enquanto a família tentava fugir da cidade portuária.

Ali perto, Valentina Feschenko aguarda aflita por notícias a respeito de sua neta. Masha, 15, teve a perna direita dilacerada pela explosão de um projétil russo na terça-feira passada, e o membro precisou ser amputado.

Num canto escuro do porão convertido em sala de espera, Volodimir, o pai de Diana, chora e se pergunta como algo tão ruim poderia ter acontecido à família. A bomba que caiu enquanto as duas filhas e a neta haviam saído do porão para respirar feriu uma delas e matou as outras duas.

"Olhei para o chão e lá estava minha netinha com a cabeça ferida", ele conta. "Ela ficou lá, sem respirar, ao lado da minha filha com as pernas fraturadas e ossos expostos." Dominica —cujas fotos o avô quase acaricia no telefone— morreu na hora; sua mãe não resistiu aos ferimentos no dia seguinte.

Volodimir tenta se manter forte para amparar sua segunda filha, Diana, que acaba de passar por uma cirurgia de emergência e quer saber onde estão a irmã e a sobrinha. O pai não consegue esconder a dor. "Deus, por que você trouxe tudo isso para mim? Eu não deveria enterrar minhas lindas meninas, eu falhei em protegê-las."

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas