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Descrição de chapéu África

Rei zulu é coroado na África do Sul em rito secreto após disputa por sucessão

País, que tem 11 milhões de pessoas do povo zulu, reconhece soberanos tradicionais em sua Constituição

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Nongoma (África do Sul) | AFP

Em um rito secreto, como manda a tradição, o novo rei zulu será coroado neste sábado (20) após uma longa disputa pela sucessão ao trono do lendário "povo do céu", o mais poderoso da África do Sul.

Os 11 milhões de zulus do país, que representam quase um quinto da população total, respondem com entusiasmo às ocasiões em que sua cultura é celebrada.

Membros do Palácio Real zulu cantam à espera da chegada do rei zulu, Misuzulu kaZwelithini, para sua coroação em Nongoma, na África do Sul - Rajesh Jantilal/AFP

Com 11 línguas oficiais, a África do Sul reconhece na Constituição soberanos e líderes tradicionais, que, apesar de não terem poder executivo, exercem autoridade moral e são reverenciados por seu povo.

Pela manhã, milhares de pessoas se reuniram para celebrar Misuzulu Zulu, 47, que agora será chamado de Misuzulu kaZwelithini, o sobrenome de seu pai, morto no ano passado após 50 anos de reinado.

Tropas de guerreiros "amaButho" —protetores do rei obrigados a jurar lealdade e respeito a ele durante a cerimônia— chegaram ao palácio, formando colunas repletas de lanças e escudos forrados de peles.

As mulheres vestiam trajes tradicionais, muitas das quais com saias plissadas e cintos de pérolas. Outras foram cobertas com tecidos estampados com a efígie do rei e a inscrição "Bayede" (salve o rei, em zulu).

Várias jovens dançavam de peito nu, revezando-se no centro de um círculo ao ritmo de cantos comemorativos, levantando as pernas bem alto e batendo os pés no chão empoeirado.

"Hoje o rei será reconhecido por toda a nação zulu", disse à agência de notícias AFP sua irmã, a princesa Ntandoyesizwe Zulu, 46, ao sair do palácio KwaKhangelamankengane na pequena cidade de Nongoma.

Segredo e morte de leão

Após a meia-noite, o soberano entrou no "curral de gado", uma espécie de templo da nação zulu em que um número restrito de homens se comunica com os ancestrais. Trata-se de um lugar secreto, que neste sábado foi protegido dos olhos dos outros com uma cerca de troncos. "É um lugar sagrado, não podemos revelar ao mundo o que está acontecendo lá", disse Mumntomuhle Mcambi, 34, um dos "amaButho".

Nesta semana, o rei matou um leão em uma reserva próxima, o último rito antes da coroação, de acordo com a tradição. Mas mesmo isso não acalmou as brigas que eclodiram no palácio nos últimos meses.

Disputa

O falecido rei Goodwill Zwelithini deixou seis esposas e pelo menos 28 filhos. A primeira esposa alega ser a única legítima e foi ao tribunal para resolver a questão. No sábado, seu clã anunciou que havia apresentado um apelo urgente para interromper a coroação.

Misuzulu Zulu é filho da terceira esposa, a favorita de seu pai. Ele próprio tem duas esposas e pelo menos quatro filhos. "Aqueles que são zulus e conhecem as tradições sabem quem é o rei", disse Themba Fakazi, conselheiro do ex-governante e defensor de Misuzulu Zulu.

Outros membros do palácio levantaram a voz para encerrar uma batalha que alguns dizem ter tornado o "povo do céu" motivo de chacota. Não se trata apenas da luta pelo trono, mas também pela fortuna real.

O rei zulu possui inúmeras terras geridas por um fundo do qual ele é o único administrador. São cerca de 30 mil quilômetros quadrados, uma área semelhante à da Bélgica, e quase 1.500 propriedades.

Conhecido pelo estilo de vida luxuoso, Zwelithini recebia US$ 75 mil por ano para suas despesas pessoais, além de um orçamento de US$ 4,2 milhões para o funcionamento do reino, segundo o diário oficial.

Nos próximos meses, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, selará a coroação ao reconhecer formalmente o novo rei zulu, esperando acabar com as rivalidades que ameaçam a paz no reino.

O prestígio do povo zulu se baseia nas façanhas de Chaka, o implacável guerreiro e criador de um exército que venceu uma sangrenta batalha contra o Império Britânico no século 19. Na época, guerreiros descalços, vestidos com saias de pele de macaco e braçadeiras, derrotaram um Exército regular. A imaginação fez o resto, e os historiadores os batizaram com o apelido de "os espartanos da África".

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