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Giorgia Meloni é nomeada primeira-ministra da Itália após processo acelerado

Juramento da ultradireitista deve ocorrer neste sábado, e governo assume poder na próxima semana

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Madri

A Itália oficializou nesta sexta-feira (21) seu 68º governo em 76 anos, e o primeiro da ultradireita desde o fim da Segunda Guerra. Giorgia Meloni, 45, se tornou a nova primeira-ministra, ao cumprir de forma abreviada as etapas burocráticas finais para ocupar o cargo.

A líder da coalizão vencedora das últimas eleições se reuniu com o presidente do país, Sergio Mattarella, e recebeu dele a tarefa formal de constituir um novo governo. Líder e fundadora do partido Irmãos da Itália, ela aceitou a incumbência "sem reservas", a exemplo do que haviam feito Giuseppe Pella, nos anos 1950, e Silvio Berlusconi em 2008 —o ato não é praxe no ritual político italiano, em que o futuro líder costuma pedir um tempo para consultar seus prováveis ministros.

Em vez de pedir esse tempo, porém, a primeira mulher que chefiará o governo no país já apresentou sua lista com 24 nomes para o gabinete. Na cerimônia de indicação, leu o nome errado para a pasta do Ambiente, antes de se corrigir e dizer que o posto iria para outro aliado.

Giorgia Meloni chega no palácio Quirinale, em Roma, para encontro com o presidente da Itália, Sergio Matarella - Guglielmo Mangiapane - 21.out.22/Reuters

A vitória inconteste da coalizão liderada pela ultradireitista, que garantiu maioria absoluta nas duas Casas do Legislativo, foi o que permitiu que a gestão se formasse a toque de caixa. O período entre a eleição e a tarefa de constituir o novo governo foi um dos mais rápidos da história recente da Itália: costuma ser superior a dois meses, mas Meloni o cumpriu em pouco menos de 30 dias.

A formação do gabinete excluiu, como era especulado, Berlusconi, 86, com quem a nova primeira-ministra trocou atritos públicos, mais e menos implícitos, nos últimos dias. O senador eleito garante que será conselheiro político da aliada.

Foram nomeados como vices o líder da Liga, Matteo Salvini, e o número dois do Força, Itália (abaixo de Silvio Berlusconi), Antonio Tajani. Eles receberam também as pastas da Infraestrutura e a das Relações Exteriores, respectivamente —o primeiro era cotado a voltar a chefiar o Interior, que lida com a questão migratória, cara para o ultradireitista.

Giancarlo Giorgetti, um político moderado da Liga, vai se encarregar do importante Ministério da Economia. Seus desafios não serão poucos, frente à crise energética pela qual passa a Europa e a alta do custo de vida que atinge o continente. Ele conta com a experiência de ter integrado o governo do antecessor de Meloni, o ex-banqueiro Mario Draghi, para tocar reformas do plano de recuperação pós-Covid em parceria com a União Europeia.

No total, a nova primeira-ministra indicou nove ministros de seu partido Irmãos da Itália, cinco do Força, Itália e cinco da Liga. Os cinco restantes são técnicos sem ligação direta com grupos políticos.

Berlusconi lutou para ter um ministro da Justiça de seu partido, indicando a ex-presidente do Senado Maria Elisabetta Casellati, mas a pasta foi entregue a Carlo Nordio, do partido de Meloni. Como um agrado ao líder do Força, Itália, ela indicou Caselatti para as Reformas Institucionais.

Sete mulheres foram nomeadas, entre elas Eugenia Roccella, no repaginado Ministério da Família, Natalidade e Igualdade de Oportunidades. Seu nome foi prontamente criticado por ativistas: Roccella é abertamente contra o direito ao aborto, a reprodução assistida e a ampliação dos direitos da população LGBTQIA+.

O próximo passo burocrático para oficializar o governo será o juramento de Meloni, previsto para ocorrer na manhã deste sábado (22). Na próxima semana, ela deverá receber votos de confiança do Parlamento.

Meloni será a primeira mulher a comandar a Itália. Herdeira política do fascismo, foi eleita em setembro para seu quinto mandato na Câmara. A coligação de ultradireita liderada por ela foi a vencedora nas eleições parlamentares, e como seu partido foi o mais votado, com 26%, o caminho estava pavimentado para o cargo de primeira-ministra.

Na manhã desta sexta, Mattarella já havia recebido, além de Meloni, Berlusconi e Salvini, para uma reunião de 11 minutos. Como não havia dúvidas ou disputas sobre o cargo de líder do governo, o presidente reconvocou a líder do Irmãos da Itália para um segundo encontro à tarde, no horário local, no qual ao final de uma hora oficializou a missão da nova liderança.

Na última quarta-feira (19), Meloni disse que seu governo será pró-Otan e pró-Europa, refutando críticas de que seria a favor de uma eventual saída da União Europeia. "A Itália conosco no governo nunca será o elo fraco no Ocidente", disse.

"Em uma coisa eu fui, sou e sempre serei clara. Pretendo liderar um governo com uma linha de política externa clara e inequívoca. Quem não concorda com essa pedra fundamental não pode fazer parte do governo." Como sinal disso, seu chanceler, Tajani, é um entusiasta do multilateralismo, tendo presidido o Parlamento Europeu.

O recado parece ter sido dado a Berlusconi. Em áudios divulgados nesta semana, o ex-primeiro-ministro reafirmou sua amizade de longa data e simpatia pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin —o italiano chegou a receber presentes do russo, o que violaria sanções impostas pela União Europeia. Ele ainda acusou o ucraniano Volodimir Zelenski de também provocar a guerra no Leste Europeu.

Meloni tem defendido a Ucrânia desde fevereiro, no início da invasão pela Rússia.


Destaques do gabinete de Giorgia Meloni

O ministério terá 24 nomes. Veja alguns dos principais:

  • Economia: Giancarlo Giorgetti, 55. Político veterano, visto como membro moderado e relativamente pró-europeu da Liga. Como ministro da Indústria no governo Mario Draghi, ajudou a bloquear uma série de ofertas de aquisição chinesas em setores estratégicos da economia italiana.
Giancarlo Giorgetti, ministro da Economia - Guglielmo Mangiapane - 13.out.22/Reuters
  • Vice-primeiro ministro e Relações Exteriores: Antonio Tajani, 69, é um dos assessores mais próximos do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, com sólidas credenciais da UE —liderou o Parlamento do bloco entre 2017 e 2019. É vice-líder do Força, Itália e, na juventude, apoiou um partido direitista pró-monarquia.
  • Interior: Matteo Piantedosi, 59. Funcionário público de carreira, foi chefe de gabinete do líder da Liga, Matteo Salvini, na pasta, entre 2018 e 2019, ajudando-o a moldar políticas linha dura contra a imigração irregular. É um tecnocrata sem filiação partidária e não tem experiência anterior como ministro.
  • Vice-primeiro ministro e Infraestrutura: Matteo Salvini, 49. Líder da Liga e ex-ministro do Interior. Assumiu o partido em 2013, então uma pequena sigla regional envolvida em escândalos, e o transformou em força nacional.
  • Indústria: Adolfo Urso, 65. Filiado ao Irmãos da Itália, iniciou a carreira política na organização juvenil do Movimento Social Italiano, partido pós-fascista criado em 1946. Foi eleito para o Parlamento pela primeira vez em 1994. No Legislativo, instou o governo Draghi a proteger indústrias consideradas de importância estratégica de aquisições estrangeiras.
  • Defesa: Guido Crosetto, 59. Lobista da indústria de defesa, assessor próximo de Meloni e cofundador de seu partido. Parlamentar de longa data, com quase 2 metros de altura e careca, é apelidado de "o gigante gentil" ou Shrek, em referência ao personagem. Serviu como ministro júnior da Defesa no governo Berlusconi de 2008 a 2011.
  • Justiça: Carlo Nordio, 75. Parlamentar do Irmãos da Itália, é ex-promotor de Veneza. Era feroz oponente do grupo que liderou a operação anticorrupção Mãos Limpas, nos anos 1990.

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