Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Itália à direita

Fascismo ronda 1ª mulher a liderar país, mas política tende a coibir extremismo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Giorgia Meloni, que deve ser a primeira-ministra da Itália - Andreas Solaro/AFP

A vitória da coalizão de ultradireita liderada pelo partido Irmãos da Itália, no pleito de domingo (25), abriu o caminho para a chegada da primeira mulher ao poder na história da península europeia.

Aos 45 anos, Giorgia Meloni traz consigo outra novidade, além do gênero —ela encarna a volta dos herdeiros de Benito Mussolini à liderança da nação onde o fascismo nasceu, há um século.

Meloni começou na política em meio ao terremoto da Operação Mãos Limpas, aos 15 anos. Aderiu ao Movimento Social Italiano, principal sigla neofascista do pós-guerra, e quatro anos depois já concedia entrevistas como liderança emergente —elogiando Mussolini.

Assim como Jair Bolsonaro (PL), ela adotou o lema salazarista "Deus, Pátria e Família". Pautou a carreira política com uma agressiva retórica xenofóbica e anti-imigração, de grande ressonância devido ao posto italiano de primeira parada de muitos refugiados das guerras africanas e do Oriente Médio.

A inspiração fascista sempre grassou pela política italiana. O homem que herdou a ruína deixada pelas Mãos Limpas —um processo não muito distante do ocorrido com a Lava Jato no Brasil— foi o magnata Silvio Berlusconi, de perceptíveis afinidades ideológicas com o Duce.

Agora, o partido que Meloni lidera desde 2014 saiu majoritário na coalizão vencedora no domingo. Recebeu cerca de 26% dos votos, tendo como parceiros a Liga, de Matteo Salvini (9%), e a Força Itália, do próprio Berlusconi (8%).

Celebraram a vitória a francesa Marine Le Pen, os governos da Hungria e da Polônia, os ultradireitistas da Alternativa para a Alemanha e os populistas do partido espanhol Vox. No Brasil, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho mais saliente do presidente da República, fez festa em rede social.

Todavia, se todas essas credenciais dispararam o temor do radicalismo na Europa, cumpre levar em consideração a turbulenta dinâmica da política italiana, que colecionou até aqui nada menos que 67 governos de coalizão desde 1946.

No poder, como Berlusconi demonstrou, pode haver corrosão institucional e degradação de práticas políticas, mas a necessidade de estabilidade mínima e o peso da Itália na União Europeia sugerem busca por harmonização de forças.

A própria montagem do governo, processo lento, afigura-se um desafio, dada a insatisfação da Liga com a perda de seu protagonismo.

Meloni já fez acenos ao centro. Em seu discurso de vitória falou em "unir e governar para todos os italianos". Ademais, sempre criticou a invasão russa da Ucrânia, enquanto Salvini e Berlusconi apoiam Vladimir Putin, naquilo que deve ser um dos primeiros testes acerca dos rumos da primeira-ministra.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.