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Scholz pede que Xi use influência da China sobre Putin para deter guerra

Em meio a crise na Europa, premiê alemão visita Pequim, que estreita laços com Moscou

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São Paulo

O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, disse ter usado seu encontro com Xi Jinping nesta sexta-feira (4) para pedir que o líder da China convença o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a dar um ponto final à Guerra na Ucrânia.

"É importante que a China use sua influência sobre a Rússia", disse o líder alemão ao narrar a reunião à imprensa, acrescentando que o país invasor deve "parar imediatamente os ataques que atingem diariamente a população civil e se retirar da Ucrânia".

Scholz afirmou ainda que ele e Xi concordam que as ameaças nucleares russas são "irresponsáveis e incendiárias". "Ao usar armas do tipo, a Rússia estaria cruzando uma linha que a comunidade internacional traçou em conjunto."

O premiê alemão, Olaf Scholz, e o líder chinês, Xi Jinping, no Grande Salão do Povo, em Pequim - Kay Nietfeld/Reuters

Scholz foi o primeiro dirigente europeu a visitar Pequim desde o início da pandemia, numa viagem cujo objetivo era estreitar laços com aquele que é seu maior parceiro comercial. A excursão foi, no entanto, mal vista por seus conterrâneos e recebeu até mesmo críticas de aliados, que se dizem preocupados com a possibilidade de que a Alemanha, cuja dependência do gás russo em meio à Guerra da Ucrânia provocou uma crise energética, simplesmente se sujeite a outro regime autoritário.

A conversa de Scholz e Xi abarcou vários dos assuntos que ocuparam as manchetes recentes. A exportação de grãos ucranianos, dificultada pela Rússia; as acusações de violações de direitos humanos por parte do regime; o avanço das mudanças climáticas —tudo esteve no cardápio.

Sobre os cereais, Scholz disse que pediu a Xi para "participar ativamente na luta contra a fome no mundo" e afirmou que "a fome não deve virar outra arma". Sobre o respeito aos direitos humanos e às minorias, disse que deixou claras as convicções da Alemanha diante do tema, mas que a reunião demonstrou que "há diferenças entre os nossos dois países".

A China é acusada de reprimir e fazer detenções arbitrárias contra os uigures, minoria muçulmana que ocupa a região de Xinjiang, no oeste do país. Também é alvo de críticas pela repressão a ativistas pró-democracia em Hong Kong, ex-colônia britânica cada vez mais alinhada ao regime central de Pequim.

Xi, em resposta, segundo a agência de notícias estatal Xinhua, teria alertado o premiê de que a confiança mútua entre duas nações é fácil de destruir, mas difícil de reerguer. Ele também afirmou que a China e a Alemanha devem respeitar um ao outro e se atentar aos seus respectivos interesses, descrevendo o contexto internacional atual como "complexo e volátil".

Scholz ainda se reuniu durante a viagem com o atual primeiro-ministro chinês, Li Keqiang. Segunda maior autoridade do regime e responsável pela economia, ele está prestes a sair do cargo —deve ser substituído por Li Qiang, escolhido para o Comitê Permanente no último Congresso do Partido Comunista Chinês.

Durante o encontro, o alemão afirmou que seu país não pretende se dissociar da China, com quem negociou um volume de € 246,5 bilhões (R$ 1,2 trilhão) só em 2021. Keqiang, por sua vez, disse estar disposto a intensificar a cooperação com a Alemanha em uma série de áreas-chave, incluindo comércio, investimento, manufatura e vacinas.

A conversa ainda tratou de Taiwan, outro tema sensível para Pequim. A ditadura comunista alega que a ilha pertence a seu território e nunca renunciou ao uso da força para controlá-la. Scholz reforçou que respeita a política da "China única", mas também destacou que "qualquer mudança no status de Taiwan deve ser pacífica e de consentimento mútuo".

O tom adotado pelo alemão foi parecido com o de um comunicado emitido pelo G7 –fórum de nações ricas– nesta sexta. No documento, os países pedem que a China se abstenha de "ameaças, coerção, intimidação ou uso da força", uma referência não tão velada às crescentes tensões no Estreito de Taiwan.

O grupo também disse que continua "seriamente preocupado com a situação dentro e ao redor dos mares do Leste e do Sul da China". Em agosto, Pequim liderou uma série de exercícios militares na região em resposta à visita da presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan.

Coube ainda na declaração críticas às supostas violações de direitos humanos em Xinjiang e no Tibete, além de menções à "erosão contínua dos direitos, das liberdades e da autonomia de Hong Kong".

De volta a Pequim, Scholz e Li saíram da reunião com um acordo que permite que o imunizante contra Covid da alemã BioNTech seja aplicado em expatriados na nação asiática —o que explica a presença de um executivo da empresa na delegação que acompanhou Scholz.

A vacina será a primeira de um fabricante estrangeiro a ser administrada pelos chineses, e o premiê alemão disse que os pressionou para que ela seja disponibilizada a toda a população chinesa.

O acordo é anunciado ao mesmo tempo em que surgem rumores de que Pequim pretende extinguir sua controversa política de Covid zero, o que o regime não confirma. Scholz e a delegação que viajou com ele foram dispensados das restritivas medidas associadas ao controle da pandemia, tendo sido apenas submetidos a testes de coronavírus ainda no avião, logo após o pouso.

Com AFP e Reuters

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