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Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Ex-motorista de ônibus e fiel a Chávez, saiba quem é Nicolás Maduro

Reeleito, ditador fez alianças dentro do regime e com as Forças Armadas para conseguir se manter no poder em meio a múltiplas crises

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São Paulo

"Elejam Nicolás Maduro como presidente da República Bolivariana da Venezuela", afirmou Hugo Chávez, no fim de 2012, ao anunciar que precisaria fazer um novo tratamento para o câncer que o afetava desde o ano anterior.

A instrução do líder venezuelano para votar em seu então vice-presidente seria repetida à exaustão em alto-falantes durante a campanha à Presidência posterior à sua morte, em março de 2013. A disputa foi acirrada, mas Maduro conseguiu, com 50,7% do votos, dar vitória ao chavismo na ausência do líder. Neste domingo (28), sob contestação da oposição, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) anunciou o triunfo do ditador contra Edmundo González, seguindo para um terceiro mandato.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante comício de encerramento de sua campanha, em Maracaibo - AFP

Ex-motorista de ônibus e ex-líder sindical, Maduro nasceu em Caracas, em 1962, e se tornou uma síntese do projeto chavista: um homem simples e engajado que ascendeu e trabalhou para colocar em prática o socialismo do século 21.

Ele conheceu Chávez na primeira tentativa de golpe de Estado de 1992 na Venezuela, gestada pelo então tenente-coronel. O líder foi preso, e Maduro se tornou um ativista por sua libertação no ano seguinte.

Na política formal, o ditador chegou ao posto de presidente da Assembleia em 2005 e, em 2006, virou ministro das Relações Exteriores. A dedicação a Chávez se estendeu até as últimas semanas de vida do líder, nas quais Maduro era uma das figuras mais recorrentes no hospital em que ele estava internado, em Cuba.

"Chávez delegou a Maduro a possibilidade de continuar o processo que havia iniciado —com um problema muito sério", afirma Nelly Arenas, doutora em ciência política e professora da UCV (Universidade Central da Venezuela). "O carisma não se transfere."

Em seus primeiros anos à frente do país, Maduro enfrentou resistência dentro do chavismo e entre a população.

"Chávez arrastava multidões, gerava paixões. Ele era um líder querido, encarnava, para as pessoas, a possibilidade de uma vida melhor", diz Arenas. "Essas são qualidades que não estão presentes em Maduro. Tanto que, à luz do significado dos movimentos populistas, poderíamos dizer que ele não é um líder populista. Uma das características dessas lideranças é expressar o sentimento das massas e ter o apoio da população."

Para se manter no poder, Maduro precisou compensar sua falta de carisma com uma habilidade política que ele não tinha expressado até chegar ao topo do regime.

Segundo Colette Capriles, professora de filosofia política da Universidade Simón Bolívar, o movimento que Chávez criou em torno de sua figura abriga grupos que tinham suas diferenças neutralizadas pela autoridade do líder enquanto ele estava vivo. Após sua morte, essas cisões afloraram e desestabilizaram o poder de Maduro, então um líder emergente.

A primeira medida tomada por Maduro foi se associar a grupos estratégicos do chavismo, desenvolvendo uma base própria dentro do movimento especialmente por meio da aliança com Jorge e Delcy Rodríguez, presidente da Assembleia e número dois do regime, respectivamente. A segunda foi afinar a relação com as Forças Armadas, que tinham uma posição de subordinação a Chávez.

"Maduro estabeleceu uma relação mais de igual para igual, de aliança com as Forças Armadas. Quando vemos a legislação em torno do tema nos últimos dez anos, é impressionante perceber como os militares ganharam autonomia", afirma Capriles. "Isso mostra um nível de pragmatismo em Maduro. Ele não é um homem dogmático."

Com esse arranjo, o ditador conseguiu sobreviver a centenas de sanções, um presidente autoproclamado e uma hiperinflação que chegou aos impressionantes 130.060% em 2018. A repressão do regime, por óbvio, fez sua parte também na manutenção do poder —os protestos de 2017, por exemplo, deixaram pelo menos cem mortos.

A despeito da face bruta da ditadura venezuelana, Maduro fez campanha para passar uma imagem mais jovem por meio de vídeos com dança nas redes sociais, podcasts nos quais conta seu prato preferido e programas de auditório. Projetou a ideia de um homem comum, no lugar da aura mítica de seu antecessor. Ao menos pela contagem oficial do CNE, em meio aos questionamentos do antichavismo, deu certo.

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