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Lula visita Chile em meio a divergências com Boric sobre Venezuela

Viagem terá encontro com empresários, assinatura de acordos e 'elefante na sala' com crise no país vizinho

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a Santiago, no Chile, na noite deste domingo (3), para uma visita de Estado ao Chile, em meio a divergências com o homólogo Gabriel Boric sobre Venezuela.

A viagem, cujo objetivo é celebrar acordos entre os países, deveria ter ocorrido em maio, mas foi adiada por causa das enchentes no Rio Grande do Sul. Agora, coincide com a crise na Venezuela, principal ponto de discordância entre os dois governantes.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, durante encontro com Lula no Palácio do Itamaraty em Brasília no ano passado - AFP

Com o adiamento, foi possível ampliar o número de acordos, que chega a quase 20 em setores que vão desde direitos humanos até ciência e tecnologia. Além disso, Lula participará de encontro realizado pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) que reunirá cerca de 500 empresários brasileiros e chilenos.

O Itamaraty e o Planalto buscam não ofuscar a agenda positiva com a controvérsia do momento. Mas, como disse um auxiliar de Lula, a Venezuela é um elefante na sala e será tratado na reunião bilateral entre os presidentes.

Na eleição no último dia 28, o órgão eleitoral da Venezuela declarou Nicolás Maduro como vencedor, mas a oposição acusa o regime de fraude e se diz ganhadora do pleito e uma contagem paralela dos votos. Chile e Brasil tiveram reações diferentes.

Boric, já no dia seguinte, disse que os resultados eram "difíceis de acreditar", aproximando-se de países mais à direita na região, como a Argentina, que de pronto puseram o processo eleitoral sob suspeição.

Já o governo brasileiro tem procurado uma solução diplomática com outros países governados pela esquerda na região, caso de Colômbia e México. A postura é de não reconhecer a reeleição de Maduro, mas tampouco declarar a vitória do opositor Edmundo González, e pedir uma verificação imparcial dos resultados da eleição, com a apresentação das atas de votação.

Quando rompeu o silêncio sobre a disputa envolvendo o aliado antigo, Lula disse não ver "nada de anormal" em relação à situação venezuelana.

"Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que [Maduro] teve 51%, teve uma pessoa que disse que [González] teve 40 e pouco. Um concorda, o outro não", afirmou. Segundo o presidente, quem deveria arbitrar a decisão era a Justiça venezuelana, controlada pelo regime.

A repercussão negativa da declaração fez Lula evitar comentar o caso novamente em público e ofuscou uma ligação do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na qual ele destacou o papel do Brasil de mediador da crise na região.

Dois dias depois do telefonema, Washington decidiu reconhecer González como presidente eleito na Venezuela. Na avaliação de auxiliares de Lula, a atitude não inviabiliza, mas prejudica a solução diplomática buscada por Brasil, Colômbia e México.

Há uma avaliação no entorno de Lula que a reação de Boric a Maduro foi motivada por política doméstica. O Chile é um dos países da América do Sul mais afetados pelo êxodo de venezuelanos, assim como o Brasil, mas a presença é proporcionalmente maior em relação à população local. Os chilenos já receberam 532 mil, ante 568 mil em território brasileiro. O Chile, porém, tem apenas 19,6 milhões de pessoas, contra 215 milhões do Brasil.

Segundo o professor da Universidade Federal de Roraima João Carlos Jarochinski, especialista nesta temática, o governo Boric mantém políticas que dificultam a regularização dos venezuelanos, o que ele vê como uma posição contraditória em relação à esquerda tradicional latino-americana. "A questão da migração e de grupos criminosos organizados é algo que sempre gera problemas", afirmou, em referência à facção venezuelana Tren de Aragua, que está presente no Chile.

Lula e Boric estiveram juntos no ano passado, durante a cúpula Celac-UE, num episódio que também foi marcado pela divergência em torno da Guerra da Ucrância.

O chileno criticou autoridades latino-americanas que não concordaram com a inclusão de uma menção à Rússia no comunicado final. Lula reagiu e o chamou de "sequioso e apressado".

Agora, nesta primeira visita oficial do presidente brasileiro ao Chile, o governo busca destacar agenda de assinatura de acordos, reunião com presidentes dos três Poderes e empresários.

Nesta segunda (5), Lula será recebido com tradicional honraria de chefe de Estado no Palácio de La Moneda, sede do governo. Estará acompanhado de uma comitiva de cerca de dez ministros, dentre eles, Carlos Fávaro (Agricultura), Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).

Primeiro, haverá uma conversa bilateral entre os chefes de Estado. Depois, uma reunião ampliada e a assinatura de acordos.

Em seguida, Lula visitará os presidentes do Senado, José García Ruminot, da Câmara, Karol Cariola Oliva, e da Corte Suprema, Ricardo Blanco Herrera.

Depois, terá audiências com o secretário-executivo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, órgão vinculado às Nações Unidas), José Manuel Salazar-Xirinachs, e com o CEO da Latam, Roberto Alvo. O Brasil é o terceiro país que mais exporta para o Chile, enquanto este é o quinto do qual o Brasil mais importa.

Dentre os principais produtos brasileiros que chegam aos chilenos estão petróleo, carne e veículos. No sentido contrário, o item chileno mais importado pelo Brasil é o cobre, seguido de pescado e de outros minérios.

No último dia, Lula terá ainda reunião com a prefeita de Santigo, Irací Hassler, filha de uma brasileira. E, por último, uma agenda da inauguração de pedra fundamental do centro espacial chileno.

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