Siga a folha

Rússia derruba 2/3 da capacidade energética da Ucrânia

Blecautes diários devido a ataques atormentam moradores, que temem inverno no escuro

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

A Guerra da Ucrânia já comprometeu 2/3 da capacidade de produção energética do país invadido por Vladimir Putin em 2022, e uma nova onda de ataques ao sistema ameaça provocar um êxodo de grandes cidades no inverno.

A conta é da Ukrenergo, a estatal de energia do país, e inclui subestações destruídas ou com operação reduzida, além da tomada da usina nuclear de Zaporíjia pelos russos, que tirou de uma só vez 24% da geração do país.

Outdoor com propaganda de recrutamento segue ligado em meio a blecaute no centro de Kiev - AFP

Só nesta quinta (12), a Rússia lançou 64 drones contra o vizinho, que disse ter derrubado 44 deles. Os que passaram e os destroços dos abates, contudo, provocaram apagões em três regiões, além de terem ferido 14 pessoas em Sumi, no norte do país.

A ação faz parte da escalada promovida por Moscou nas três últimas semanas, que viram o maior ataque aéreo contra o país na guerra e diversos bombardeios pontuais. Os ucranianos revidaram com suas duas maiores ofensivas com drones também, com efeitos limitados.

Os populares canais de alerta de ataques aéreos, que complementam as sirenes para avisar moradores a procurar abrigo, agora trazem também as previsões de blecaute programados para reconstrução da rede e economia de energia.

Nesta quinta, eles indicavam que nove grades cidades, incluindo Kiev e Kharkiv, primeira e segunda mais populosas, respectivamente, ficaram parcialmente sem eletricidade das 13h à meia-noite. Outras nove regiões também seriam afetadas.

"É um inferno. No inverno, não sei como será, talvez tenha de ir para a Polônia", disse por mensagem Anton Djuba, um professor de inglês de Kharkiv. Ele já saiu do país no começo da guerra, incluindo o contingente de 6,2 milhões de ucranianos que, segundo a ONU, fizeram o mesmo rumo a vizinhos europeus.

As cidades ucranianas são servidas por sistemas centralizados de energia, herança soviética, usualmente expostos a ataques. Sem eletricidade, falta luz e água, devido à perda de bombas. Pior, com o outono chegando em dez dias e o inverno à frente, o sistema de aquecimento central dos municípios pode parar.

Ele funciona com o bombeamento de água quente por dutos que abastecem os prédios, chegando aos aquecedores em apartamentos e escritórios. Com as temperaturas baixas registradas na Ucrânia, ainda há o risco adicionado de a água que estiver parada nos canos congelar e os romper.

Nos dois invernos passados sob a guerra, os ucranianos já haviam sofrido bastante com as ações russas. Elas começaram em outubro de 2022, inicialmente como uma revanche pelos ataques de Kiev contra a ponte que liga a Rússia continental à Crimeia anexada, mas tornaram-se padrão.

Estudo do britânico Royal United Services Institute, o mais antigo centro de estudos estratégicos do mundo, mostrou há um mês que a Ucrânia costuma consumir 18 GW durante o inverno em condições normais. Hoje, o país só gera 9 GW, ante os 25 GW que produzia antes da guerra, o que dá ideia do racionamento à frente.

As capacidades de importação são limitadas a cerca de 1,5 GW. O cenário grave derrubou a cúpula da Ukrenergo na semana passada, quando Volodimir Zelenski promoveu a maior mexida em seu governo até aqui, visando concentrar poderes e combater críticos de sua estratégia.

Sem citar a polêmica invasão da região russa de Kursk, que está sendo alvo de uma contraofensiva agora, o presidente saiu atirando.

Volodimir Kudristski, que estava no cargo desde 2020 e conseguiu o equivalente a R$ 9,3 bilhões em empréstimos externos para reparar os danos ao sistema até aqui, afirmou que sua demissão foi "politicamente motivada e sem sentido".

O cenário agrega pressão sobre Zelenski, que na quarta (11) implorou novamente a EUA e Reino Unido para que possa atacar bases distantes no território russo com mísseis de longo alcance ocidentais. Ouviu um não, mas o assunto está em debate: os aliados temem uma escalada em caso de tal autorização ser dada.

Nesta quarta, o Kremlin voltou a dizer que qualquer ação do tipo provocará uma "dura reação". Dona do maior arsenal atômico do mundo, a Rússia tem sacado a carta nuclear ao longo da guerra, tendo sucesso relativo em modular o apoio bélico a Kiev.

Zelenski argumenta que, se mostrar que pode atingir o coração logístico da Rússia, Putin irá aceitar negociar. Enquanto isso parece duvidoso, o ucraniano segue rejeitando propostas que não sejam a sua para a paz.

Em entrevista ao site brasileiro Metrópoles, publicada nesta quarta, ele criticou a oferta do Brasil e da China para negociações como "destrutiva", e voltou a chamar o governo Lula (PT) de "pró-Rússia".

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas