Brasil evita críticas à Rússia em reunião sobre ataque à usina nuclear na Ucrânia

Conselho de Segurança da ONU fez reunião emergencial para debater situação

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Washington

Em reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, realizada nesta sexta-feira (4), o Brasil evitou críticas diretas à Rússia devido ao incêndio na usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, ocorrido em meio à invasão russa do país, e pediu moderação aos dois lados.

"O Brasil convoca todas as partes para se absterem de qualquer medida ou ação que possa colocar em risco a segurança de materiais nucleares, assim como a operação segura de todas as instalações nucleares da Ucrânia", disse Ronaldo Costa Filho, representante brasileiro nas Nações Unidas.

"Parece que não importa quantas reuniões públicas façamos, o cessar-fogo e o fim das hostilidades permanecem como ilusão. O Brasil convoca todos os membros aqui a se engajar verdadeira e ativamente para promover o diálogo e construir confiança. Não é hora de escalar mais a retórica, mas de se engajar em conversas na direção da paz", defendeu o embaixador.

Reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York
Reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York - Mark Garten - 2.mar.22/UN Photo/Divulgação

Na noite de quinta-feira (3), de acordo com o governo ucraniano, forças russas atacaram e tomaram o controle da usina nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia. Houve um incêndio em um dos prédios durante o ataque, que foi controlado. Ao menos três soldados ucranianos morreram e dois ficaram feridos em decorrência da ação, segundo a agência nuclear do país.

A Rússia nega ter atacado o local. O representante russo na ONU, Vasili Nebenzia, culpou sabotadores ucranianos pelo incêndio. Ele diz que a região da usina já estava sob controle de militares russos desde segunda (28) e que, na quinta, um grupo de nacionalistas teria atacado uma patrulha moscovita perto da usina, o que gerou uma troca de tiros e o incêndio em um dos prédios do complexo. Nebenzia afirma que a situação foi controlada e que não há risco de vazamento de material nuclear.

"A segurança das instalações está sendo garantida de forma conjunta entre as Forças Armadas russas e operadores ucranianos. Nossos militares não estão interferindo no trabalho dos operadores das usinas. Eles se limitam a garantir a segurança", disse. Nebenzia afirmou que as acusações de que a Rússia teria atacado a usina são parte de "uma campanha sem precedentes de mentiras e desinformação".

Já o representante ucraniano, Serguei Kislitsia, disse que a tomada da usina foi um ato de terrorismo nuclear. "É alarmante que vários funcionários responsáveis por manter a segurança nuclear no local tenham sido mortos por russos. Não tem havido troca das equipes desde ontem de manhã", disse.

"A Rússia parece furiosa porque seus planos de uma invasão rápida têm falhado, o povo ucraniano continua a lutar com coragem por sua liberdade e pela solidariedade mundial com a Ucrânia."

A reunião do Conselho de Segurança começou por volta de 11h40 em Nova York (13h40 em Brasília) e terminou depois de uma hora e meia, sem o anúncio de medidas. No começo do evento, Rosemary DiCarlo, subsecretária-geral da ONU, apontou que atacar usinas nucleares é um ato que viola a lei internacional, especificamente o artigo 56 da Convenção de Genebra. "Operações militares em áreas nucleares e outras infraestruturas civis importantes não são apenas inaceitáveis, mas irresponsáveis."

"De um ponto de vista técnico, a operação [da usina] continua normalmente, embora obviamente não haja normalidade em uma situação em que forças militares estão no comando da instalação", disse Rafael Grossi, diretor da IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica), ao conselho, por chamada de vídeo.

"Escapamos por pouco de um desastre na noite passada. Putin tem que parar esta loucura, e ele deve parar isso agora. Forças russas estão agora a 32 km da segunda maior instalação nuclear da Ucrânia. Então o perigo iminente continua", alertou a representante dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield.

Zaporíjia, construída entre 1985 e 1989, é o maior complexo de energia nuclear da Europa. Tem seis reatores que produzem 5,7 gigawatts, suficiente para alimentar 4 milhões de casas, e gera cerca de 25% da energia ucraniana, o que a torna um ativo central para qualquer força invasora. Sua localização tem importância estratégica, por estar a cerca de 200 km da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.​

O Conselho de Segurança é o único órgão da ONU com poder para intervir em conflitos internacionais, aplicando sanções ou enviando missões de paz. Essa instância é formada por 15 países, cinco dos quais com assentos permanentes e com poder de veto e outros dez em vagas rotativas —o Brasil atualmente ocupa uma posição temporária. Como a Rússia é membro fixo, pode barrar medidas contra si mesma.

Na quarta (2), a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma resolução condenando a invasão da Rússia pela Ucrânia, por 141 votos a favor e 5 contra. O Brasil votou a favor da moção, mas fez ressalvas.

"A resolução não vai longe o suficiente em ressaltar que o fim das hostilidades é só um primeiro passo para atingir a paz. A resolução não pode ser vista como permissiva em relação à aplicação indiscriminada de sanções e ao envio de armas. Essas iniciativas não são condizentes com a retomada do diálogo diplomático construtivo. E geram risco de maior escalada das tensões, com consequências imprevisíveis", disse o embaixador Costa Filho, naquela ocasião.

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