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Colcha de retalhos

Na ONU, Bolsonaro afaga vários nichos em que se apoia sua popularidade cadente

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU - Lucas Jackson/Reuters

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Não foi a primeira vez, nem terá sido a última, que um presidente brasileiro aproveitou o palanque anual da semana de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas para dar recados domésticos. Esse hábito tem sido cultivado por chefes de muitos outros Estados que discursam em Nova York nessa ocasião.

A fala de Jair Bolsonaro (PSL) tampouco inovou no conteúdo. Faz tempo que o mandatário desistiu de elevar o apoio popular a seu governo, o que requereria moderação, e passou a radicalizar o discurso para galvanizar seu núcleo mais fiel de sustentação. Pregou, mais uma vez, para os convertidos.

Em sua trôpega elocução, reiterou a falácia de que o Brasil estava à beira do “socialismo” quando ele venceu as eleições e fez novo elogio, este velado, à ditadura implantada em 1964. Também atiçou a imaginação delirante de seus hooligans ao mencionar a ameaça que um tal Foro de São Paulo significaria para a democracia no Brasil.

A pequena e ruidosa torcida decerto exultou diante de acusações sem fundamento à imprensa, chamada de mentirosa e partidária.

A minoria de brutamontes disposta a atropelar os indígenas e as cautelas ambientais no Brasil também há de ter saído satisfeita com as críticas genéricas a ONGs, à quantidade de terras sob usufruto dos povos originários e a propalados interesses colonialistas de nações estrangeiras na Amazônia.

A inserção de palavras de solidariedade aos perseguidos por motivos religiosos, bem como as invocações de Deus e do bordão de campanha inscrito no Evangelho de João, afaga interesses de igrejas e pastores, além de um público, este sim volumoso, que avalia o governo Bolsonaro acima da média nas pesquisas de popularidade.

Pílulas de pragmatismo que o presidente brasileiro veio sendo obrigado a engolir, sem convicção, para manter o mínimo de governabilidade também se fizeram sentir na fala. Foi o caso das referências à abertura da economia —seja internamente, seja para o exterior.

Mas esse aspecto, que deveria sobressair no discurso se o objetivo fosse atrair investimentos e interesse econômico para o Brasil, ficou tão dissolvido que nem sequer a reforma da Previdência, uma das mais impactantes alterações fiscais já propostas em décadas, foi lembrada ao longo da apresentação.

Como o interesse primordial do presidente era reforçar seus laços com uma miríade de nichos de fidelidade, o resultado foi uma colcha de retalhos mal cerzida. Dela não se extrai pensamento ou doutrina minimamente coerentes.

Agressões e provocações que permearam a fala de Bolsonaro a esta altura já não causam surpresa, embora mereçam o mesmo repúdio.

editoriais@grupofolha.com.br

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