Tristeza e indignação
Plano de concessão do complexo do Ibirapuera é deformação do espaço público
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É com tristeza e indignação que acompanhamos em São Paulo a situação do Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, que abriga o ginásio do Ibirapuera, piscinas, quadras e pista de atletismo, entre outros equipamentos públicos.
Trata-se de um patrimônio construído e gerido com dinheiro público, dedicado ao esporte, à educação, à cultura e ao lazer, que pode ser entregue à iniciativa privada para gerar lucros através de um centro de comércio e consumo, com deformação do espaço público com o acréscimo de áreas construídas, verticalizadas —como se faltassem shoppings e torres na cidade.
Tristeza e indignação, também, ao assistir a gestores e arquitetos justificarem, pela desatualização das instalações, a destruição de equipamentos públicos.
Ao Estado cabe zelar pelos bens públicos, manter e aprimorar, e não descaracterizar e destruir. Nossos representantes foram eleitos para gerir, e não para desmontar ou desfazer o que é da sociedade, transferir o público para o privado —o chamado sucatear para “entregar”.
Traições ao país configuram o “governar” atual, desfazendo o que foi construído em décadas. Nós, arquitetos, sabemos que construir leva anos para a elaboração de programas, projetos, construção, implantação e operação —ao passo que o desfazer e demolir é rápido, quase instantâneo.
No último dia 22 de outubro, véspera da reunião do Conselho do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) para tratar do tombamento do ginásio do Ibirapuera, foi o aniversário de Icaro de Castro Mello (1913-1986). Arquiteto de renome internacional, foi um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira, autor do projeto do ginásio e do estádio de atletismo que recebeu o seu nome. São obras que, somadas às dos arquitetos Nestor Lindenberg (conjunto aquático) e Roberto Simões (ginásio poli), configuram o complexo esportivo em pauta.
Icaro e outros arquitetos modernos trabalharam por décadas na construção de uma cidade moderna —onde o moderno significava espaços abertos, transparentes, livres e generosos para a participação e o crescimento de todos.
Foram criadas estruturas de planejamento urbano, redes de escolas públicas, de edifícios de saúde, de equipamentos de esporte (do qual este conjunto esportivo é parte da história desta cidade) —um empenho de toda a sociedade, na qual os arquitetos estiveram presentes, contribuindo com este fazer social.
Assim, julgo necessário manifestar a esperança de reverter essa ação de concessão, através do tombamento do complexo esportivo do Ibirapuera, para a preservação do conjunto como um todo. Que melhorias e ajustes necessários sejam realizados com critérios adequados, como o foram em inúmeros bens tombados no Brasil e no exterior, renovados com a preservação da qualidade espacial. E, principalmente, que o uso desse patrimônio seja voltado ao esporte e à educação esportiva; ou seja, para o qual foi concebido.
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