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O palavrão

Lockdown é medida de difícil execução, ainda mais sendo satanizado por Bolsonaro

Lockdown em Araraquara (SP) - Prefeitura de Araraquara/Divulgação

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Uma palavra estrangeira, cujo significado nem sempre é entendido da mesma maneira por todos, tem sido satanizada para turvar o debate sobre as políticas de controle da pandemia. Trata-se do lockdown.

Ciente de que a campanha contra a vacinação mostrou-se danosa a sua popularidade, Jair Bolsonaro foca agora no ataque ao isolamento social. Chegou ao desplante de fazer o governo ir ao Supremo Tribunal Federal para tentar vetar toques de recolher Federação afora.

De tempos em tempos, ele e seus seguidores sacam o vocábulo obscuro para vociferar gritos de liberdade. Visam rivais políticos tentando lidar com a crise na ponta.

Tal atitude tem eco no espírito pouco cooperativo expresso por fatias minoritárias da população —a mais recente pesquisa Datafolha apontou que 71% dos ouvidos apoiam restrições ao comércio, acima dos 61% de dezembro.

O problema é o palavrão.

Lockdown como política nacional, quiçá estadual, é de difícil execução. Ele embute uma escolha de Sofia, já que efetivamente a fome baterá à porta de vulneráveis impedidos de circular e trabalhar.

Bolsonaristas, ademais, jogam na confusão contra adversários. Em nenhum momento o governo paulista, por exemplo, chegou perto de um lockdown —que embute a restrição física da mobilidade.

O que há até aqui no estado são limitações de abertura de comércio, serviços e lazer, além de um toque de recolher pouco respeitado.

No mais rico e populoso estado do país, os problemas práticos de um lockdown são óbvios: há mais de mil pontos de fronteira, e o risco de colapso de linhas de abastecimento e de cadeias produtivas enseja cenários de anomia.

Ainda que houvesse uma definição sobre o tema, para levar a cabo algo do gênero deveria haver o apoio federal, com emprego de tropas do Exército. Isso nunca ocorrerá, obviamente, sob Bolsonaro.

Trata-se, hoje, da receita prescrita por 9 entre 10 especialistas. Razões decerto não faltam, dados os números aterradores de mortes diárias, UTIs lotadas e escassez de equipamentos. Até que a vacinação avance e surta efeito, o momento será de alerta máximo.

Assim, emergem soluções locais, como os lockdowns de fato em cidades do interior paulista. Aplicadas pontualmente, funcionam, mas o vírus não respeita divisas, e combatê-lo demanda coordenação.

Nesse sentido, a iniciativa paulistana de instituir um feriadão sem consultar seus vizinhos demonstra que a barafunda federal contamina até as boas intenções.

Coragem e bom senso devem se combinar no objetivo maior de conter o vírus, em especial as suas novas cepas. Não será no Planalto que se verão tais atributos.

editoriais@grupofolha.com.br

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