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Mal necessário

Má gestão de Bolsonaro e choque de preço forçam BC a elevar juro contra inflação

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Sede do Banco Central, em Brasília - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Diante de todos os problemas acumulados nos últimos meses, o Banco Central não teve opção a não ser iniciar um ciclo de alta da taxa básica de juros. Por amargo que seja, o remédio é necessário para evitar uma alta descontrolada da inflação.

O quadro que levou ao aumento da Selic de 2% para 2,75% ao ano decorre essencialmente de dois choques simultâneos que deterioraram as perspectivas para a economia brasileira e favoreceram elevações mais aceleradas dos preços.

O primeiro é a absoluta incompetência do governo federal para lidar com a emergência sanitária. Além do drama da perda de vidas, a má gestão da pandemia eleva os riscos econômicos. Tornam-se inevitáveis mais despesas para mitigar o impacto do isolamento, e piora a trajetória da dívida pública.

Tudo isso contribui para minar a credibilidade do país, e o resultado é a persistente desvalorização da moeda, muito superior à observada na maior parte dos emergentes.

À falta de confiança quanto à solidez fiscal, que eleva os riscos para todos os ativos brasileiros, somou-se um segundo choque —a alta acelerada dos preços das commodities no mercado internacional.

Energia, alimentos e metais industriais estão em falta, com problemas de oferta em vários setores num momento em que a economia mundial inicia uma retomada.

A combinação do real fraco com preços em dólar mais elevados mudou drasticamente o ambiente para o Banco Central. Desde o início do ano, a alta das matérias-primas em moeda local supera 20%. Não surpreende, assim, que os preços no atacado tenham subido 40% nos 12 meses encerrados em fevereiro.

A contaminação dos preços no varejo, uma possibilidade há poucos meses, materializou-se. O IPCA acelerou no primeiro bimestre e as simulações do BC apontaram para variação de 5% em 2021, bem acima da meta de 3,75%.

O BC tinha a opção de iniciar o ciclo com uma alta de 0,5 ponto percentual, mas optou por um movimento mais rápido, que classifica como um ajuste parcial. Na prática, o objetivo parece ser retornar a Selic ao patamar anterior à pandemia, de 4,5% ao ano, o que ainda manteria a política monetária em terreno expansionista.

Há riscos, por certo, a começar pela piora da atividade econômica, que de todo modo já foi comprometida neste primeiro trimestre pelo agravamento da pandemia.

A esta altura não é possível saber até que nível o BC elevará os juros. É evidente, no entanto, que a autoridade monetária pode contribuir, mas não conseguirá sozinha estabilizar as variáveis financeiras, notadamente a taxa de câmbio e os juros de longo prazo.

Para tanto, depende da colaboração do governo, que é errático na gestão das contas públicas e desastroso no combate à pandemia.

editoriais@grupofolha.com.br

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