Fragmentação peruana
Ninguém chega aos 20% dos votos na eleição, o que reflete crise da política
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Enfrentando um de seus piores momentos na pandemia, o Peru realizou no domingo a mais fragmentada eleição presidencial de sua história. Com os votos dispersos entre 18 candidatos, Pedro Castillo e Keiko Fujimori se impuseram sobre os demais, embora nenhum deles tenha conquistado mais do que 20% dos sufrágios.
Castillo, o primeiro colocado, constitui também a maior surpresa. Sindicalista e professor, ele ganhou notoriedade ao liderar uma greve nacional em 2017. Esposa uma plataforma que mistura propostas estatizantes e de cunho autoritário com um discurso anticorrupção, ao qual alia um extremado conservadorismo nos costumes.
Sua votação expressa a histórica divisão territorial do país. Foi o mais bem colocado nas regiões centro e sul, mais pobres e que pouco se beneficiaram do crescimento econômico das últimas décadas, mas apenas o quinto na região metropolitana de Lima.
O oposto se deu com sua adversária, que se destacou sobretudo na capital e nas áreas litorâneas.
Disputando pela terceira vez a Presidência, Keiko também defende uma pauta socialmente conservadora, mas um receituário liberal para a economia. No último pleito, a filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), preso por corrupção e violações aos direitos humanos, foi derrotada por menos de 50 mil votos.
Embora ostente maior experiência política, pesam contra ela acusações de lavagem de dinheiro e de recebimento de caixa dois, que a levaram à prisão em 2018. Outro fator a enfraquecê-la é o antifujimorismo, que permanece forte no país.
Vem justamente dos anos Fujimori uma das causas dos problemas políticos atuais. A desfiguração dos partidos tradicionais a partir da década de 1990 criou um cenário fragmentado e instável, com um Congresso repleto de siglas fracas e sem coesão interna, que dificultam ou inviabilizam negociações com o chefe do Executivo.
Somam-se a isso o descrédito dos políticos provocado pelos seguidos casos de corrupção —todos os presidentes eleitos nos últimos 20 anos terminaram envolvidos em escândalos— e a gestão desastrosa da pandemia.
O Peru é um dos países mais acometidos pela Covid-19, com cerca de 55 mil mortes, número que o coloca ao lado do Brasil em termos proporcionais.
É nesse cenário turbulento e politicamente fraturado que os dois candidatos, Castillo à esquerda e Keiko à direita, farão suas alianças e concessões com o objetivo de capturar os votos do centro.
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