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Carol Pires

CPI cumpriu o papel de detalhar como a morte virou política pública

Familiares de vítimas da Covid-19 foram ouvidos pela comissão

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Carol Pires

Jornalista e roteirista, é mestre em estudos latino-americanos pela Universidade Columbia (EUA)

Sentindo falta de ar, Hugo Silva encontrou forças para enviar uma mensagem: “Pai, acho que não vou conseguir”. O taxista Márcio Antônio estava no hospital, mas não podia entrar na UTI para confortar o filho. Hugo morreu em abril de 2020 aos 25 anos. “A última vez que o vi, ele estava dentro de um saco”. Três dias depois, Jair Bolsonaro diria “E daí?”.

À CPI da Covid Márcio contou nesta segunda (18) como ouviu a declaração do presidente: “Escutei no fundo do meu coração: e daí que seu filho morreu?”

Semanas depois, Márcio viu pessoas derrubando cruzes na areia de Copacabana que homenageavam os mortos. “Quando vi aquela cena, pensei: será que esse cara não vê que está pisando na cova do meu filho?”

Naqueles dias, o Brasil registrava cerca de 5.000 mortos. Hoje, são 603 mil. Bolsonaro ainda parece nem aí. No último Datafolha, 25% ainda pretendiam votar pela sua reeleição.

Também à CPI, Katia dos Santos contou que perdeu o pai e a mãe para a Covid. Ele morreu em um hospital público. Ela, em unidade da Prevent Senior, onde pacientes foram feitos de cobaias com remédios sem eficácia propagandeados pelo presidente.

A enfermeira Mayra Pires Lima perdeu um irmão e uma irmã e ficou com a guarda dos quatro sobrinhos, dois deles gêmeos que só tinham quatro meses de vida quando a mãe morreu, no início de 2021, em meio ao colapso em Manaus, para onde o governo não mandou cilindros de oxigênio a tempo.

Giovanna da Silva fez senadores chorarem ao contar que ficou órfã de pai e mãe em um intervalo de 14 dias. Aos 19 anos, assumiu a guarda da irmã, de apenas 10 anos. Como ela, são pelo menos 120 mil menores de idade que ficaram órfãos por causa da pandemia. Não sabemos se a CPI será capaz de responsabilizar os culpados, mas a comissão cumpriu o papel de detalhar como a morte virou política pública. Como disse a viúva Rosane Maria dos Santos Brandão, “a gente não elabora o luto no silêncio do esquecimento, precisamos falar e ser escutados”.

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