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Bruna Hassan

Entre a fome e a obesidade

Aparentemente paradoxais, condições afetam mais mulheres pobres e negras

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Bruna Hassan

Nutricionista e epidemiologista, é pesquisadora em saúde pública da ACT Promoção da Saúde

Especialmente aqui, no Brasil, a mobilização em torno do Dia Mundial da Obesidade, que acontece neste sábado (4), nos faz refletir sobre a relação entre fome e obesidade. Atualmente, mais de 41 milhões de brasileiros convivem com a obesidade, ao mesmo tempo que mais de 33 milhões não têm o que comer e 125 milhões vivem em situação de insegurança alimentar —ou seja, não têm acesso a alimentos de qualidade em quantidade suficiente e de forma constante.

As duas condições aparentemente paradoxais se aproximam quando levamos em conta a desigualdade que marca a história do país. A disparidade socioeconômica, agravada pela iniquidade racial, atua como determinante decisivo tanto para a fome quanto para a obesidade. Pesquisas recentes sobre obesidade revelam que, na comparação com o universo da população, a prevalência é maior entre mulheres negras e com baixa escolaridade. Da mesma forma, indicadores de fome e insegurança alimentar incidem de modo mais avassalador sobre os lares das áreas rurais chefiados por mulheres negras.

Sabe-se que a fome pode levar a déficits nutricionais, à desnutrição e até mesmo à morte. Enquanto isso, o peso excessivo aumenta o risco de desenvolver doenças crônicas, como hipertensão e diabetes tipo 2, além de problemas ósseos e musculares. Mas pouco se fala sobre a possibilidade de um indivíduo com obesidade estar também em situação de insegurança alimentar.

Essa coincidência pode ser compreendida, em primeira análise, por adaptações metabólicas. O organismo exposto a extensos períodos de jejum e desnutrição tende a ganhar peso ao longo da vida —uma compensação com o objetivo de guardar energia para futuros momentos de privação.

Recentemente, no entanto, observamos o mesmo padrão alimentar na raiz do fenômeno que sobrepõe os dois problemas: a ingestão de produtos de baixa qualidade nutricional, com alta densidade energética, açúcares e gorduras, basicamente, ultraprocessados.

O aumento no consumo de ultraprocessados pode ser atribuído, entre outros fatores, ao baixo preço e à elevação do preço de frutas e hortaliças, provocada pela redução dos espaços de cultivo e comercialização de comida saudável. Em contrapartida, observamos a facilidade com que a indústria de ultraprocessados abastece os lugares mais longínquos com mercadorias baratas, como biscoitos recheados, refrigerantes, massas congeladas etc.

Diante desse cenário, defendemos a importância de políticas públicas a fim de superar a vulnerabilidade social e racial no que diz respeito ao acesso à alimentação saudável. Apoiamos atos do atual governo, como a reestruturação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Mas estamos na expectativa de que sejam implementadas medidas regulatórias, como a tributação de alimentos ultraprocessados e a restrição da venda desses produtos em escolas e hospitais, em sinergia com ações de cuidado e educação alimentar e nutricional.

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