Receita valiosa
Casos das joias e quebras de sigilo mostram importância de controles do Estado
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
O noticiário dos últimos dias forneceu exemplos das vantagens e dos riscos de uma burocracia ao mesmo tempo organizada e poderosa, caso da Receita Federal brasileira.
Do lado virtuoso, mas em um episódio deplorável, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que em outubro de 2021 o fisco apreendeu, no aeroporto de Guarulhos (SP), joias em poder de um militar que assessorava o então ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia.
Segundo Albuquerque, tratava-se de um presente do governo da Arábia Saudita para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a primeira-dama, Michelle, e os artigos seriam incorporados ao acervo histórico do Planalto do Planalto.
Sobram detalhes nebulosos na história. O ex-mandatário e a ex-primeira-dama negam terem sido os destinatários do mimo, de valor estimado em R$ 16,5 milhões. Como a Folha reportou, um segundo lote de artigos de luxo oriundo da ditadura saudita chegou à Presidência em novembro de 2022.
Certo, porém, é que só um órgão público profissionalizado, com prerrogativas das funções de Estado, tem a capacidade de fazer valer a lei —no caso, as normas aduaneiras e os ritos para incorporação de bens ao patrimônio público— mesmo criando embaraços para autoridades elevadas.
É educativa, nesse sentido, a nota oficial divulgada pela Receita no domingo (5), a respeito do imbróglio: "Todo cidadão brasileiro sujeita-se às mesmas leis e normas aduaneiras, independentemente de ocupar cargo ou função pública", começa o texto.
Isso não quer dizer que o fisco seja invulnerável a pressões do governante de turno. Como revelou este jornal, um ex-chefe da inteligência da instituição acessou e copiou, em 2019, dados sigilosos de desafetos de Bolsonaro, incluindo um procurador responsável por investigações envolvendo a família do então mandatário.
Tamanho poder sobre informações vitais para cidadãos e empresas dá margem, ademais, a abusos por parte da própria corporação. Outra reportagem mostrou casos de pessoas expostas politicamente que tiveram dados consultados de forma irregular por servidores.
Na lista, que faz parte de uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), estão nomes tão diferentes quanto o da cantora Anitta e o do próprio Jair Bolsonaro.
Inexiste fórmula perfeita capaz de garantir a autonomia de um órgão público e impedir que ele eventualmente se volte contra alguém. Pelo simples fato de terem vindo à tona, os episódios lastimáveis demonstram que o Estado brasileiro dispõe, em alguma medida, de mecanismos internos de controle.
Resta aperfeiçoá-los, com prestação de contas à sociedade.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters