Siga a folha

Descrição de chapéu
Carlos Marun

Lembrar sim, mas não em vão

Hoje é a oposição quem está tentando explorar o Holocausto indevidamente

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Carlos Marun

Advogado e engenheiro, foi ministro-chefe da Secretaria de Governo (2017–19, governo Temer)

O Holocausto é o genocídio em sua essência. Nele foram barbarizados ciganos, homossexuais e comunistas, mas foram os judeus suas maiores vítimas. Antes esse termo nem existia: posteriormente é que foi tipificado pelo direito internacional. Em termos numéricos, até já aconteceu barbárie de tão grande ou maior escala, mas nada se equiparou ao Holocausto quando se fala na brutalidade da industrialização da morte.

Eu concordo que deve ser traumático lembrar da tragédia para quem a viveu e para todo o povo judeu. Mas são fortes as evidências de que essas próprias pessoas não querem que isso seja esquecido. Qual o motivo da existência de museus do Holocausto, por exemplo? Por que Auschwitz permanece intacto e conservado? Penso eu que é para que o genocídio nunca deixe de ser lembrado.

Pilha de sapatos de prisioneiros são expostos em museu dos campos de Auschwitz-Birkenau, na Polônia - Fabrizio Bensch/Reuters - Reuters

Então, entendo que a melhor maneira que existe para homenagearmos as vítimas é lembrarmos o Holocausto, o utilizarmos como exemplo da barbárie que não pode voltar a acontecer nem em maior nem em menor escala. E ele tem sido lembrado.

Ronald Reagan o utilizou como exemplo quando exigiu que Menachem Begin parasse de bombardear Beirute. Recep Tayyip Erdogan fez há pouco referência direta comparando Binyamin Netanyahu com Adolf Hitler. O próprio primeiro-ministro de Israel, há alguns anos, se referiu ao Holocausto para relativizar a culpa de Hitler. Nessas ocasiões não aconteceram reações do governo israelense.

Agora, Bibi, acossado por uma impopularidade ímpar, quis "crescer" em cima de Lula por ele ter chamado genocídio de genocídio. Na verdade, Netanyahu, na sua arrogância, pensa que somos um "anão diplomático". Deu com a cara na parede. Lula dobrou a aposta e a coisa segue para um congelamento das relações diplomáticas, sem maiores prejuízos para as relações comerciais. Em nível internacional, o caso até deixou de ser assunto.

Logo, penso que essa celeuma está, na verdade, servindo mais é de instrumento para a guerra política interna, onde a oposição usa a referência ao Holocausto para tentar promover um "impeachment fake" capaz de alimentar por uns dias as redes sociais e alguns órgãos da imprensa tradicional, nada mais do que isso.

Hoje é a oposição quem está tentando explorar o Holocausto indevidamente. Não para estancar um genocídio, não para tentar parar uma guerra, mas como uma vulgar arma política com o objetivo de se contrapor ao governo.

Tenho minhas divergências com Lula e com o PT e sei o que é um impeachment. Porem, desta vez acredito que o protesto que cabe é o da colônia judaica pedindo à oposição: "Parem de evocar o Holocausto em vão!".

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas