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Joel Birman

Os adultos e o bullying

Filhos podem replicar práticas predatórias dos pais

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Joel Birman

Psiquiatra e psicoterapeuta, é professor de psicologia na UFRJ e no Instituto de Medicina Social da Uerj

O bullying é uma das grandes desgraças do nosso tempo. Talvez um dos maiores males, pois, como a pedofilia, se dissemina de forma estridente entre crianças e adolescentes, que não sabem como se defender de seus agressores, ficando assim negativamente marcados psiquicamente pelas repetidas humilhações.

Com efeito, a autoestima das vítimas seria então severamente atingida e desconstruída pelos traumas engendrados, provocando ansiedade, pânico e depressão na população jovem. Além disso, o bullying, em muitas ocasiões, é capaz de produzir suicídios inesperados, pois frequentemente os jovens ficam envergonhados de compartilhar com os adultos seus tormentos e pedir ajuda aos pais.

É possível dizer que o bullying existe no Ocidente desde o século 19 —decorrência da urbanização e da proliferação do sistema escolar. A aglomeração populacional resultou em competições entre os alunos, mas não certamente na escala e na intensidade em que ocorre na atualidade. Além disso, a constituição e a disseminação das redes sociais amplificaram em muito as ofensas morais. E assim surge a figura do cyberbullying, canal ofensivo e persecutório para as suas vítimas pela evidente ampliação dos cenários onde elas são expostas no espaço público.

Em consequência, o decreto de lei promovido recentemente pelo presidente Lula (PT) para responsabilizar e penalizar os agentes sociais que realizam bullying e cyberbullying deveria ser aplicado com mais rigor em todo o país. Há de se impor limites tangíveis e palpáveis para tais ataques contra a saúde mental das vítimas, como já ocorre em outros países ao determinarem perdas significativas de liberdade aos ofensores.

A Dinamarca, recentemente, estabeleceu também novos protocolos sociais contra esses males, instituindo aulas de ética para que os alunos pudessem ser devidamente socializados sobre o "ethos" da alteridade e da solidariedade, promovendo a civilidade numa ordem democrática. A França igualmente implantou tal proposta recentemente, estabelecendo aulas de ética na totalidade da rede escolar.

É necessário, porém, indagar-se decididamente se tais iniciativas meritórias são suficientes e efetivas para debelar tais males. Parece que não, pois é preciso se interrogar sobre a condição concreta de possibilidade para esses infortúnios. Deve-se destacar com eloquência que os jovens promotores do bullying, na atualidade, estão certamente identificados com a figura dos adultos e dos seus pais, que pautam suas existências pela predação de seus pares como imperativo presente na ordem neoliberal —e que justamente desconstruiu os imperativos da alteridade e da solidariedade como formas de vida.

Como disse Foucault em "Nascimento da Biopolítica", a forma fundamental de subjetivação é a de promover na nova ordem social a figura do empresário de si próprio, de maneira que o cidadão contemporâneo transformou seus pares em adversários e inimigos a serem abatidos pelos novos patamares de competição engendrados por essa ordem neoliberal. Foi ela que incrementou em muito a rivalidade existente no liberalismo no século 19.

Nesse contexto, o narcisismo das pequenas diferenças (Freud) na atualidade, em níveis individual e coletivo, não suporta a existência de qualquer diversidade e diferença face ao Outro, que deve ser assim sumariamente eliminado e aniquilado pelas novas regras existentes no espaço social.

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