Siga a folha

Descrição de chapéu
João Vitor de Paiva Bittencourt

Por que calçar meias trocadas em março

Nós, com síndrome de Down, sabemos como são os olhares de estranhamento

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

João Vitor de Paiva Bittencourt

Influenciador digital, é o primeiro conselheiro jovem do Unicef Brasil e o primeiro aluno do curso de educação física da PUC-Goiás com síndrome de Down; ator do filme "Colegas e o Herdeiro", com lançamento previsto para 2025

Imagine sair para trabalhar, treinar, passear ou alguma outra coisa com as meias trocadas; uma preta e outra vermelha, por exemplo. Certamente vai atrair a atenção de quem cruzar com você. Será observado com olhares enviesados. Te acharão diferente e estranho. No mínimo, excêntrico. Quem sabe, maluco. Diferente… Mas não escapará da vista de ninguém. Possivelmente, ficará incomodado ao fim da experiência.

Ser diferente não é fácil. É assim que as pessoas com a síndrome de Down se sentem no dia a dia. Não raro são vistas como olhares de estranhamento. Se estão acompanhadas de um namorado ou namorada, companheiro ou companheira, aí piora o jeito como são observados. E se estiverem fazendo uma atividade produtiva, divertindo-se, estudando... Mas sempre atraem a curiosidade alheia.


Esta quinta-feira (21) é o Dia Internacional da Síndrome de Down. Durante todo o mês de março, centenas de eventos acontecem no Brasil e em todo o planeta para celebrar a data. É bacana, mas não é o suficiente.

O preconceito, a discriminação e o capacitismo ainda estão presentes, de forma forte, na sociedade. As pessoas com a trissomia 21, assim como outras deficiências, são tratadas, infelizmente, como seres incapazes e como "coitadinhas". A maioria ainda é invisível para o grosso da população.

A verdade é que não somos incapazes nem coitadinhos. Somos pessoas com uma deficiência, mas temos sonhos, possuímos talentos, competências e valências. Temos nosso tempo, mas conseguimos aprender e nos desenvolver. Precisamos é de amor, acolhimento, empatia e oportunidades. Oportunidades, essa é a palavra-chave.

Meu exemplo de vida pode mostrar do que somos capazes. Estudei em escolas regulares, passei em quatro vestibulares, curso educação física na PUC-Goiás, sou protagonista do filme "Colegas e o Herdeiro", treino musculação, namoro, viajo sozinho… E tantas outras coisas, como ser o primeiro conselheiro jovem com a T21 do Unicef no Brasil. Tenho plena autonomia.

Agora, me preparo para começar a ter aulas de autoescola para tirar a minha carteira de motorista, por meio de um convênio com o Instituto Mano Down, de Belo Horizonte.

Faço palestras por todo o Brasil e sempre repito que "nós somos capazes". E que o nosso foguete está sempre subindo e voa sem medo. Não desistam de seus sonhos, é a minha mensagem a todos. Sim, somos capazes.

Cito isso não para me gabar. Conheço outras pessoas com a síndrome que também voam alto. Precisaram apenas de oportunidades. Somos capazes, repito.

Por isso, não basta apenas celebrar um dia ou um mês, uma data, enfim. É importante, mas a sociedade precisa avançar mais. A inclusão tem de ser uma atitude diária, estar no coração e na mente das pessoas. É isso que reivindicamos.

Neste mês está rolando uma campanha interessante. Pedimos para as pessoas usarem meias trocadas para elas se sentirem como nós, pessoas com a síndrome, nos sentimos quando somos olhadas como "diferentes". Faça a experiência, por favor.

Tenho certeza de que você descobrirá que o diferente também é bonito.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas