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Becky S. Korich

Filhos não merecem mães exaustas

Só as desnaturadas se dedicam exclusivamente a eles

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Becky S. Korich

Advogada e escritora, é colunista da Folha, autora de “Caos e Amor” (ed. Faria e Silva) e mãe de três meninos (14, 17 e 19 anos)

Você se sente culpada quando sai para se divertir e deixa seus filhos em casa? Sente-se uma mãe desnaturada quando viaja com o marido e "abandona" os menores-impúberes-desprotegidos na casa da sogra?

Sinta-se culpada se você não faz isso. Só mães desnaturadas se dedicam exclusivamente aos filhos e vivem se sacrificando por eles. Só mães irresponsáveis são tão responsáveis e zelosas com os filhos a ponto de renunciar ao direito de descanso e diversão.

Uma boa mãe deixa o filho esperar, se frustrar, descobrir que consegue se defender com suas próprias forças.

Menina pequena beija a barriga da mãe grávida
Maternidade - Unsplash

Ser uma boa mãe significa se permitir não ser uma ótima mãe. Significa cuidar bem dos filhos, mas não se esquecer de cuidar de si. A boa mãe não normaliza o estresse e a carga de trabalho que os filhos impõem.

Ela tem a coragem de pedir ajuda, de fechar a porta do quarto e dizer: "Agora é a minha vez, virem-se sem mim (para eu poder voltar melhor a vocês)".

Filhos precisam dessa mãe imperfeita e limitada. Nem que seja para aprenderem a aceitar as suas próprias imperfeições.

Filhos pedem. Mas não querem tudo que pedem. A boa mãe sabe deixar um espaço vazio sem sentir culpa. Não compra o último modelo do iPhone. Mesmo que o amigo tenha. Mesmo com chiliques e choros. Pois sabe que é justamente da falta que nascem os desejos. Melhor do que dar, é fazê-lo conquistar.

Eu sei, não é fácil. Erramos com os filhos de tanto que queremos acertar.

Mas nenhum filho merece o sufoco de uma mãe tão dedicada, que acorda e dorme por ele, que não tem seus próprios sonhos, que tem medo de desapontá-lo. Nenhuma mãe merece ser isso.

Filhos precisam de uma mãe para admirar, uma mãe ligada em outros canais, que traga novidades, que tenha outras identidades além da de ser mãe. O autorrespeito é o maior amor que uma mãe pode dar aos filhos.

Mães não são responsáveis pela felicidade dos filhos —embora às vezes o sejam pela infelicidade. Não são super-heroínas que dão conta de todas as tarefas —essas são, no máximo, narcisistas disfarçadas. Uma boa mãe não depende do filho para se sentir útil e, principalmente, não o faz depender dela.

Deixem que as "supermães" te chamem de egoísta, pão-dura, egocêntrica, desencanada. Isso é um bom sinal. Namore, tenha momentos privados. Filhos sentem, filhos esperam por isso.

A boa mãe valoriza o seu tempo. Não perde tempo descascando banana para o filho, tirando suas roupas do chão, resolvendo problemas que ele consegue resolver. Encurtar os caminhos do filho só vai levar mais tempo para ele chegar lá. O tempo das mães é precioso. O tempo certo dos filhos é necessário.

Mãe que é uma "ótima boa mãe" não poupa carinho e atenção; leva, prepara e educa. Mas sabe também receber carinho, cobrar responsabilidades; faz o filho lavar louça e arrumar o quarto. Ela não deixa o filho esquecer que ele faz parte e, por isso, não pode ficar à parte.

Filhos não merecem mães exaustas, não precisam de mães devotadas para se sentirem amados. Filhos percebem tudo. É por eles que devemos fazer alguma coisa por nós.

Só no amor é possível dar e receber ao mesmo tempo.

Feliz Dia das Mães!

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