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Suzana Pasternak e Anderson Kazuo Nakano

São Paulo: a produção da cidade oca na cidade dos anéis

Capital vive descompasso entre crescimento populacional e alta de domicílios

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Suzana Pasternak

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e pesquisadora do Observatório das Metrópoles – Núcleo São Paulo

Anderson Kazuo Nakano

Professor do Instituto das Cidades da Unifesp, onde coordena o Observatório de Lutas Urbanas, e pesquisador do Observatório das Metrópoles – Núcleo São Paulo

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente os dados de população e domicílio do Censo Demográfico de 2022 agregados segundo os setores censitários de todo o país. O ritmo de crescimento populacional do município de São Paulo (MSP) continuou a diminuir. Entre 2000 e 2010, a taxa de crescimento populacional foi de 0,75% e, entre 2010 e 2022, caiu para 0,15%. Isso favorece políticas e planejamentos públicos que visam saldar as dívidas sociais, espaciais e ambientais herdadas da urbanização desigual ocorrida no passado.

Na comparação entre os dados populacionais e domiciliares de 2010 e 2022 agregados segundo grupos de distritos que conformam os anéis central, interior, intermediário, exterior e periférico, percebe-se que o aumento populacional total foi de apenas 197.489 pessoas no MSP como um todo. Dessas pessoas, 174.441 (88,33%) moravam no anel periférico, cuja taxa de crescimento populacional foi de 0,27% ao ano, enquanto no anel central esse índice foi de -0,36%. Já o anel interior teve um aumento de mais de 33 mil residentes e cresceu 0,44% ao ano enquanto, surpreendentemente, o anel exterior perdeu população segundo uma taxa de -0,11% ao ano (menos 44,5 mil pessoas). Em todos os anéis há distritos que perderam ou ganharam moradores.

Prédios residenciais em obras na avenida Santo Amaro, no bairro Vila Nova Conceição, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress - Folhapress

Entre 2010 e 2022, enquanto a dinâmica populacional nos anéis paulistanos foi em uma direção, a domiciliar foi em outra. As taxas anuais de crescimento dos domicílios particulares permanentes foram positivas em todos os anéis paulistanos e sempre acima de 2%. No município como um todo, para um incremento de 197,5 mil pessoas houve um aumento de 1.392,6 mil domicílios. Somente o distrito da Mooca registrou redução no número de domicílios, enquanto todos os demais registraram aumentos. O descompasso entre os crescimentos populacionais e domiciliares nos anéis paulistanos tem relação direta com a queda no número médio de moradores por domicílio. Essa queda ocorreu em todos os anéis.

Para o MSP, a diminuição foi de 26,7%. No anel central essa diminuição foi ainda maior, de 32,5%. Ou seja, têm-se mais domicílios, mas onde estão morando, em média, menos pessoas. Essa constatação sinaliza para uma tendência já verificada em anos anteriores segundo a qual os novos habitantes da cidade se distribuem em domicílios que se formam em ritmo mais acelerado e possuem números menores de moradores.

Mapa divide a cidade de São Paulo em anéis - Divulgação

Na dinâmica acelerada de formação de novos domicílios com poucos moradores há um componente que confirma a tese da "cidade oca" —segundo a qual há aumentos nas densidades construtivas desacompanhados de aumentos nas densidades populacionais ou demográficas. Os incrementos nas quantidades de áreas construídas não são preenchidos com habitações e moradores.

Um dos elementos responsáveis por essa desconexão é o conjunto de domicílios sem ocupação, que aumentou 91,10% no MSP entre 2010 e 2022. Neste último ano, 22,23% dos domicílios do anel central estavam sem ocupação, 17,45% no anel interior, 15,60% no anel intermediário, 12,88% no anel exterior e 11,83% no anel periférico. Em São Paulo, a cidade oca parece estar se ampliando na cidade dos anéis. E isso não é bom.

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