Leitores analisam seus quadros favoritos de Tarsila do Amaral; 'Abaporu' e 'Operários' são os prediletos
Morte da pintora modernista completou 50 anos na última terça (17)
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Entre alguns leitores da Folha, dois quadros da artista modernista Tarsila do Amaral se destacam como os prediletos: "Abaporu" (1928) e "Operários" (1933). O jornal abriu uma interação com os assinantes na última terça (17) devido ao marco de 50 anos da morte da pintora.
O quadro da artista plástica, que retrata a classe trabalhadora, permanece atual, afirma a historiadora Andréia Auxiliadora Marcondes de Paula, 44, de Lorena (SP). "O tempo passa, e as condições de trabalho permanecem precárias."
Ela cita exemplos recentes como as demissões após aprovação do piso salarial de enfermagem, a falta de direitos trabalhistas para os entregadores de aplicativos, a dupla jornada de policiais e a desvalorização dos profissionais da educação.
O revisor Daniel Vieira dos Santos, 28, de Bauru (SP), também elogia a precisão do quadro, que define como "uma representação sintética e simbólica do que São Paulo e o Brasil têm de melhor: a massa trabalhadora, anônima e lutadora, que vive sem rosto, mas compondo a multidão". Para ele, esse quadro possui mais valor do que a estátua de Borba Gato, no bairro de Santo Amaro, que foi incendiada em 2021 em um protesto.
'Operários' é uma representação sintética e simbólica do que São Paulo e o Brasil têm de melhor: a massa trabalhadora, anônima e lutadora, que vive sem rosto, mas compondo a multidão
Já a professora Silvia Regina Domingues de Oliveira, 60, dá destaque para a diversidade de rostos que compõe "Operários". "A obra mostra pessoas de várias etnias que formam a sociedade brasileira e o que me chama atenção são suas fisionomias, sem brilho, robotizadas e sem demonstrar muita esperança."
Um dos quadros mais famosos da pintora, que motivou aglomerações de visitantes durante a exposição "Tarsila Popular" no Masp, em 2019, o "Abaporu" traz reflexões sobre a identidade brasileira.
Mas a obra também pode ser fonte de inspiração, como para o designer Gabriel Ferronato, 19, durante um exame. "Recentemente, fiz uma releitura na prova da Unesp para representar um design brasileiro que coincide com a identidade nacional e acredito que o modernismo buscava isso também. Em paralelo, parafraseei o Lima Barreto com a frase 'o Brasil não tem povo, apenas público'."
"Tudo ali forma uma combinação de brasilidade extremamente singular e irretocável", diz o estudante João Victor Vilasbôas Pereira, 18, de Palmares Paulista (SP). "Como o brasileiro, que está nu diante das misérias, das fragilidades —suas e da vida —, exposto ao calor escaldante diante de um cacto, quase que simbolizando a vida e esperança presentes em forma da água que está escondida dentro da casca espinhosa, dura e combalida."
"A Cuca", de 1924, é o favorito de Flávia Casagrande, 50, que usa a obra em seu plano de ensino. "Inicio minhas aulas fazendo sempre uma releitura desse quadro maravilhoso. Ele desperta o início do interesse dos alunos pela arte", diz a professora de Guaxupé (MG).
A experiência com o quadro no ambiente escolar também é citada por Anderson Bento Trajano, 24, de Pindamonhangaba (SP). Quando estava na pré-escola, uma professora utilizou o mesmo método que Flávia Casagrande e pediu uma releitura de "A Cuca". "Eu, na época com seis anos de idade, fui destaque da turma e me recordo até hoje daquele desenho que fiz."
Para o funcionário público Augusto Carlos de Souza Nogueira, 61, de Ananindeua (PA), a pintura desperta um sentimento de orgulho. "Representa a valorização da cultura nacional", afirma.
Mariana Colosso Cardoso, 31, de Salvador (BA), cita um dos autorretratos de Tarsila como seu quadro favorito. A obra, datada em 1923, retrata a pintora com um casaco vermelho e faz a arteterapeuta de Salvador (BA) refletir sobre uma época com recursos fotográficos menos acessíveis. "Eis um registro de si que contemplava o que a artista queria, em elementos, cores e formas. Me faz pensar sobre o uso de filtros nas selfies dos dias atuais."
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