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Em 2 dias em SP, Bolsonaro mostra desenho de ponte, ajuda irmão cabo eleitoral e provoca lentidão em rodovia

Presidente da República fez visitas a familiares e políticos no Vale do Ribeira

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Pariquera-Açu, Eldorado e Registro

Presidente do país que já teve mais de 120 mil mortes em razão da pandemia do novo coronavírus e que vive uma recessão, com queda de 9,7% do PIB no último trimestre, Jair Bolsonaro (sem partido) se ocupou, nesta sexta-feira (4) de vigiar o trânsito e testar sua popularidade.

Em visita à Polícia Rodoviária Federal, na cidade de Registro (SP), sem nenhum anúncio para fazer, ele foi à beira da rodovia Régis Bittencourt, na BR-116. Durante mais de uma hora, ficou em pé, parado, conversando com policiais e acenando para motoristas.

Bolsonaro teve em agosto sua melhor avaliação desde que começou o seu mandato. Segundo pesquisa Datafolha, publicado no último dia 13, 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, ante 32% que o achavam na pesquisa anterior, feita em 23 e 24 de junho. Mais acentuada ainda foi a queda na curva da rejeição: caíram de 44% para 34% os que o consideravam ruim e péssimo no período.

Popular, Bolsonaro viu sua presença causar lentidão nas duas pistas da Regis Bittencourt. Policiais rodoviários federais tiveram que parar o trânsito algumas vezes. Mesmo quando havia liberação para a passagem, o fluxo voltava lento.

Motoristas, ao perceberem que o presidente da República estava na margem da estrada, tiravam o pé do acelerador. Quem buzinava recebia de volta um aceno presidencial. O carro da reportagem percorreu o sentido contrário da pista onde estava Bolsonaro e registrou cinco quilômetros de congestionamento no sentido São Paulo-Paraná. Não houve casos de hostilidade de motoristas com o presidente.

A visita à Polícia Rodoviária Federal foi o ponto final de um tour presidencial pelo Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo, onde vive a família do presidente da República. Foi um viagem com estrutura grande e anúncios nanicos.

Na quinta-feira (3), a comitiva presidencial pousou em dois helicópteros no gramado do Estádio Municipal Lauro Lobo, em Pariquera-Açu. Na cidade de 20 mil habitantes, em que Bolsonaro obteve 74% dos votos válidos no segundo turno da eleição de 2018, o evento era para lançar o projeto de uma ponte que atravessa o principal rio local. Sem obra para mostrar, ele ficou em frente ao desenho do que será a ponte, falou por dois minutos, mas não tocou no assunto do projeto.

Em Eldorado, cidade em ele passou a infância e onde sua mãe mora, o presidente da República repetiu o roteiro de apresentação do projeto. Foi à Câmara Municipal para falar de uma ponte que só existe no papel.

Afirmou que é um chefe de estado ímpar por pregar o fim do distanciamento social durante a pandemia. No evento, como já havia feito em Pariquera-Açu, foi até o público distribuir abraços em Eldorado. Sempre sem máscara.

Na viagem, Bolsonaro visitou o estado governado por um dos seus maiores desafetos. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), declarou apoio ao presidente no segundo turno da eleição de 2018, mas rompeu com o ex-aliado este ano. Os dois deverão ser rivais no pleito presidencial de 2022.

A disputa entre Doria e Bolsonaro se acirrou durante a pandemia do novo coronavírus, quando tiveram enfrentamentos antagônicos à doença. O governador paulista defendeu o isolamento social, enquanto o presidente, como bem disse em Eldorado, minimizou a gravidade da Covid-19.

O conflito entre eles teve seu ápice durante uma reunião por vídeoconferiencia para tratar do combate a pandemia do novo coronavírus no Brasil, em março. Bolsonaro disse que o político tucano "não tem altura para criticar o governo federal" e afirmou que ele deveria "descer do palanque". Na ocasião, Doria pediu "serenidade, calma e equilíbrio".

Em julho, o presidente foi infectado pelo novo coronavírus. Antes disso, deu declarações em que comparou a Covid-19 com uma "gripezinha" e fez defesa do uso da cloroquina, remédio sem eficiência científica comprovada contra a doença que já matou mais de 800 mil pessoas em todo mundo.

Na visita ao interior de São Paulo, Bolsonaro movimentava uma estrutura que contava com três vans blindadas da Mercedes Benz, seis carros pretos como batedores, além de dezenas de viaturas da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar a cada deslocamento. Soldados do Exército e policiais federais cuidaram da segurança.

Em todo o passeio, o presidente da República esteve sempre acompanhado do irmão Renato. Em janeiro, a Folha mostrou que o parente atuou, no ano passado, como intermediador informal de verbas federais para prefeitos aliados políticos no Vale do Ribeira. Entre os projetos que conseguiram aporte de dinheiro federal, graças ao irmão do presidente, estão as obras das pontes de Pariquera-Açu e Eldorado.

Ao todo, segundo levantamento da Folha, Renato Bolsonaro conseguiu, em 2019, mais de R$ 110 milhões para prefeituras do interior e do litoral paulista.

O sobrenome e a comprovada influência política fizeram de Renato Bolsonaro um cabo eleitoral valioso. Por conta do parentesco com o presidente, ele não poderá se candidatar. Segundo a Constituição, parente em até segundo grau de chefe do Poder Executivo, que não esteja exercendo mandato, está proibido de se candidatar a cargos eletivos.

Sem poder concorrer, o irmão transfere seu capital político a aliados. A construção da nova ponte de Pariquera-Açu é tema da pré-campanha de Wagner Costa (Patriota), vice-prefeito, candidato a suceder o atual prefeito, José Carlos Silva Pinto.

Foi Renato Bolsonaro quem anunciou, em dezembro passado, a liberação de verba federal para construção da ponte na cidade. Ele agradeceu na ocasião o esforço do vice-prefeito. Publicou o elogio nas redes sociais.

“Eu quero parabenizar você Wagner [Costa, vice-prefeito] pelo empenho, pela insistência, autonomia que o prefeito passou para você correr atrás. Agradecer ao presidente a liberdade que me deu também de poder estar intermediando, estar levando essas questões lá para o presidente. Não sou assessor, mas faço voluntariamente pelo bem de todos”, disse Renato.

Na quinta-feira (3), Renato ficou no palco junto a Jair Bolsonaro para lançar o projeto. O vice-prefeito, Wagner Costa, não estava. Mas pelo Whatsapp convocou a população para o evento. ​

Durante a estada no interior de São Paulo, Bolsonaro aproveitou para visitar a mãe, Olinda, em Eldorado. Com seu filho Eduardo, deputado federal, recebeu amigos de infância e parentes.

Por volta das 21h, Bolsonaro foi com Eduardo para o Boteco do Juca, do lado da casa da sua mãe, para encontrar sobrinhos, amigos e o irmão Renato. Fez questão de mostrar aos fotógrafos que bebia um refrigerante de guaraná. Outros na mesa tomavam cerveja.

O presidente dormiu na casa da mãe na noite de quinta. Na sexta-feira de manhã, Bolsonaro tinha uma visita agendada na escola do Sesi-Senai de Registro, cidade vizinha, onde encontraria Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo). O industrial, porém, não conseguiu decolar de São Paulo para Registro por conta de problemas meteorológicos. Sem Skaf, Bolsonaro cancelou sua participação no evento.

Em sua agenda extraoficial nesta sexta, o presidente fez uma homenagem ao capitão Alberto Mendes Jr., patrono da Polícia Militar, assassinado por integrantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), grupo armado de luta contra a ditadura militar. A VPR era comandada pelo ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, morto em maio de 1970 pelos militares.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Bolsonaro posou para fotos ao lado do retrato do policial em visita de cortesia ao comando da PM de Registro. O presidente visitou, também de surpresa, um posto de gasolina em Sete Barras – onde o militar foi morto. Seu filho Eduardo Bolsonaro postou em suas redes sociais o vídeo mostrando o presidente visitando de surpresa a cozinha do restaurante.

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