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Presidente de partido de Pablo Marçal diz ter ligação com PCC, mostra áudio; ouça

OUTRO LADO: Leonardo Avalanche diz não reconhecer sua própria voz na gravação e nega vínculo com facção

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Brasília

O presidente nacional do PRTB, Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, disse a um correligionário que mantém vínculos com integrantes da facção criminosa PCC, mostra áudio obtido pela Folha.

A gravação foi feita em fevereiro deste ano durante conversa com Thiago Brunelo, filho de um dos fundadores do partido. O diálogo entre os dois na época ocorreu em um contexto de disputa interna pela presidência do PRTB, após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter decretado intervenção na sigla.

O encontro foi pedido por Leonardo Avalanche e ocorreu em um restaurante de beira de estrada em São Paulo, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto. O político, que aparentava tentar mostrar influência sobre autoridades da República para conquistar o apoio de Brunelo, não sabia que era gravado.

Leonardo Avalanche (à direita na foto) posa para foto com Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo - Reprodução

"Não tem o Piauí, de [inaudível]? Não tem o chefe do PCC que está solto? Ele é a voz abaixo", disse Avalanche, referindo-se ao seu motorista. "Ele nunca mexeu com política. Hoje ligaram para o menino, né, lá dentro da cadeia e falaram: ‘Estou trabalhando pro Avalanche de motorista’."

O Piauí citado por Avalanche é o ex-chefe do PCC na favela de Paraisópolis (SP) Francisco Antonio Cesário da Silva. O motorista do político seria, na versão dele, um aliado do criminoso na facção.

O dirigente partidário ainda disse que foi o responsável pela soltura de André do Rap, outro chefe do PCC. Ele foi posto em liberdade por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2020.

"Eu sou o cara que soltou o André [do Rap]. A turma não sei se vai te contar isso. Esse é o meu trabalho, entendeu? A próxima, agora, a gente vai botar um lugar acima dele. Esse é o meu dia a dia [...] Eu faço um trabalho bem discreto", afirmou Leonardo, segundo o áudio.

A Folha confirmou a veracidade da gravação com duas pessoas que participaram do encontro e outras três que são do entorno do atual presidente do PRTB.

Avalanche disse à reportagem não reconhecer sua própria voz no áudio nem a veracidade da gravação.

"Não sei de quem são essas vozes, hoje com essas tecnologias artificiais esse tipo de pessoas pode criar vários conteúdos e dá [sic] vida a isso", afirmou, por meio de mensagem de texto.

O político negou ter vínculos com o PCC, como afirmado na gravação. "Meu Deus, que loucura é essa de André…como assim nunca nem vi [...] Não tenho motorista…sem lógica motorista ser voz de chefe…kk terceira fake news", escreveu.

Thiago Brunelo não quis se manifestar.

Leonardo Avalanche foi eleito presidente do PRTB em 25 de fevereiro. Ele é descrito por membros do partido como uma pessoa que promete influenciar decisões políticas e judiciais em Brasília, mas sem provar a relevância que diz ter.

No caso do PCC, há, além do áudio, outro episódio que liga o PRTB à facção criminosa.

No início da gestão de Avalanche, figurou por três dias como presidente do partido em São Paulo Tarcísio Escobar, que foi indiciado pela Polícia Civil do estado por associação para o tráfico e organização criminosa numa investigação envolvendo o PCC. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Escobar tem ainda duas condenações, por estelionato e furto, e cumpre decisão da Justiça para não se aproximar de sua ex-esposa, por denúncia de agressão.

Ele disse à Folha que não recebeu informações sobre o indiciamento e que o caso é uma perseguição contra ele, Pablo Marçal e Avalanche.

"Tenho certeza que eu não sou [vinculado ao PCC]. Essa perseguição ficou até ruim para minha imagem, minha família, para a igreja que eu frequento", disse.

Na gravação, Avalanche deu indícios de que já havia acertado com Pablo Marçal para ser o candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo. Sem citar o nome do ex-coach, o político o descreveu, com algumas imprecisões, como o "deputado federal ou estadual mais votado", com quase "300 mil votos" na eleição de 2022.

Marçal foi eleito deputado federal por São Paulo com mais de 243 mil votos. À época, ele era filiado ao Pros. O ex-coach não chegou a assumir o cargo porque o TSE indeferiu a candidatura dele por falhas no registro de campanha e na prestação de contas.

Avalanche afirmou que não acredita na vitória de Marçal. O importante da candidatura, segundo o dirigente, seria o poder de barganha que o partido teria em uma disputa de segundo turno.

"Nós temos chance de ganhar? Não. Mas é quando ele for para o segundo turno, entendeu?", disse. "Eu sei que não ganha, mas é o que a turma falou: põe ele e depois a gente senta e conversa."

A assessoria de Marçal não se manifestou sobre as declarações do presidente do PRTB.

No áudio, de mais de 50 minutos, Avalanche diz ainda que o empresário Eike Batista o busca no aeroporto quando viaja ao Rio de Janeiro e que teria induzido o ministro do STF Alexandre de Moraes, com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, a tomar decisões favoráveis a ele na presidência do TSE.

Moraes determinou intervenção no PRTB no último ano após ações na Justiça Eleitoral questionarem a legitimidade de uma assembleia que destituiu a direção nacional do partido.

Avalanche também disse que teria contato direto com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). E, no meio da conversa, o político fez uma ligação por vídeo para Jorge Periquito —ex-assessor de Pacheco, que é apresentado por Avalanche como chefe de gabinete do senador.

"Você pode ter a certeza que o grupo é firme e fiel, vamos sempre estar juntos aí", afirma Periquito a Thiago, em apoio à pretensão de Avalanche de assumir o controle do partido.

Jorge Periquito foi assessor de Rodrigo Pacheco até março de 2023, quando deixou o cargo para assumir uma diretoria na CBF. Pessoas próximas do senador afirmam que o ex-assessor usa a função que ocupou para vender ilusões em negociações políticas nos municípios de Minas Gerais, sem ter mais vínculos ou a confiança do presidente do Senado.

Periquito disse à Folha que conheceu virtualmente Avalanche por causa de outro político aliado do PRTB. Ele conta que atendeu à ligação de vídeo sem nunca ter visto o então candidato à presidência do partido.

"Recebo uma ligação desse senhor Avalanche, sem o conhecer pessoalmente, dizendo que estaria com apoiadores em uma reunião e se eu podia [...] confirmar que Minas Gerais estaria apoiando a chapa. Atendi o telefone e confirmei", afirmou.

As assessorias de Temer, do presidente do Senado e do ministro Alexandre de Moraes não quiseram comentar. A Folha não conseguiu contato com Eike Batista. O presidente do PRTB afirmou ainda à Folha que nunca esteve "com nenhuma autoridade dessas mencionadas".

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