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Algumas agências parisienses especializadas em pacotes turísticos para o Brasil observam uma queda na demanda de reservas para o Natal e o Ano-Novo, período de férias escolares na França, e o Carnaval de 2020.
Agentes com longa experiência na venda de estadias de 10 a 15 dias no país, seja em circuitos clássicos que incluem Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu e Salvador ou o Carnaval no Rio de Janeiro, disseram à reportagem da RFI que a procura pelo Brasil recuou em relação ao ano passado.
Ainda não há dados consolidados de reservas para o ano de 2019, mas alguns profissionais já conseguem avaliar uma tendência do mercado a quatro meses do fim do ano.
"Em princípio, nesta época, já temos muitos pedidos de reservas para o Brasil, mas atualmente a procura pelos circuitos tradicionais está parada", conta Ana Faria da Silva, da Terre Brésil. A agência trabalha com pacotes no mundo inteiro, e o Brasil é a segunda destinação mais importante para a empresa.
"No ano passado, faturamos 500 mil euros com clientes que compraram viagens para o Brasil em 2019. Para 2020, não vendemos praticamente nada", lamenta a agente de viagens.
"Fico com pena porque tenho muita afeição pelas pessoas com quem trabalho no Brasil e espero que essa situação evolua. Espero também que a comunicação da Embratur faça alguma coisa, porque se eles não fizerem nada, vai ser difícil", desabafa.
Uma estadia de 12 a 15 dias organizada pela Terre Brésil, incluindo voos, diárias de hotel e passeios turísticos, tem custo mínimo de 3.500 a 4.000 euros por pessoa, o que representa uma clientela de bom poder aquisitivo e bem informada.
Para Silva, não há dúvidas de que a retração na demanda está relacionada com a imagem negativa do governo de extrema-direita do presidente Jair Bolsonaro.
"O que aconteceu nos últimos dias em relação ao presidente francês, Emmanuel Macron, e à primeira-dama Brigitte não ajuda muito. Tenho clientes com passagens marcadas para o Rio de Janeiro, no dia 9 de setembro, que vieram à agência me perguntar se estariam em segurança no Brasil por serem franceses.
Eu expliquei a eles que a maioria da população brasileira não pensa como Bolsonaro, basta ver o movimento da hashtag #pardonbrigitte. Essa reação dos brasileiros mostrou que continuamos um povo amigo, apesar do atual presidente", constata Silva.
Amazônia desperta interesse
Por outro lado, desde que começaram os incêndios na Amazônia, a Terre Brésil nota um aumento de interesse por viagens na região norte, mas para o segundo semestre de 2020.
"Oferecemos um pacote para Santarém, com o barco Amazon Dream, que inclui navegação pelo rio Tapajós e Alter do Chão. Estou fazendo um orçamento para um senhor que me telefonou querendo alugar o barco para levar toda a família, filhos e netos, no período das festas de 2020", destaca.
Silva interpreta esse repentino aumento de interesse pela Amazônia pelo desejo dos franceses de ver a situação de perto, apesar de as opções de hospedagem estarem muito distantes das zonas afetadas pelas queimadas.
"Os incêndios provocaram uma conscientização sobre a necessidade de salvar a Amazônia. Mesmo se for no Pará ou em Manaus, os franceses querem conversar com a população local para ver de que maneira podem ajudar", acredita Silva.
Véronique Got-Lacaze, da agência Destino Mundo, uma marca do grupo Tabbagh Travel Service, também nota uma queda na demanda de viagens para o Brasil. "Tenho apenas quatro ou cinco projetos validados para o Carnaval, é bem menos do que na mesma época em anos anteriores", diz.
Ela atribui a retração à inflação no Brasil, que encareceu os pacotes para os europeus de 150 a 300 euros, e à instabilidade no setor aéreo doméstico. A falência da Avianca foi um golpe duro para essa agência, que vende pacotes de 10 dias para o Brasil entre 2.000 e 3.500 euros.
A Voyageurs du Monde, que trabalha com um público de maior poder aquisitivo e circuitos sob medida no Brasil, não observa até o momento um impacto negativo na demanda. No período de junho, julho e agosto de 2019, cujas vendas foram efetuadas no ano passado, houve até um aumento da procura pelo país como um todo. Ainda é cedo para analisar as projeções de 2020.
Segundo um especialista no aconselhamento de viagens para Brasil, Chile e Argentina, os clientes da Voyageurs du Monde que procuram a destinação Brasil têm uma ideia formada sobre o país. "A questão política não interfere na escolha daqueles que estão determinados a fazer a viagem", afirma.
Guillaume Chevalier, da agência Terres Lointaines, começou a trabalhar com o Brasil em abril deste ano. Ele tem algumas reservas para o Carnaval do ano que vem, mas afirma que ainda é muito cedo para avaliar o novo produto.
"Para nós, o importante foi identificarmos parceiros de confiança para trabalhar e atender às expectativas da nossa clientela."
É certo que a crise diplomática entre Bolsonaro e Macron não cai no melhor momento.
A diretora-executiva da BLTA (Associação Brasileira de Turismo de Luxo), Simone Scorsato, afirma haver especulação a respeito de uma eventual queda de interesse dos turistas estrangeiros pelo Brasil.
Segundo ela, a BLTA ainda não pôde monitorar o fluxo vindo do exterior nos primeiros nove meses de 2019. Mas a associação, que acaba de publicar o anuário relativo a 2017 e 2018, notou naquele período um aumento na frequência de turistas estrangeiros nos 38 hotéis associados, de 44% de turismo internacional para 56% de turismo nacional.
No mês de agosto, com a crise das queimadas na Amazônia, a BLTA recebeu muitos emails de pessoas no exterior perguntando sobre a situação na região, se precavendo para poder informar seus clientes. "Mas não houve cancelamentos", garante Scorsato.
Para tranquilizar os parceiros internacionais, a BLTA explicou que os maiores focos de incêndio estavam localizados em Rondônia e no Acre, distantes dos hotéis associados à entidade, mais próximos de Manaus e de Mato Grosso.
A Europa representa o primeiro mercado mundial de turistas estrangeiros para o Brasil, à frente dos Estados Unidos. Entre os europeus, a França é importantíssima para o país, lembra Scorsato, pois envia ao território brasileiro o segundo maior volume de turistas estrangeiros, depois do Reino Unido.
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