Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga

Conheça o sebo mais antigo de São Paulo

Aos 72 anos, a Livraria Calil aumenta as vendas para o exterior e se globaliza

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São Paulo

Quem entra na Livraria Calil, o mais antigo sebo de São Paulo, com 72 anos de existência, se depara com um espaço aconchegante e sossegado, propício para bibliófilos. Mas, apesar dessa aparente calmaria, o lugar vive um momento de aquecimento dos negócios.

Especializada em livros usados, esgotados e raros, ela tem ampliado seus clientes no mercado externo e mostrado excelente desempenho nas vendas online.

Localizada na rua Barão de Itapetininga, 88, no 9º andar, tem apenas dois funcionários, a proprietária, Maristela Calil Atallah e o filho Murilo, que recebem os clientes com toda atenção e cuidam de um acervo com cerca de 450 mil livros, sendo que 62 mil estão no catálogo da Estante Virtual. Na pandemia, diz Maristela, foi a livraria que mais vendeu livros pela internet.

Livraria Calil
Maristela Atallah na recepção da livraria Calil - Vicente Vilardaga

A Calil foi fundada pelo pai de Maristela, Libano Calil Atallah, que morreu em 1993. Seu primeiro endereço foi na rua Venceslau Brás e, anos depois, a livraria se mudou para a avenida Rangel Pestana.

Em 1968, percebendo a ebulição do centro novo, onde havia dezenas de livrarias e sebos e a população mais intelectualizada circulava, ele instalou uma segunda loja na galeria do térreo da rua Barão de Itapetininga, 88. Um novo passo foi dado em 1976, quando deixou a sede na avenida Rangel Pestana e transferiu o acervo para o lugar onde está atualmente. A loja do térreo foi fechada em 1983.

"Meu pai era um grande admirador de livros e gostava de ler desde pequeno. Falava português, inglês, francês e árabe e estava sempre com um livro na mão", lembra Maristela. "Lá pelos 25 anos, ele começou a pensar naturalmente em formar uma livraria."

Maristela diz que o mercado mudou muito desde os tempos de seu pai, mas a Calil soube se adaptar. "Hoje você não pode falar que vende livro só no Brasil. Com a globalização, ele pode ir para qualquer parte do mundo." Por isso, para quem trabalha com livros raros, a definição de preços não deve levar em conta só o mercado interno, mas a competição internacional.

Livraria Calil
Sebo mais antigo de São Paulo tem acervo de 450 mil livros - Vicente Vilardaga

Segundo ela, há duas semanas foi vendido um pacote grande de livros para a Hungria – o comprador está fazendo um estudo sobre os libaneses no Brasil. Na semana passada, a Calil mandou vários livros para a Itália e para a França. Nesta semana foram dois pacotes para Portugal.

A Calil é especializada em assuntos brasileiros e ciências humanas e não vende livros de ciências exatas e biomédicas. No caso de raridades, porém, muda-se a regra e não se descartam antiguidades de matemática ou medicina.

"Fui para a França e lá os livreiros conhecem a Calil", afirma. "Nossa livraria não é de balcão, é personalizada. A gente gosta de atender o cliente com um trato pessoal."

Um dos segredos da Calil é não ter pressa de vender. Semanalmente, Maristela e Murilo visitam e avaliam bibliotecas em busca de bons títulos. Mas o tempo entre a aquisição da biblioteca e a venda dos livros pode ser de décadas.

Livraria Calil
Maristela e Murilo: livraria está entrando na terceira geração - Vicente Vilardaga

Um exemplo é a compra, há 28 anos, da biblioteca do político Luis Arrobas Martins, secretário da Fazenda do governador Roberto de Abreu Sodré. Dois terços da biblioteca ainda estão guardados em um contêiner. "Já vendi livro dele por US$ 30 mil, US$ 40 mil", diz. "Não trabalho com giro, eu invisto em livro. Só preciso encontrar o cliente certo para vender a obra no momento oportuno."

A Calil tem muitas raridades. Entre elas estão, por exemplo, um "Índice de Livros Proibidos" pela Igreja Católica de 1761, publicado pelo papa Benedito XIV, que veio da coleção Nicolau Duarte da Silva, adquirida em 1969. Há também um livro de Filosofia de 1554 em perfeito estado.

Do Brasil, Maristela destaca uma 2ª edição de "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus, com dedicatória e uma 1ª edição de "Os Sertões", de Euclides da Cunha, de 1902. Há também uma edição comemorativa do centenário da independência de "Uniformes do Exército Brasileiro", de José Wasth Rodrigues, ilustrado com aquarelas e publicado em 1922. O que não falta na Calil são curiosidades e livros raros e interessantes.

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